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[ 20 de julho, segunda-feira ]





  — Você não tem vergonha de ir pra cima da vaga de fotógrafa como uma carniceira, quando o Joshua acabou de se acidentar? — Jake arqueia as sobrancelhas, sorrindo de canto.

  — Ele não morreu, morreu?

  — Ele quebrou as pernas em duas partes.

  — Mas não morreu — rebato suavemente. — Se tivesse morrido, eu esperaria o corpo esfriar no caixão antes de tentar roubar a vaga dele. É um mínimo de cortesia.

  — Nossa, você e o Castiel são mesmo farinha do mesmo saco. Vão criar três minis malucos.

  — A humanidade que se cuide — esboço um sorriso. — Pode mesmo ficar com eles enquanto falo com o senhor Yang? Não quero atrapalhar, sei que estão bem ocupados.

  Emily, Kurt e Hayley estão dormindo no carrinho de bebê triplo que ganhamos no chá. Eu pediria pra minha mãe ficar com eles, mas não queria sobrecarregá-la. Com a Ana e o papai no trabalho, seria muito difícil cuidar de três nenéns de dois meses, e um de cinco, sozinha.

  — De boa, primeira dama. Tenho exercício vocal em quarenta minutos, mas por ora estou tranquilo.

  — Pensei que tivessem largado mão desse apelido. Ele tem um ar maléfico, como se eu fosse uma ditadora. Prefiro rainha ou imperatriz.

  Jake ri.

  — É, bem menos maléfico.

  — Acha que vou conseguir a vaga? — pergunto, tentando disfarçar a ansiedade na voz.

  — Não vejo por que não. Suas fotos são muito boas, e a prática leva à perfeição. Você tem tudo pra se dar bem.

  — E vocês não se incomodariam por ter a família Chase por perto o tempo inteiro?

  — Com essas gracinhas? De jeito nenhum. Vai ser divertido.

  — Até eu pedir pra você trocar uma fralda — brinco.

  — Aí eu uso o jutsu sumidão — ele faz um gesto com as mãos. Rio. — Você perdeu peso bem rápido, parece que foi ontem que pariu.

  — Bom, eu não consigo comer nem dormir, e amamento como uma vaca. Minha aparência não deve estar nada boa, porque fui colocar o lixo pra fora e um sem teto me perguntou se fumo ou injeto.

  Jake ri alto, e rio também. Na hora eu não soube o que responder, mas tenho que admitir que é engraçado.

  — Qual é, sua aparência está ótima.

  — Mentiroso.

  — Ok, mas não parece que usa drogas.

  — Obrigada — rio outra vez. — Acho que vou voltar a malhar com você. Querendo ou não, ajudou mesmo no parto.

  — Claro, quando quiser.

  A recepcionista anuncia que o senhor Yang está pronto para me receber, então deixo o Jake com meus filhos adormecidos e me dirijo ao elevador, carregando meu notebook. Pensei em trazer um dos álbuns ou a caixa de polaróides, mas pareceu pessoal demais. No notebook tenho fotos mais adequadas, inclusive as que tirei pros trabalhos da faculdade.

  Espero não parecer tão ansiosa quanto me sinto. Castiel fez parecer que a vaga já é praticamente minha, e espero que seja verdade. Seria incrível poder trabalhar em família, incluindo os rapazes — e não precisaríamos nos separar durante as viagens.

  Respiro fundo três vezes enquanto as portas do elevador se abrem. A secretária sorri para mim, assim como o senhor Yang, que está esperando na porta de sua sala. Ajeito o cabelo nervosamente. Tentei ficar o mais apresentável possível, embora boa parte de minhas roupas ainda não me sirva.

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