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[ 14 de fevereiro, terça-feira ]




  — Olha, finalmente, posso conhecer o papai! — a doutora sorri quando entramos no consultório.  — Confesso que já estava curiosa.

  — Você deve achar que sou um irresponsável ausente, mas saiba que ela não me convidou para a segunda consulta — Castiel se defende. — Só uma pergunta: a senhora tem certeza de que são três bebês?

  — Absoluta, querido. Está ansioso?

  Me apronto para o exame enquanto eles conversam. Não me preocupo em me trocar no banheiro, porque Castiel já me viu pelada mais vezes do que posso contar, e depois de a doutora ter enfiado aquele treco em mim, a presença dela não me intimida mais.

  — Sua barriga está tão lindinha! — ela diz enquanto me deito. — Está redondinha, a coisa mais fofa. Tem sentido alguma coisa anormal ultimamente?

  — Não — contenho uma careta quando o gel gelado entra em contato com minha pele. — Um pouco de cólica, alguns enjôos. Comecei a me exercitar quando sobra um tempo.

  — Isso é excelente. Ajudará muito no parto, você vai ver. Vejam, ali estão os bebês.

  Castiel quase sobe em cima de mim para ver o monitor. Sou obrigada a me arrastar um pouco para o lado na maca.

  — Olha, consigo vê-los! — ele exclama empolgadamente. — Já parecem humanos!

  A doutora ri afetuosamente.

  — Sim... Eles ainda são pequenos, mas já estão tomando forma. Não são mais embriões, agora, são fetos — explica. — E aí vem a parte mais empolgante.

  Então, começamos a ouvir pulsações — batimentos cardíacos, segundo a doutora. Castiel solta uma gargalhada emocionada; eu cubro a boca e o nariz com as mãos, tentando em vão não chorar. É como se tivesse me dado conta, de repente, de que estou gerando vida dentro de mim. Castiel pega o celular para fotografar, gravar ou sei lá.

  — Oi — a voz cansada do Keith soa pelo viva voz.

  — Escuta! — Castiel aproxima o celular do monitor, depois o traz de volta para perto de seu rosto. — Ouviu?

  — Não sei. O que é esse som, exatamente?

  — Os corações dos meus filhos batendo! Não é super foda? É o melhor som que já ouvi na vida. Nós fizemos três pessoas, três pessoas vivinhas!

  — Está mesmo me ligando no meio de um surto de felicidade? Essa é nova. Arianinha, se estiver ouvindo, você é foda. Mal posso esperar para ver seus bebezinhos.

  — Ei, eu ajudei a fazê-los, sabia?

  — Você não vai carregá-los e expelir um por um pela perereca.

  Fico mortificada com o uso da palavra " perereca ", mas a doutora parece achar graça. Não sei como acabei no meio desses garotos constrangedores. A chamada telefônica não dura muito porque Keith tem estado bem para baixo ultimamente; Leigh está sofrendo e isso o afeta um bocado. O resto da consulta ocorre tranquilamente. Falamos sobre minha alimentação, meu peso e tudo o mais, e saímos do consultório com fotos do ultrassom e um CD com o vídeo.

  — Você está feliz como um pinto no lixo — comento enquanto entramos no carro. — É bonitinho.

  — Como não ficar feliz depois de ouvir os batimentos cardíacos? Disso para sentirmos chutes, é um pulo.

  — Entendo que esteja empolgado, não é na sua bexiga que vão sapatear. Vou te acordar sempre que precisar urinar durante a noite.

  — Relaxa, Greene. Te arranjarei um penico, não vai nem precisar sair do quarto — ele abre um sorriso provocador. Torço os lábios. — Não faça essa cara. Vou te levar para comer alguma coisa, já que estou no volante hoje. Alguma preferência?

  — Eu adoraria um sanduíche de salame com nutella e picles.

  Castiel faz uma careta enojada.

  — Deus que me perdoe, acho que nem no manicômio comem isso.

  — A culpa não é minha — dou de ombros. — O bebê número um quer nutella, o bebê número dois quer salame e o bebê número três quer picles.

  — Os bebês deviam pensar em querer uma terapia.

  — Acha isso estranho? Ontem salivei com um comercial de espuma de barbear.

  Paramos em um sinal vermelho e Castiel aproveita a oportunidade para me beijar, me pegando desprevenida. É claro que a surpresa não me impede de retribuir. Ele não para de sorrir, seus olhos brilham e as bochechas estão coradas. Castiel é a personificação da palavra " felicidade " nesse momento, o que me deixa em êxtase. Adoro vê-lo assim. É fato que ele parece bem mais de bem com a vida nos últimos tempos, depois da formatura.

  — Estou tão feliz, Greene! Juro que nunca pensei que pudesse sentir tanta felicidade — ele segura o volante com ambas as mãos quando o sinal abre. — Tenho bons amigos, minha carreira está vingando, sou casado com a melhor mulher do mundo e estou prestes a ter filhos... É claro que imaginei nossa vida juntos quando nosso lance começou a dar certo, e minhas fantasias envolviam filhos, mas isso é muito melhor que tudo que eu poderia ter imaginado. Ouviu os coraçõezinhos deles? Caralho! É a coisa mais incrível do universo.

  — Não sabe como fico feliz em te ver assim — pego uma de suas mãos e a beijo. — Me passa muito alívio e segurança.

  — Vou cantar para vocês toda noite — decide. — Quero que eles saibam reconhecer minha voz e que se sintam seguros. Quero ser o melhor pai que eu puder.

  — Você será — sorrio. — Será maravilhoso, tenho certeza.

  — E você também, Greene. Será incrível. Também quero que se sinta segura, certo? Sabe que estarei aqui para tudo o que precisar, né?

  — Eu sei — respondo suavemente. — Sabe, você me prova cada dia mais que ficar contigo foi a melhor decisão que já tomei na vida. E imaginar que pensei que nunca mais nos veríamos depois da formatura.

  — E agora está condenada a ver meu lindo rosto todos os dias, pelo resto da vida — sorri. — Que belas voltas que o mundo dá.

  Rio. É, não posso discordar.
 

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