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[ 07 de novembro, segunda-feira ]



Avisto a Megan enquanto estaciono a moto do outro lado da rua. Ela não está sentada na escadaria, como a maioria dos funcionários ou transeuntes fazem, e, sim, na calçada. Novamente há um cigarro entre seus dedos e sua expressão é tristonha. Eu realmente considero fingir que não a vi e ir direto para dentro, mas minha consciência não permite. Merda, talvez eu seja um cara legal. É que a Megan é gente boa e não me irrita, como a maioria das pessoas, então posso pelo menos perguntar qual é o problema.

Seu olhar está perdido, focado no horizonte, então minha presença não é notada até eu parar ao lado dela.

— Bom dia — cumprimento.

Megan toma um pequeno susto, então passa a mão pelo rosto.

— Ah, oi. Bom dia.

— Eu ia perguntar se está tudo bem, mas está na cara que não. Quer me contar o que aconteceu?

— Nada, só estou pensando no meu irmão.

— Teve mais notícias?

Ela balança a cabeça e dá uma tragada no cigarro. Não sei exatamente o que Megan está sentindo, já que não tenho irmãos, mas posso imaginar. Eu ficaria arrasado se algo desse tipo acontecesse com meus pais ou com a Ariane; eles são as pessoas que eu mais amo no mundo, ainda que aquela garotinha cabeça dura insista em duvidar de vez em quando. É por essa razão, por imaginar seu sofrimento, que decido ignorar o horário e me sentar ao lado dela um pouco.

— Tem outro cigarro? — pergunto.

Megan assente e me oferece o maço e o isqueiro. Dessa vez o fogo acende sem grandes dificuldades.

— Se gosta de fumar, por que não carrega seus próprios cigarros por aí?

— Eu só fumo quando estou muito estressado ou socialmente, o que não acontece tanto assim. Guardei um maço na mesa de cabeceira há meses e está praticamente intocado, apesar de todos os problemas.

— Quais problemas? — ela pergunta e eu dou de ombros. — Qual é, me conta. Eu contei os meus.

— Não, é só que eu e a Ariane temos brigado com muito mais frequência desde o verão.

— Oh, sinto muito.

— Ela acha que tenho estado muito ausente, o que é verdade, mas não tenho escolha. Eu e os caras temos trabalhado muito para que a Crowstorm decole. Temos que dar duro se quisermos chegar longe e isso demanda tempo.

— Acredite, sei bem como é isso. Perdi um relacionamento quando optei por seguir a carreira em que estou agora. O problema é que quem está de fora não entende. Acho que só um artista é verdadeiramente capaz de compreender outro.

— Está dizendo que acha que meu relacionamento vai acabar?

— É uma possibilidade — devo parecer meio abalado, pois Megan aperta meu braço. — Desculpe, não ligue para mim, só estou nervosa. É claro que seu relacionamento tem tudo para dar certo, só estão passando por uma fase ruim. É normal.

— Por que você fala como se fosse mais velha e experiente do que eu?

— Idade não tem a ver com sabedoria — ela sorri um pouco. — Obrigada por me consolar mais uma vez. Me sinto um pouco melhor agora.

— Não há de que. As coisas vão se acertar. Amanhã você volta para a sua cidade e vai poder ficar mais próxima da sua família e dos seus amigos.

— Hum... Na verdade, decidi extender a viagem por mais uns dias, ao menos até o fim da semana. Eu gostei daqui e acho que novos ares podem me fazer bem.

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