[ 08 de março, domingo ]
Temos dois bebês chutando loucamente agora, não sei o porquê. Ao menos suponho que sejam dois, já que os golpes vêm de lugares diferentes — só espero que não estejam batendo um no outro. Levando em consideração a personalidade do Castiel e a minha, não me surpreenderia se eles fossem briguentos. Queria que o terceiro chutasse também, só para eu ter certeza de que está bem. Eu morreria se qualquer uma das minhas salamandrinhas não estivesse bem.
Enfim, o agito repentino dos bebês me transformou numa atração de circo. Estou largada no sofá do Leigh, a barriga exposta, enquanto todos ao meu redor se empolgam com cada novo chute. Castiel e Ariana são os mais felizes, ouso dizer. Não me incomodo com tudo isso porque também me sinto extasiada, e porque é bom ver os sorrisos genuínos nos rostos do Leigh e do Keith. É bom saber que meus filhos serão amados por todas essas pessoas, e é bom saber que não estamos sozinhos nessa empreitada.
— Não é fofo? Eles são tão agressivos quanto a mamãe e o papai — Keith faz um bico. — E o terceiro é doce e comportado como o tio Keith.
— Não seja palhaço, você não tem nenhum grau de parentesco com nenhum de nós para que algum deles tenha puxado pra você — Castiel rebate.
— É nesse momento que tiro a máscara e revelo que sou, na verdade, seu tio avô, Daniel Leonardo.
— Qual é, Frey, você prometeu que cancelaria o canal mexicano.
Leigh encolhe os ombros. Esse é o novo passatempo de casal deprimido deles; assistir novela mexicana e comer sorvete direto do pote. O canal mexicano não oferece legendas ou dublagem, então Keith tem aprendido algumas palavras aleatórias que ninguém sabe o que significa. Pelo menos, o contexto das teledramaturgias são compreensíveis o suficiente.
Quando os mini pugilistas finalmente sossegam, me ofereço para ajudar o Leigh com os petiscos. O resto fica nos esperando na sala. Entrelaço meu braço ao do meu amigo e anfitrião.
— Que pena que não puderam ir visitar sua mãe hoje — digo. — Carros sempre quebram quando não devem.
— Não faz mal. Falei com ela pelo telefone e está tudo bem, uma antiga vizinha fará uma visita que durará o dia todo. Fico tranquilo por ela ter companhia. Além do mais, teria perdido todos os chutes adoráveis se tivesse ido — sorri. — Deve ser uma coisa de outro mundo sentí-los aí dentro.
— É meio estranho pensar que tem uma galera no meu útero, mas é incrível — acaricio minha barriga. — Exceto pelas partes ruins, tipo levantar duas ou três vezes na noite para fazer xixi.
— E está assustada com o parto?
— Procuro não pensar muito nisso. Só espero que seja bem rápido e que não haja nenhum imprevisto que impeça o Castiel de comparecer.
Leigh me pede para pegar a tábua de carnes enquanto ele pega queijo, azeitonas, salame e umas uvas para montar uma tábua de frios. Sempre chique, nosso pequeno Leigh. Observo enquanto ele corta tudo e arruma elegantemente.
— O que acha de nos sentarmos na mesa do jardim? Nada harmoniza mais com uma tábua de frios que um bom vinho e um belo pôr do Sol.
— Bom, eu fico apenas com os frios e o pôr do Sol — sorrio.
— Não se preocupe, Ari. Para que não se sinta de fora, terá suco de uva integral para você.
Ele até serve o suco numa taça, para que eu me sinta totalmente incluída. É muito gentil, mesmo que seja impossível me sentir excluída com todo mundo alisando minha barriga e tentando fazer os bebês chutarem novamente. Leigh convida a todos para jantar, mas Castiel e eu recusamos. Acabamos para eles de dentro do carro. Solto um suspiro relaxado quando saímos com o carro.
— Cansada? — Castiel sorri, virando o volante.
— Um pouco — fecho os olhos por um instante. — Sabe, estava lembrando de quando tivemos que cuidar daquele ovo, lembra?
— Como poderia esquecer? Foi por causa desse trabalho que começamos a ficar juntos.
— Na época você disse que pulamos a parte boa, que é fazer o neném — rio. — Acho que levamos muito a sério.
— Eu não brinco em serviço, gatinha. Talvez devamos pensar em vasectomia.
— Acho que é muito cedo para isso. E se quisermos ter outro filho daqui uns anos?
— E se forem trigêmeos de novo?
— Pouco provável — abano a mão.
— Pensa mesmo na possibilidade de termos mais filhos?
— Só acho que é cedo demais para tomar uma decisão drástica como uma vasectomia. Pensaremos nisso daqui uns dez anos. Até lá, tentaremos não cometer mais deslizes.
— Greene, se não pretende sentar em mim essa noite, não comece um papo sobre sexo.
Solto uma gargalhada.
A primeira coisa que faço ao chegar em casa é tirar os sapatos e afrouxar a calça de moletom — os jeans não me servem mais. Também tiro a camiseta porque estou suando, ficando apenas de top, e amarro o cabelo num coque que fica bem firme, apesar da ausência de elástico, porque meu cabelo está sujo.
— Então, ainda pretende trancar o curso esse mês? — Castiel pergunta, saindo do quarto sem a camiseta também. Seu torso torneado contrasta muito com o meu.
— Não. Vou esperar até minha barriga começar a ficar anormalmente grande.
Vou para a cozinha, em busca de água gelada.
— E como tem sido as coisas no campus?
— Bom, muitas pessoas sabem que terei trigêmeos, então sou parada com certa frequência por algum curioso. Sou a mais exótica dentre as gestantes da faculdade, virei atração.
Castiel ri e beija minha cabeça.
— Deve estar odiando.
Dou de ombros com indiferença.
— Já me acostumei. Acha que não vão nos parar a cada cinco minutos nas ruas, quando andarmos por aí com aqueles carrinhos enormes? Vamos ficar conhecidos como " ah, sei, os que têm trigêmeos ".
— Fale por você. Eu serei conhecido como o vocalista gostoso da Crowstorm.
Torço os lábios. Esqueci por um momento que meu marido também chamará atenção. Já chama, aliás. Onde fui me meter? Logo eu, que gosto de passar despercebida.
