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[ 21 de novembro, segunda-feira ]






Estou lutando para preparar o jantar quando Castiel chega em casa. É difícil cozinhar quando qualquer mínimo cheiro faz meu estômago se revoltar. Essa tem sido a pior parte até agora - os enjôos constantes. Odeio vomitar e odeio não conseguir aproveitar as comidas que gosto com o mesmo prazer de antes. Quanto à gravidez de modo geral, ainda não sei bem como me sinto. Acho que não estou mais tão apavorada, mas também não estou tranquila. É uma grande mudança, afinal de contas. Ainda que eu consiga terminar a faculdade e iniciar uma carreira, minha vida mudará para sempre. Não é uma coisa fácil de engolir.

É por isso que estou mais feliz que nunca por ter o Castiel do meu lado. Ele disse que gostaria de ser um pilar de força para mim, e é. Castiel sempre será minha zona de segurança. Honestamente, eu provavelmente estaria surtando se ele não estivesse comigo.

Castiel deixa o casaco sobre o encosto do sofá e tenta acariciar o T'Challa, que está sentado ali, mas o gato desvia e pula para o chão. Rio baixinho. Ele pragueja e vem até mim; deixo a faca e a cebola de lado para poder cumprimentá-lo com um beijinho.

- Tudo bem? - sua mão desliza das minhas costas para a minha barriga. Um gesto provavelmente não calculado, porém fofo mesmo assim.

- Tudo, mas você parece meio aflito. Aconteceu alguma coisa?

- Aconteceu, na verdade. Pode deixar o jantar de lado por um minuto? Precisamos conversar.

Fico instantaneamente preocupada. Desligo o fogo e o sigo até a sala.

- Senta aí, garotinha - pede gentilmente.

- Garotinha? Oh, não, é coisa grave.

- Eu sempre te chamo de garotinha.

- Não quando me pede para sentar.

- Tem certeza? Acho que foi assim que você engravidou.

Isso me faz rir.

- Não é uma notícia ruim, é?

- Não... Não exatamente, mas tenho medo de como vai reagir.

- Não me diga que finalmente aconteceu - brinco. - Você me traiu com o Keith.

- Muito engraçado - ele força uma risada. - Não, o assunto é sério. Nós tivemos uma reunião na empresa hoje, e você sabe que nosso primeiro álbum está para ser lançado, certo?

- Sei, vocês estão trabalhando nele há meses.

- Sim, bom - Castiel limpa a garganta. - Ele vai ser lançado no dia quinze de dezembro e querem que a gente faça um mini tour de lançamento pelo país. Vamos fazer alguns meet and greet, dar autógrafos, conversar com os fãs...

- Sério? Isso é muito legal!

- Sim, é incrível, só que... Vão ser trinta dias, a partir do dia dez.

- O que?! - me levanto em um sobressalto. - Mas é um mês inteiro, Castiel! Você vai perder o natal, o ano novo e, mais importante, o meu primeiro ultrassom. Eu quero que esteja lá comigo.

- Eu sei, Greene, mas não tenho escolha. Por favor, entenda - ele segura minha mão e me faz sentar de novo. - Se dependesse de mim, eu tentaria adiar, mas tem os outros caras também. Fui eu quem te engravidou, não posso fazer com que paguem o pato por isso. Tenho que pensar no grupo todo.

- Não fale como se o bebê fosse um empecilho.

- Sabe que não foi o que quis dizer. É claro que nosso filho não é um empecilho - declara firmemente. - Eu sinto muito, Greene. Acredite, eu não queria passar tanto tempo longe de você nesse momento, mas é meu trabalho. Não tenho opção.

- Mas... O ultrassom é no dia catorze. Não pode tentar adiar só até lá?

- Não dá...

- Você nem tentou!

- Só que não dá, Greene. O lançamento é no dia quinze, sabe quantos preparativos temos que fazer? Não dá para chegar um dia antes.

- Eles vão entender se você disser o motivo - insisto.

- A questão não é essa. Eu assumi um compromisso com esse pessoal, assinei um contrato.

- Tá, mas e o compromisso que assumiu comigo?

- Isso não é justo. Não pode me fazer escolher entre você e o meu sonho, Greene.

- Não estou te fazendo escolher, Castiel. Não estou te pedindo para jogar tudo pro alto, só quero que ao menos tente adiar alguns dias. É o primeiro ultrassom do nosso primeiro filho, é importante e não quero fazer isso sem você. Não é pedir muito, é?

- Eu sei que é importante, só que estou no início da carreira. Preciso me sujeitar a certas coisas para poder ter regalias depois. Se eu começar a fazer exigências e faltar com os compromissos logo de cara, o que vão pensar?

- Quem liga para o que vão pensar?

- Eu ligo, Greene. Será que não entende que dependo dessa gente para chegar cada vez mais longe? Não posso correr o risco de me boicotarem, é meu sonho que está em jogo.

- É seu filho, Castiel.

- Meu Deus, a criança não vai nascer agora! E é justamente por ela que preciso trabalhar cada vez mais, já que ter filhos é caro.

Penso em continuar argumentando, mas vou acabar batendo na mesma tecla de novo e de novo e isso não vai levar a lugar nenhum. Solto um suspiro derrotado.

- Tá, beleza. Tudo bem.

- Por que toda conversa relacionada ao meu trabalho tem que acabar numa briga?

- Não tem briga - digo calmamente. - Você vai para a sua viagem, eu vou fazer o ultrassom. Está tudo certo. Talvez o Leigh aceite ir comigo. Não vai ser a mesma coisa, mas ao menos não estarei sozinha.

Me levanto para voltar à preparação do jantar, embora não esteja mais com muita fome. Ouço Castiel suspirar e vir atrás de mim. Ele me faz parar antes de chegar na cozinha.

- Tá legal, olha - diz. - Eu vou conversar com o senhor Wang e ver o que posso fazer.

- Não, não precisa.

- Por que não?

- Porque não quero mais que você vá comigo.

- O que? Só pode estar de brincadeira!

- Não, não estou. Se não vai de boa vontade, então não precisa ir.

- Eu não quero que o Leigh seja o primeiro a ver nosso bebê, não foi ele quem contribuiu com o esperma.

- Bom, mas sozinha eu não vou! O Keith e o Leigh são os únicos que sabem sobre a gravidez e o Keith também vai viajar, então...

Cruzo os braços com determinação. Se ele não quer nem tentar adiar a viagem, beleza; mas não irei ao meu primeiro ultrassom sozinha. Preciso de apoio emocional, caramba, nunca passei por essa situação antes! E pretendo esperar pelo menos três meses para contar sobre a gravidez para a minha família - só para ter mais certeza de que vai ficar tudo bem.

- O primeiro ultrassom é um momento especial entre os pais, Greene. Eu sou o pai.

Dou de ombros. Castiel bufa e esfrega o rosto com irritação.

- Você me deixa louco, garota, louco! Você... Argh! Vou falar com o senhor Wang - ele declara, pegando a jaqueta no encosto do sofá.

- Não quero que faça isso.

- Foda-se! Leigh Frey não vai ser o primeiro a ver meu filho.

- E se não deixarem que adie a viagem?

Castiel apenas esbraveja antes de sair e bater a porta. É ele quem me deixa louca!

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