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[ 15 de fevereiro, quarta-feira ]





  Keith fica caladão durante todo o tempo que passamos com os produtores, trabalhando numa música nova, falando apenas o que é estritamente necessário. Ele tem estado quieto desde que o pai do Leigh faleceu e, por incrível que pareça, isso está me deixando maluco. Ele não parece ele mesmo! Por mais que o jeito de ser do Keith me deixe cansado de vez em quando, ainda é melhor que vê-lo assim. Duas semanas e acho que só o vi sorrir três vezes — e nem foram sorrisos sinceros.

  Ele sai da sala primeiro que todo mundo quando decidimos fazer uma pausa para comer. Espero um tempinho antes de segui-lo porque não quero que pensem que o estou seguindo, embora esteja. O encontro sentado no chão, ao lado da máquina de bebidas, sozinho. Ele digita algo no celular, depois guarda o aparelho no bolso e encosta a cabeça na parede, suspirando alto. Me sento ao seu lado.

  — E aí — digo.

  — E aí...

  — Quanto tempo mais vai continuar assim? — vou direto ao assunto. — Já tem dezoito dias, Keith. Não pense que sinto falta nem nada do tipo, mas faz duas semanas que você não pula no meu pescoço ou faz algum comentário obsceno sobre seu namorado.

  — O que quer dizer? — ele olha para mim, a voz monótona.

  — Quero dizer que quero que volte a ser tão irritante quanto antes, porque ficar se arrastando por aí não combina contigo.

  — Como quer que eu fique feliz quando o Leigh está tão mal?

  — Não é possível que ele esteja tão mal assim. Ele parecia normal quando fomos prestar condolências.

  — Leigh não gosta que se preocupem com ele, é por isso — suspira. — A verdade é que ele está sofrendo, se sentindo culpado. Eu não sei o que fazer, nada parece animá-lo. Isso me deixa arrasado.

  — Tem que deixar o cara passar pelo luto, Keith, e tem que voltar a agir como sempre. Seu jeito costuma animar as pessoas, por alguma razão. Não pode acabar com a tristeza do Leigh, mas pode diminuí-la um pouco com suas palhaçadas. É disso que ele precisa.

  — Não tenho ânimo para palhaçada nenhuma, Castiel — suspira outra vez. — Você precisa ver os olhos dele, estão sempre chorosos. Não suporto vê-lo assim.

  — O pai dele morreu, é óbvio que ele está mal, mas vai passar. Dê um tempo. Duas semanas é muito pouco para superar.

  Keith não responde, só volta a olhar pro nada.

  — Tá, você está me obrigando a tomar medidas drásticas — digo entredentes.

  Ele me lança um olhar confuso. Respiro fundo algumas vezes antes de, hesitantemente, passar um braço por seus ombros e puxá-lo para um abraço. Então, de repente, estou sentado no corredor com a cabeça loira do Keith no meu peito. Comprimo os lábios. A que ponto chegamos, meu Deus?

  — O que está fazendo? — ele pergunta, e acho que há um tom risonho em sua voz.

  — Estou confortando você. Por favor, não diga nada, isso já está bastante constrangedor.

  — Se preocupa mesmo comigo, huh?

  — Calado.

  — Então... Batimentos cardíacos. Maneiro. Confesso que me fez sorrir um pouco. É muito fofo e tal.

  — Não é? — sorrio. — Estou felizão.

  — É ótimo que um de nós esteja.

  Seu aperto fica mais firme ao meu redor e ele se aconchega mais contra mim. Argh, que esquisito. Dou alguns tapinhas em sua costela. Jake passa por nós em silêncio, mas manda um sorrisinho de gozação. Ficamos em silêncio por um bom tempo. Tento me esquivar quando toda essa proximidade começa a ficar demais para mim, mas noto que Keith dormiu, então fico onde estou. Que merda, estou amolecendo. Só espero que ele não demore para acordar, porque minha bunda está começando a doer.




Esse ficou beeeem curtinho, mas é meu aniversário e não queria deixar passar em branco por aqui! Só queria dizer que adoro postar histórias aqui e ver que estão gostando, fico muito feliz. Muito obrigada por isso! Apesar de não nos conhecermos, vocês fazem parte da minha vida ❤️

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