[ 21 de abril, terça-feira ]
— Trinta e oito — Keith suspira, conferindo o termômetro. Não me sinto muito bem desde que acordei. Os meninos só precisam ir para a gravadora à tarde, então Castiel incumbiu Keith de ficar de olho em mim enquanto ele tenta resolver o problema da câmera. — Isso é estranho, você estava bem ontem, ninguém em casa está doente ou algo do tipo. Está sentindo alguma coisa? Tosse, dor de garganta...
— Não — respondo fracamente. — Só estou com frio e com o corpo mole.
— É possível que tenha ficado doente de tristeza?
— Não sei — pisco lentamente. — A câmera significa muito pra mim, e todas as imagens que estão nela também.
— Castiel vai dar um jeito — Keith acaricia meu cabelo gentilmente. — Não fique mal, Arianinha. Ainda que não dê para recuperar as fotos, você pode registrar vários momentos novos. Seus amigos ainda estão aqui, e sua família. Vocês vão se casar de novo e os bebês ainda não nasceram.
— Eu sei, mas... É como se alguém quebrasse sua bateria velha. Você não ficaria arrasado?
— Ficaria, acho, mas minha bateria nova me consolaria. É com ela que estou vivendo meu sonho, afinal.
— Acha que estou exagerando?
— O que eu acho é que precisamos abaixar essa febre — se levanta. — Vou pegar um dipirona.
— Não — choramingo. — Esse remédio é horrível, prefiro ibuprofeno.
— Foi mal, gatinha, mas ibuprofeno está na lista de remédios contraindicados que a obstetra passou.
— Como sabe disso?
— Castiel prendeu a lista na geladeira antes de sair.
— Isso é muito invasivo.
— Só queremos cuidar de você, neném. Agora, fique quietinha enquanto pego o remédio e preparo um cházinho, ok? Se se comportar, posso até vestir uma roupa sexy de enfermeiro.
Sorrio preguiçosamente. Minhas pálpebras estão pesadas, acho que a febre está me deixando sonolenta. Dou uma piscada longa e quando volto a abrir os olhos, T'Challa adentra o quarto. Ele se aproxima silenciosamente da cama e se senta.
— Nem vem, estou de mal de você. Como pôde jogar minha câmera na banheira? Eu te compro a melhor ração e nem reclamo dos seus pelos nas minhas roupas, e é assim que me recompensa? Tinha fotos suas lá! E agora estou doente. A culpa é toda sua, seu... fofinho idiota.
T'Challa inclina a cabeça. Não posso realmente ficar brava com ele. Me ajeito na cama quando uma dor repentina me atinge — uma cólica que leva alguns segundos para passar. Keith volta com o chá e o remédio, e se ajeita ao meu lado na cama, debaixo da coberta. Faço uma careta enquanto o dipirona desce pela minha garganta, depois dou um gole no chá.
— Obrigada.
— Sem problemas — ele liga a tv. — Então, o que vai ser? Está rolando uma maratona de Crepúsculo na HBO.
— Desde quando você curte Crepúsculo?
— É meu guilty pleasure. Qual é o seu?
— Tenho uma playlist só com músicas dos filmes da Disney.
— Como isso é um guilty pleasure? — Keith faz uma cara meio confusa, meio indignada. — Todo mundo gosta das músicas da Disney. Guilty pleasure seria se você curtisse, sei lá, geleia de ameixa.
— O Castiel gosta.
— É porque ele é um esquisito do caramba. Isso, estar casada com o Castiel é um guilty pleasure.
— Como?! Tem centenas de pessoas querendo lamber o abdômen dele. Ainda bem que só eu posso fazer isso — sorrio, levando a xícara à boca.
— Credo, vocês transam com os bebês aí? — ele faz uma careta. — No começo tudo bem, mas eles estão bem desenvolvidos agora.
— Só rola língua e mão, nada de mais.
— Que nojo.
— Não banque o santinho, nós escutamos você e o Leigh.
— É, mas nenhum de nós está grávido. Nossa, argh, isso me lembrou uma coisa horrível — ele balança a cabeça. — Mark me mandou o link de uma fanfic, ontem à noite. Castiel e eu eramos um casal e eu estava grávido. Grávido. Me descreveram como um baixinho super doce e inocente e sensível, e o Castiel era super apaixonado e fofo, apesar de ser durão com todo mundo. Sério, que porra é essa? Leigh achou engraçado.
— Você leu pro Leigh? É tipo uma história de ninar super bizarra.
— Eu amaldiçoei três gerações do Mark por ele ter me feito ler aquela merda — bufa. — Porém, é claro que farei questão de ler pro Castiel.
Balanço a cabeça diante de seu sorrisinho maldoso. Imagino como meu marido reagiria. Ele encontrou um edit meio sexual dele e do Jake e quase teve um infarto; tenho medo que morra de verdade se souber que alguns fãs o imaginam formando uma família com o Keith.
Castiel chega em casa quando Lua Nova está começando. Ele arqueia as sobrancelhas quando encontra Keith e eu juntos na cama, mas se senta perto de mim e checa minha temperatura com a mão.
— Se sente melhor?
— Sim, Keith me deu dipirona e chá.
— Chá, a bebida, né? — ele olha de canto pro loiro.
— É — reviro os olhos. — Então, quais as novidades? Dá para recuperar as fotos? Você demorou muito.
— Dá para recuperar — ele responde e suspiro, aliviada. — Infelizmente, a câmera não tem salvação. Mas eu lembrei que vamos a um festival de fotografia em junho, podemos comprar outra lá.
— Tudo bem, já fico feliz em não perder as fotos.
— Oh? E o que aconteceu com o papo de a câmera ter valor sentimental e blá blá blá? — provoca.
— Pelo menos ainda tenho esse anel de noivado lindão — mordo o lábio, levantando a mão. — Obrigada por ter resolvido tudo. Você é o melhor marido do mundo.
— Qualquer coisa por você, meu bem.
Sorrio, segurando sua nuca quando ele se inclina para me beijar.
— Eu ainda estou aqui, pombinhos — Keith chama nossa atenção.
— Pois é — Castiel responde. — Por que?
— Eu cuidei da sua mulher, seja mais agradecido.
— Ficaria mais agradecido se não estivesse na cama com ela. Levanta, temos que trabalhar. Se qualquer coisa acontecer, me ligue.
— Vou ficar bem, mas queria que você ficasse comigo — faço um biquinho.
— Voltarei o mais rápido possível, garotinha.
Ele volta a me beijar, e eu poderia beijá-lo por horas a fio se o Keith não nos interrompesse outra vez. Ele puxa o Castiel pelo casaco.
— Espera, o que fez com a câmera? — pergunto.
— Nada, está na caixa. Eu trouxe de volta.
— Ótimo, que bom. Quero guardá-la.
— Pra que guardar uma câmera quebrada? — Keith questiona.
— Porque foi um presente super carinhoso do meu amor e não quero me desfazer dela. Já que não funciona, vou guardar como recordação, igual essa galera que pendura cabeças de animais na parede.
— Nossa, que comparação romântica — o loiro debocha. — Vamos nessa, Chase, já estamos atrasados. Aliás, tenho uma coisa super legal pra te mostrar quando chegarmos lá.
Castiel franze o cenho para ele, desconfiado, e os dois vão embora. Se a coisa super legal for a fanfic, tenho certeza que a cidade inteira será capaz de ouvir o grito que o Castiel dará.
