[ 21 de janeiro, sábado ]
A noite está chuvosa, então, em vez de aceitar o convite do Keith para comer uma pizza na casa dele com Leigh e os meninos, resolvemos diminuir as luzes, botar algo para assistir no notebook e nos aconchegar debaixo das cobertas. Estou sentada, as costas apoiadas na cabeceira da cama, e Castiel está deitado com um braço sobre meu quadril e a cabeça, deitada na minha barriga. Estamos vendo Clube dos Cinco.
— É incrível como esse cara faz a guria chorar o filme todo, e ainda assim fica com ela. Qual a lógica?
— Ah, bad boys são charmosos.
— Eu sou seu bad boy? — ele olha para mim.
— Desse ângulo, parece mais um soft boy, com esses olhos grandes.
— E o que seria um soft boy?
— Leigh e Lysandre, por exemplo. Talvez o Keith.
Castiel se apóia num cotovelo.
— Não acredito que está me colocando na mesma categoria que eles.
— Só quando te olho por cima.
— Acho melhor você deitar na minha barriga — diz, voltando para a antiga posição enquanto rio. Passamos mais alguns minutos em silêncio, antes de ele voltar a falar: — Acha que eles podem me ouvir?
— Quem?
— Os bebês.
— Provavelmente não. Eles nem parecem completamente humanos ainda, são como salamandrinhas.
— Afe, Greene, você faz parecer esquisito. Quando eles serão capazes de me escutar?
— A partir do quinto mês, acho. Mas a doutora disse que podem começar a chutar a partir do terceiro — sorrio.
— Eu mal posso esperar — Castiel levanta minha blusa até abaixo dos seios e acaricia minha pele exposta. — Acho que nunca estive tão ansioso para alguma coisa. Quer dizer, é assustador e estamos fodidos, mas é de um jeito bom.
— Deus de ouça — suspiro. — Acho que vou trancar a faculdade em março.
— Por que?
— Porque, com trigêmeos, não vou demorar para parecer um balão ambulante. Não quero perambular pelo campus com todo mundo me olhando.
— Greene, tenho certeza de que não é a única grávida na faculdade.
— Não, mas aposto que sou a única grávida de três.
— Foi mal. Isso não teria acontecido se eu não fosse super jovial, saudável, másculo e fértil — ele sorri de lado. — Por que não muda o curso de presencial para EAD? Assim não precisará parar.
— Como se faz fotografia a distância?
— Você fotografou para a iD sem fazer nenhum curso. Acho que dará conta.
— Com três crianças berrando, sujando a fralda e querendo sugar meu peito o tempo todo? Não sei, não. Acho que não terei cabeça para mais nada.
— Faça o que achar melhor, garotinha, mas saiba que tenho total fé na sua capacidade — ele volta a se apoiar num cotovelo e beija minha bochecha. — Como tem se sentido?
— Fisicamente, bem. Mentalmente, muito preocupada. Tipo, preocupada pra cacete. Sabe quanto dinheiro vamos gastar nos próximos anos? E agora precisaremos de outro lugar para morar, mais do que nunca. Imagino o quão exaustos ficaremos e me pergunto se eles sentirão muitas cólicas, ou se vão acordar muitas vezes durante a noite. Talvez eu não produza leite o bastante ou produza leite demais. Vamos dar chupetas? Doces? E se eles se odiarem? Já parou para pensar que teremos três adolescentes de uma vez só dentro de casa?
— Amor, eles nem nasceram, por que está pensando em adolescência? — Castiel se senta. — Pense no lado bom da coisa toda.
— E qual seria?
— Seremos os pais mais descolados da creche, por exemplo. Só teremos trinta e seis anos quando eles tiverem dezessete. Não precisaremos mais escolher um único nome, as possibilidades aumentaram.
— E quanto ao resto?
— Huh... Se começar a produzir leite demais, eu ajudo a consumir. Posso colocar no café, vai ser bom para economizar.
Rio e empurro seu ombro.
— Não seja idiota, não vai beber meu leite.
— Ah, mas você bebe o meu.
Solto uma gargalhada. Castiel sorri.
— Fica fria, Greene, deixe para se preocupar depois — ele passa um braço ao redor dos meus ombros. — Eu prometo que vou me esforçar pra caralho para que eles, você e eu tenhamos uma vida incrível. Confie em mim, ok?
— Eu confio — garanto. — Mais que tudo.
— Ótimo, então substitua as preocupações por pensamentos positivos.
— Sim, papai.
— Seria mais sexy se eu não fosse mesmo um papai — balança a cabeça. — Olha, sei que não podem me ouvir ainda, mas... Acha que seria estranho se eu cantasse um pouco pra eles? Sabe, para já irem se acostumando com a minha voz.
Meu coração se enche de amor até transbordar, olhando para a sua expressão inocente e meio tímida. Acho que esse é mais um item da lista de coisas boas: Castiel sendo extremamente adorável. Tenho certeza de que meus olhos estão brilhando nesse momento.
— Não — sorrio. — Acho que seria ótimo.
— Legal.
Castiel pausa o filme e afasta o notebook, então volta a se deitar com a cabeça em minha barriga. Acaricio seu cabelo enquanto observo — deram uma aparada no comprimento hoje.
— Oi — ele começa. — Vocês não me conhecem e não podem me ouvir, porque sua mãe disse que ainda são salamandras, mas eu sou seu pai e estou numa banda, então aí vai uma musiquinha maneira pra vocês. Espero que gostem. Mas tudo bem se não gostarem, não é a mim que vão chutar mesmo. Aí vai.
Então, ele começa a cantar Love Me Tender baixinho, com sua voz rouca e suave. Levo apenas alguns segundos para começar a chorar copiosamente. Castiel interrompe a música.
— O que foi, meu Deus? Por que está chorando?
— Eu não sei — soluço. — Continue a cantar.
— Certo. Quer um copo d'água? Um suquinho de maracujá?
— Suco de maracujá seria legal — limpo o rosto com as costas das mãos. — Não, pensando bem, quero suco de manga. Natural.
— Não temos manga, Greene, acho que nem está na época.
— Bom, você perguntou se eu queria algo! É vontade de grávida, seus filhos vão nascer com cara de fruta.
— São quase onze horas de um sábado — ele argumenta, mas me mantenho impassível. Castiel grunhe e rola para fora da cama. — Chutem bastante a mamãe, sapateiem na bexiga dela.
Atiro meu travesseiro nele, que desvia.
— Anda, você vem comigo.
— Por que?!
— Porque sim. Não vou te deixar sozinha a essa hora e com esse clima, vai que a energia acaba.
— Já estou de pijama.
— E daí? Calce uns sapatos, vista um casaco e vamos. Com sorte, algo mais acessível te assanha.
— Tá, mas você dirige.
— Queria eu estar grávido — ele resmunga. — Como os cavalos marinhos fazem.
— Sou eu quem vai parir, do que está reclamando?
— Como é que partimos de um momento fofo em família para uma caçada à manga na calada da noite? — Castiel pergunta com certa indignação enquanto saímos de casa. — E qual é a da troca de humor super rápida?
Dou de ombros, comprimindo os lábios como quem diz " agora aguenta " e seguimos nosso caminho.