[ 04 de setembro, sexta-feira ]
— Aqui. Sanduíche de peito de peru, alface e maionese.
Praticamente jogo o prato em cima do Keith.
— Nossa, isso é jeito de tratar um amigo doente? Vai se arrepender quando a febre me matar.
Reviro os olhos. Keith amanheceu gripado e não foi trabalhar, o que significa que estou presa com quatro bebês. Por que homens são tão dramáticos? Até parece que ele quebrou uma perna. Ele saiu da cama, se aninhou no sofá com um cobertor e só se levantou para ir ao banheiro. Tenho certeza que ele não está tão mal quanto faz parecer.
— Hum, Ari... Eu não gosto de reclamar, mas essa alface está preta nas pontas. Pode trocar?
— Tipo, plantar um pé de alface novo? Não.
— É só arrancar as pontinhas, fácil.
— Então, por que não faz isso?
— Porque estou doente e fraco.
Keith me entrega o prato e se joga de lado, o cobertor apertado ao redor do corpo.
— Não tenho tempo pra isso, Keith. Tenho uma pilha de roupas pra lavar, compras para fazer e arranjar um jeito de fazer aquele gato maluco comer a ração barata. Se não quiser comer o sanduíche, ótimo, eu como.
— Quero um chá e um remédio para dor de cabeça — choraminga. — Pode passar vick vaporub no meu peito?
— Por que não passa sozinho? Você tem mãos.
Keith responde com um choramingo esquisito e dramático. Bufo.
— Francamente, quando foi que pari você? — jogo o sanduíche nele outra vez.
Abandono Keith com seu drama e vou em busca da maleta de primeiros socorros. Eu poderia fazê-lo desmaiar batendo bem forte com a maleta na cabeça dele — seria excelente. Quando volto para a sala, ele já devorou o sanduíche. Keith tira a camiseta de político que está usando, então pego um pouco de vick e começo a esfregar em seu peito.
— Isso é estranho — digo.
— Tente não ficar excitada.
— Você quase não tem pelos, é como uma criança de doze anos ou um peixe.
— Que tipo de peixe?
— Não sei. Uma tilápia.
— Qual é, eu estou mais pra um tubarão.
— Tubarões não são peixes.
— É claro que são!
— Não, tubarões são tubarões e peixes são peixes.
— Tudo que vive no mar é peixe.
— Errado. De qualquer forma, você é pequeno e fofo como um peixe betta.
— Peixe beta? Eu sou um alfa, muito obrigado.
— Betta é a espécie do peixe, bobão. E você não é um alfa. Leigh é um alfa.
— Só porque eu deixo ele ser o ativo muitas vezes, não significa que ele seja um alfa.
Solto o ar pela boca. Keith e sua total falta de filtro. Não sei porque nossas conversas tomam esses rumos estranhos; como fomos de tubarões para Leigh sendo o ativo? Não quero mesmo imaginar meus amigos fazendo sexo, já basta ouvi-los. Ouço choro pela babá eletrônica, então guardo o vick vaporub na maleta e me levanto.