[ 14 de junho, sábado ]
Eu não durmo desde que saí da maternidade, há dezesseis dias. Minhas olheiras estão tão escuras, que um panda provavelmente me adotaria. Também não consigo comer direito ou tomar banho; meu cabelo está mais oleoso que um combo de hambúrguer e fritas do McDonald's.
Tenho cuidado dos bebês praticamente sozinha, visto que todos têm empregos. A mamãe tem vindo me ajudar, mas ela tem seu próprio bebê para tomar conta. Já perdi as contas de quantas vezes enchi o cesto de lixo com fraldas sujas, ou da quantidade de roupas que precisei lavar porque tem sempre um neném vomitando ou se sujando de outra maneira. Eles também choram o tempo todo: de sono, de fome, de cólica. Agora eu sei que não é do barrigão que as mamães sentem falta, é da paz e do silêncio.
Castiel também tem estado cansado, mas pelo menos pode cochilar no estúdio e comer fora de casa. Keith e Leigh recorreram aos fones bloqueadores de ruídos durante a noite — quem dera eu pudesse fazer o mesmo. A verdade é que levanto de madrugada mesmo que os bebês não chorem, porque tenho medo que sufoquem durante o sono. Os três dividem o berço, afinal.
Até o T'Challa está estressado com todo o agito. Ele me olha com cara feia o tempo todo, mas não tem direito nenhum de reclamar depois de ter engolido o anel do Leigh — anel esse que ele botou pra fora três dias depois de engolir. Ontem o encontrei sentado na grade do berço, vigiando as crianças como uma espécie de guardião sombrio. Sem contar que ele adora roubar os paninhos que uso para limpar as babas e etcetera.
No momento, estou colocando roupas na secadora enquanto Kurt e Emily dormem, e Hayley está presa ao meu tronco pelo canguru. Ando com a babá eletrônica presa no cós da calça. Quando me levanto e fecho a porta da máquina, apoiando a cabeça da neném com a mão, alguém toca a campainha. Fecho os olhos com força, torcendo para que o barulho não acorde os outros dois, mas a babá eletrônica permanece silenciosa.
Não conheço a mulher de meia idade sorridente que está na porta. Ela está segurando um buquê de cravos amarelos e uma cesta de café da manhã. Vejo seus olhos me observarem de cima a baixo, embora o sorriso simpático permaneça intacto. É, sei muito bem que pareço uma maluca, obrigada.
— Entrega para Ariane Chase.
— Sou eu...
— Vou facilitar pra você — ela encaixa o buquê na cesta e me estende uma prancheta. — Assine aqui, por favor. Obrigada.
— Eu que agradeço.
Pego a cesta e vou para a sala. Me sento no sofá para ler o cartão que encontro no meio das flores. É a letra desleixada do Castiel.
Sorrio de orelha a orelha. Que amor! Eu nem me lembrava que é dia das mães. Não tenho pensado em nada além dos meus filhos ultimamente. Ajeito as almofadas e acomodo Hayley confortavelmente ao meu lado, depois pego a cesta. Estou morrendo de fome; amamentar três crianças suga todas as energias. Pego um muffin e a garrafinha de suco de laranja. Assim que dou uma mordida, um choro começa a ecoar pela babá eletrônica.