[ 03 de novembro, quinta-feira ]
Ariane não está em casa quando chego, mas passa pela porta menos de dez minutos depois, carregando uma sacola com o que suponho que seja comida — se o cheiro de coisa assada que domina o ambiente significa alguma coisa. Como esperado, não recebo uma recepção calorosa. Ela sequer se aproxima, apenas fica parada diante da porta fechada, me encarando sem expressão alguma.
— Antes que me atire aos lobos — começo cautelosamente. —, peço que me deixe explicar. O único motivo para eu não ter falado sobre a Megan é porque eu não queria causar uma briga desnecessária.
— Eu não quero nem saber sobre isso agora, Castiel — ela levanta uma mão para me calar e passa por mim, em direção à cozinha. Meu peito aperta um pouco quando não recebo nem um beijinho ou sorriso ou sequer um olhar de relance. — Meus pais estão vindo jantar e não quero que minha mãe se estresse com nossos problemas. Trataremos desse assunto mais tarde.
— Por que sua mãe se estressaria? — questiono, seguindo-a.
— Porque a gravidez a deixa muito sensível. E porque sou filha dela — Ariane deixa a sacola sobre a mesa e pega pratos, talheres e copos.
— Certo... Não vai me perguntar como foi a viagem de volta?
— Acredite, não tenho nem vontade de falar com você nesse momento.
Ouch. Ok, eu mereço. Limpo a garganta.
— Eu trouxe um presente, acho que você vai se amarrar.
— E por que isso? Se sentiu culpado ou só está tentando me manipular outra vez?
Mais golpes impiedosos. É como se ela tivesse voltado a ser a mesma Greene de antes — a que me odiava com todas as forças. Só pensar nisso me deixa arrasado. A última coisa que eu quero é que o amor da minha vida me odeie.
— Pode embainhar sua espada por um segundo e ver o presente, pelo menos?
Ariane não diz nada, então apenas estendo o embrulho em minha mão para ela, que o abre em um misto interessante de calma e raiva. Sua expressão ao ver o livro é melhor do que imaginei. Seu rosto todo se ilumina e os olhos brilham, contemplando o objeto e os brindes presos à capa por fita e o plástico protetor. Ela tenta disfarçar ao me olhar, segurando o livro contra o peito.
— Isso é... Huh... Eu... Obrigada. É lindo.
— Pode me dar um sorriso, pelo menos?
— Não, não posso. Estou tão brava contigo que me sinto fisicamente incapaz de sorrir. A única coisa que tenho vontade de te dar agora, Castiel Chase, é um belo chute no saco.
Apesar das palavras duras, ela solta uma espécie de ganido contente enquanto passa por mim em direção ao quarto, para guardar o livro. Isso me faz sorrir um pouco.
Embora queira fazer parecer que está tudo perfeitamente bem entre nós durante o jantar, Ariane mal me dirige a palavra e encontra um jeito de se esquivar sempre que tento tocá-la. Essa mulher sabe como me castigar. Depois de quatro dias longe, eu só queria abraçá-la, beijá-la, segurar sua mão e enterrar o rosto na curva de seu pescoço. Tê-la sentada ao meu lado, sorrindo e conversando e cheirando a morango, e não poder relar nem um dedo nela — tão perto e tão distante — é uma puta de uma tortura. Vou ficar maluco se isso continuar por muito tempo.
São nove e pouco quando os Greene vão embora. Agora, sim, Janette parece grávida. Ela deve estar com uns seis meses de gestação, se minhas contas estiverem certas, e está nítido que tem uma criança em seu útero — " ou duas! ", disse seja lá qual for o médico responsável por conferir essas coisas. O marido dela parece torcer para ser um bebê só.