[ 27 de maio, quarta-feira ]
Seis horas.
Seis. Malditas. Horas. Nunca gritei tanto, nunca senti tanta dor. Me deram gelo para mastigar enquanto esperávamos que minha vagina dilatasse mais e mais. Apertei as mãos do Castiel até quase quebrá-las. Tentei fugir e implorei para que me fizessem desmaiar. Apesar disso, todos disseram que foi um parto rápido.
Uma coisa que não te avisam sobre dar a luz: é humilhante. E não melhora nada quando seu marido resolve dar uma espiada e acaba desmaiando. Ainda bem que a mamãe me acompanhou durante todo o processo, e minha irmã também. A doutora disse que não é comum ter mais de um acompanhante, mas aliviaram meu lado porque nunca tinha parido antes e foram logo três nenéns.
Ah, os nenéns... Depois das longas horas de tortura, ouvir o choro de cada um deles e saber que estavam bem melhorou tudo. E a dor não durou muito depois que o último escorregou para fora. Agora estou amamentando o pequeno Kurt, enquanto Keith segura a Emily e Ana, a Hayley. Castiel está ao meu lado, acariciando a mãozinha do nosso filho.
— Kurt — sussurra com um tom maravilhado. — Não acredito que meu espermatozóide criou essa coisinha tão perfeita.
— Meu óvulo ajudou — rio baixinho.
Não consigo parar de sorrir desde que as enfermeiras os trouxeram para nós, perfeitamente limpos e vestidos. Eles são perfeitos, com olhos e cabelos escuros. Muito cabelo, aliás.
— Não acredito que você saiu de mim — sussurro para o bebê em meus braços, acariciando sua testinha macia com a ponta do dedo.
— Ela é tão linda — minha irmã diz, de repente, chorando. Ela está se debulhando em lágrimas há vários minutos. — Sou oficialmente titia! Queria que o Lys estivesse aqui para vê-los.
— Tenho que admitir, vocês sabem fazer filhos bonitos — Keith se aproxima, balançando suavemente o pacotinho branco em seus braços. — Acho que estou apaixonado. Tive um impeachment, igual ao Jacob.
— Imprinting, imbecil — Castiel retruca. — Impeachment é um processo pra destituir alguém de um cargo governativo. E fica longe dos meus filhos.
— Não acredito que sou avô — meu pai fala, sentado ao lado da minha irmã no sofá azul, com Andy no colo. — Avô de três crianças apenas alguns meses mais novas que meu filho caçula. Como o mundo gira.
— Está dizendo isso porque está feliz, ou está nos repreendendo?
— Estamos felizes, é claro — mamãe responde por ele. — Oh, meu amor, você foi maravilhosa e deu a luz a três bebês perfeitos. Estou tão orgulhosa! Vocês formam uma família linda.
— Falando em família, acho que devemos deixar os novos papais aproveitarem um tempo sozinhos — Leigh diz. — Tem uma lanchonete do outro lado da rua, é por minha conta — ele se aproxima da cama e se curva para beijar minha testa carinhosamente. — Meus parabéns, Ari. Você é incrivelmente forte.
— Obrigada — sorrio.
Hayley e Emily são colocadas de volta no pequeno berço ao lado do meu leito e, um por um, todos se despedem com um beijo e saem. Guardo o seio quando Kurt termina de mamar.
— Pode me dar uma das meninas? — peço.
— Claro.
Observo enquanto Castiel pega uma delas como se fosse a coisa mais preciosa do mundo — o que, de fato, é — e a coloca cuidadosamente em meu braço livre. Depois ele pega a outra e se acomoda ao meu lado. Seguramos os três lado a lado, Kurt no meio, e começo a chorar diante das carinhas adormecidas.
— Nossa família — Castiel fala baixinho. — Consegue acreditar?
— Não — balanço a cabeça, fungando. — Me desculpe por ter gritado com você. Olhando pra esses rostinhos agora, acredito que ter deixado que me penetrasse foi a melhor decisão que já tomei.
— Você é muito estranha — ele me olha e sorri, depois volta a atenção pros bebês. — Já sentiu tanto amor na vida? Parece que meu coração vai explodir. Obrigado por isso, Greene.
— Como assim?
— Por me dar a família mais perfeita do mundo — explica, olhando em meus olhos. Sorrio suavemente e beijo seus lábios. — Vou ligar pros meus pais, eles precisam vê-los.
O senhor e a senhora Chase se encantam com os netos, como o esperado, e logo eu, Castiel e Angel estamos chorando juntos. Encerramos a chamada quando Emily começa a chorar também. Castiel coloca os outros dois no berço enquanto me preparo para amamentar mais uma vez.
Eu, amamentando! É um pouco doloroso, mas me sinto... Não sei explicar. Me sinto completa.
— Oh, não — me lembro de repente. — Não poderemos ir ao evento de fotografia... Não podemos voar com recém nascidos e, honestamente, não acho que estaremos prontos para cuidar de três bebês sem qualquer auxílio.
— Por favor, Greene, nós fizemos essas crianças, daremos conta delas. Quanto ao evento, não se preocupe. De um jeito ou de outro, você terá uma câmera nova. Quero que tire milhares de fotos e faça muitos álbuns. Primeiros passos, primeira papinha, primeira palavra, primeiro gesto obsceno... Registre tudo.
— Não vai ensinar gestos obscenos pros nossos filhos.
— Não de propósito.
Balanço a cabeça. Não tenho a menor dúvida de que aprenderão palavrões rapidinho.
Em um certo momento, uma enfermeira entra no quarto para nos dar uma pequena aula sobre como dar banhos, trocar fraldas e executar manobras para desengasgá-los. Ela fala muitas coisas, na verdade, e não sei se serei capaz de me lembrar de tudo. A doutora também volta para falar comigo, e me recomenda alguns pediatras. Então, é a vez da Hayley mamar. Vejo que não serei mais que uma caixa de leite ambulante por muito tempo.
Quando os três estão dormindo, Castiel se deita ao meu lado. Estou tão exausta, que é difícil manter os olhos abertos.
— Você é oficialmente a mulher mais forte que conheço — ele acaricia meu cabelo. — Três crianças de uma só vez, puta que pariu. Foi difícil te ver com tanta dor e não poder fazer nada.
— Você aliviou o clima com o desmaio. O som da sua cabeça batendo no chão soou pela sala toda — zombo. — Obrigada por ter ficado comigo o tempo todo e por ter me deixado apertar sua mão.
— Sempre farei tudo o que puder por você, mesmo que não seja muito.
— Espero que minha barriga não fique estranha por muito mais tempo — sussurro, quase adormecendo. — Vou voltar a malhar com o Jake assim que puder.
— Com um bebê na frente, um nas costas e um na cabeça?
— Com um nas costas, um no seio esquerdo e um no direito.
Rimos baixinho, então Castiel me puxa pro conforto de seus braços.
— Durma um pouco, Greene, enquanto ainda pode. Só Deus sabe quando seremos capazes de dormir por mais de três horas outra vez.
*Eu ia descrever a cena do parto, mas acho que ficaria muito comprida e repetitiva, então decidi pular. Além do mais, provavelmente a fic não demorará muito mais pra acabar ( ou talvez demore, porque eu só sigo o fluxo e não planejo nada )