[ 04 de agosto, terça-feira ]
— Estou pensando em chamar a Amelie pra sair.
Tento não parecer afetado. Amelie tem sido bem tranquila, mas tenho medo que ela se aproxime demais do meu grupo social e acabe me ferrando. Depois da Debrah e do Nathaniel, é difícil não ficar paranóico. E não se trata mais só de mim e da Ariane, mas dos meus filhos também. Não quero que nada arruine minha família.
— Por que faria isso? — pergunto.
— Porque ela é gata e legal? — Jake responde como se fosse óbvio. — A gente conversou algumas vezes durante a semana, ela é maneira.
— É mesmo — Ariane concorda, se servindo de uma porção enorme de salada de alface.
Ela tem estado um pouco neurótica com o peso nos últimos dias, o que me deixa chateado. Quer dizer, ela é linda. E daí que não pesa como antes? A mulher pariu a porra de três crianças há apenas dois meses, fala sério. Ela devia se dar algum crédito.
— Aliás, Chase, por que não me contou que se conheciam?
— Como assim? — minha esposa franze o cenho pra mim. Que droga. — De onde conhece a Amelie?
— Da escola — respondo com indiferença, mordendo minha pizza.
— Oh? Ela estudou com a gente?
— Sim.
— Hum, não me lembro dela. Era da sua sala?
— Não.
— Eram amigos?
— É, claro. Tipo isso.
— Por que nunca me falou dela, então?
— Olha, se vai me interrogar, exijo a presença de um advogado.
Ariane me olha de um jeito estranho, e caímos num silêncio meio constrangedor. Tá, não sei mentir. Ou melhor, não quero mentir pra ela. Também não quero falar a verdade. Com todo o estresse da maternidade, sei muito bem que ela poderia enfiar um garfo na minha mão se soubesse o quão " próximos " Amelie e eu costumávamos ser.
Sejamos francos, Ariane faria isso mesmo se não estivesse super estressada. Ela não é a pessoa mais dócil do mundo, embora seja um docinho.
— Enfim — Jake retoma o assunto. — Acham que eu tenho alguma chance? Eu capitei alguns sinais de que ela pode estar interessada.
— Por exemplo? — Ariane pergunta.
— Ela roça os dedos nos meus sempre que me entrega o café, também encosta nossos joelhos quando se senta ao meu lado. Ari, você é mulher, certo?
— ... Não.
— Fala sério — ele estala a língua. — Do ponto de vista feminino, acha que a Amelie está a fim de mim?
— Parece que sim. Posso perguntar pra ela, se quiser.
— Não, daria muito na cara. Não me leve a mal, eu te adoro, mas você não é muito sutil.
— Está me chamando de incompetente?!
— Calminha — interfiro.
— Você é muito competente — Jake diz com toda a sinceridade que consegue reunir. — Só prefiro cuidar desse assunto sozinho. Não estou doente de paixão, posso suportar um fora.
— Amelie seria idiota se te desse um fora, você é uma graça — ela sorri. — Vou pegar meu celular e já volto. Preciso ligar pro Leigh e ver se está tudo bem com as crianças.
Assinto. Leigh e Keith quiseram levar os bebês para dar uma volta noturna no parque. Ficamos hesitantes a princípio, mas demos permissão. Eles são os padrinhos, afinal. Não por escolha minha, é claro.
— Amelie me contou que vocês costumavam ser bem próximos na escola — Jake diz, assim que Ariane sai.
— Eu não diria isso. Não eramos melhores amigos nem nada.
— Vai continuar se fazendo de bobo, é? Estamos sozinhos, pode falar a verdade. Por que não contou que já deu uns pegas na estagiária gata?
Quase engasgo com a cerveja.
— Ela te contou isso?!
— Sim. Eu perguntei se eram amigos e ela disse " não exatamente ", aí eu perguntei " como assim? ", e ela disse que vocês tinham uma parada casual.
— Sei. Que merda — passo a mão no rosto, frustrado. — É, nós dormimos juntos algumas vezes, mas não quero que isso se espalhe.
— Relaxa, cara, não sou fofoqueiro.
— Minha preocupação é a Amelie. E se essa maluca tentar estragar meu relacionamento?
— Fala sério — ele ri. — Vocês transavam há muito tempo, quando você era solteiro. Como isso arruinaria seu casamento?
— Transei com a Debrah uma vez só e ela conseguiu fazer a Ariane terminar comigo.
— Tá, mas não acho que a Amelie seja infantil assim. Ela não parece estar envenenando a Ari.
— É, o Nathaniel também não parecia.
— Pô, assim fica difícil — Jake encolhe os ombros. — Mas ainda acho que ela não é nenhuma ameaça. Fica tranquilo. O Keith também acha ela legal, isso deve ser um bom sinal.
— Por que seria?
— Porque ele é igual cachorro, consegue sentir o cheiro de más intenções nas pessoas. Se ele tá de boa, então a Amelie não está tramando nada.
Ariane retorna nesse momento e nós nos calamos. O argumento do Keith não me convence.
— Eles estão bem — informa. — Voltarão pra casa daqui a pouco.
— Ótimo. Não confio no Keith pra tomar conta dos meus filhos por mais de meia hora.
— Então, sobre a Amelie — ela diz, e lanço um olhar de aviso pro Jake. — Eu dou a maior força. Vocês formariam um casal bonito.
— Bom saber. Vou manter vocês atualizados.
Serei um amigo ruim se torcer pra Amelie rejeitar o Jake? Provavelmente sim. Mas sou um bom marido e estou me esforçando nesse lance de pai, então posso me dar ao luxo de pecar um pouco. Ou talvez deva dar um super apoio pros dois. Se a Amelie se apaixonar pelo Jake, ela não vai sentir nenhum impulso de meter o nariz onde não é chamada.
É, parece um bom plano.