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[ 30 de setembro, quinta-feira ]




  — Sabe, estive pensando e acho que vou sair do emprego — anuncio enquanto desfaço minha mala. Chegamos de viagem há algumas horas.

  — O que? Mas por que? — Castiel questiona com espanto, dando uma pausa no empilhamento de camisetas que está fazendo sobre a cama.

  — É coisa demais pra minha cabeça. Não posso ficar na correria da empresa, cuidar de três bebês, lavar e passar roupa... Não dá. Preciso de um tempo para mim também.

  — Só tem pouco mais de um mês, Greene, por que não insiste mais um pouco?

  — Estive pensando nisso há uns dias — mordisco o lábio nervosamente. — Estou exausta, fora outros fatores. Não posso levar os três para a empresa pra sempre. Tenho que ficar parando para amamentar, trocar fraldas, fazer dormir... Até quando acha que vão aguentar isso? Os outros funcionários vão acabar perdendo a paciência, até o próprio senhor Yang, e não é obrigação de nenhum deles me ajudar com as crianças.

  — Podemos arranjar uma babá ou duas, é simples.

  — Não! Não quero babás até que possam falar. Ponto.

  — Por que não?

  — Porque podem fazer alguma maldade e nenhum deles vai poder nos contar — pego minhas roupas e levo para o armário. — Além do mais, sabe o quanto cobram para cuidar de crianças? Ainda mais três bebês de colo. Não podemos gastar essa grana.

  — Mas ter dois salários nos ajuda bastante, Greene — ele insiste. Castiel segura minha mão e me leva até a cama, onde nos sentamos lado a lado. — Você sempre quis trabalhar com fotografia e é perfeito! Assim podemos passar mais tempo juntos, não vivemos nos desencontrando como antes.

  — Eu sei, é ótimo, mas não aguento. Talvez quando as crianças estiverem maiores.

  — Qual é, Greene, pense melhor. Podemos não ter outra oportunidade de trabalhar juntos.

  — Castiel, a gente pode continuar passando mais tempo juntos — seguro suas mãos. — Posso ir te ver na empresa ou sei lá, mas não dá para trabalhar. Veja as minhas olheiras! Não durmo por oito horas seguidas há quatro meses.

  — E a última semana?

  — Acha que uma semana de sono regulado compensa quatro meses? — arqueio as sobrancelhas. — A pediatra disse que isso pode durar por uns seis meses. Tenho sobrevivido com cinco horas de sono, no máximo, e não posso tomar mais que duas xícaras de café por dia por causa da amamentação. Vou acabar morrendo!

  — Eu também acordo toda madrugada, Greene.

  — É, mas você pode ingerir quanta cafeína quiser, e não fica com os bebês o tempo todo enquanto trabalha. E os bicos dos seus peitos não estão machucados pela sucção constante.

  — Não é justo, eu não produzo leite! Não do modo convencional, pelo menos.

  Balanço a cabeça, rindo.

  — Já me decidi. Vou sair do emprego.

  — Bom, tá legal — ele se levanta e volta a desfazer a mala. — Você é quem sabe.

                                    •

  — Vai mesmo sair do emprego? O Joshua teve que quebrar as duas pernas para você conseguir ele!

  Decidimos comer hambúrgueres na janta, então Castiel botou as crianças no carro e foi buscar. Keith, Leigh e eu estamos sentados no chão da sala enquanto esperamos. O plano era comer no jardim, mas está frio.

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