[ 19 de novembro, sábado ]
Megan não parece muito feliz quando abre a porta e me vê. Ela se recosta no batente e cruza os braços; apesar de ser sábado à noite, ela não parece ter nenhuma intenção de sair - ao menos é o que o pijama dá a entender. É estranho ver uma garota bonita assim mofando num quarto de hotel, sozinha. Acho que a pinta de conquistador do Nathaniel não passa de fachada.
- O que faz aqui?
- Eu vim me desculpar pela forma que te tratei ontem à noite - explico. - Queria fazer isso na gravadora, mas você não apareceu.
- E por que deveria dar as caras por lá? Não vou onde não sou bem-vinda, Castiel.
- Vamos, não seja tão dramática.
- Não, não sou dramática. Estou passando por um momento difícil com minha família e a única pessoa que achei que fosse minha amiga caga pros meus sentimentos.
- Eu não caguei pros seus sentimentos, tanto que vim aqui me desculpar. Acredite, não faço muito isso. Só que a Ariane é minha mulher, Megan - tento esclarecer amigavelmente. - Dentre as pessoas que conheço, ela é minha prioridade.
- Fala como se já fossem casados.
- Pra mim é indiferente se já nos casamos ou não; eu a considero minha esposa. Nós vivemos juntos, nós vamos ter um... Um futuro juntos.
Megan revira os olhos como se eu estivesse dizendo grandes idiotices.
- Eu acho que sua prioridade deveria ser você mesmo, Castiel. Você corre atrás dela como um cachorrinho, mas eu não a vejo tão devota a ti assim. Sinto muito, mas não acho justo que se dedique dessa forma a alguém que aparentemente não valoriza seus esforços e...
- Chega, chega, para - interrompo com firmeza. - Meu relacionamento é problema meu e da Ariane. Não me dê opiniões que não pedi.
- Quer saber, eu me equivoquei - ela assume uma postura defensiva. - Você não é tão legal quanto pensei. Estou aqui, me preocupando contigo, e você fica me tratando com grosseria. Sabe de uma coisa, Castiel? Vai se foder.
Megan tenta fechar a porta na minha cara, mas impeço com a mão, dando um passo para dentro do quarto.
- Oh, não, você não vai me transformar no vilão - digo irritadamente. - Eu só pedi para não se meter nos meus assuntos pessoais sem que eu peça, e isso é um direito meu.
- É esse tratamento que recebo por tentar ser uma boa amiga?
- Na boa, Megan, faça o que quiser - bufo. - Eu já fiz minha parte e pedi desculpas, se não quiser aceitar o problema é todo seu. Não espere que eu vá ficar aqui a noite toda, te lambendo ou implorando seu perdão, porque não vai rolar. Eu não faço esse tipo de coisa, por mais que goste de você. Então, boa noite.
Ouço a porta bater com força enquanto atravesso o corredor. Ótimo, que se dane. Não preciso disso, já tenho coisas demais em que pensar.
Ainda estou irritado com essa história quando chego em casa. Ariane, que está estudando no sofá, ergue a cabeça quando atiro o capacete no sofá menor.
- Boa noite pra você também - ela diz. - Qual o problema?
- Problema nenhum - respondo, indo até a cozinha para pegar uma cerveja na geladeira.
- Obviamente tem um problema. Por que está irritado?
- É a Megan - decido contar enquanto me sento perto dela. - Ontem eu fui rude com ela, então fui no hotel dela hoje para me desculpar.
- Calma aí, você estava com a Megan no quarto de hotel dela?
- Não, eu não entrei. Ela começou a me chamar de grosso e quis meter o bedelho onde não foi chamada, até mandou eu me foder.
- E daí? Por que as coisas que essa garota diz te afetam tanto?
- Por que? Sei lá, Greene. Por que as coisas que nossos amigos dizem nos afetam?
- Bom, eu não sabia que gostava tanto assim da Megan. Chamá-la de amiga não é um pouco de exagero?
- Por favor, não começa. Eu realmente não estou com humor para aguentar seu ciúme sem nexo - peço, massageando as têmporas com os dedos.
- Eu não disse nada - ela finge indiferença, continuando a ler as anotações no caderno.
- Está sendo passiva agressiva.
- Não, não estou. Se está com problemas com sua amiguinha preciosa, não desconte em mim.
- Viu? É disso que estou falando - esbravejo. - Foi um dia longo, eu só queria tomar uma cerveja e conversar com a minha noiva numa boa, mas você vem com esse veneno gratuito.
- Escuta aqui, Castiel, eu não vou ficar sentada e deixar que desconte suas frustrações em mim - Ariane fecha o caderno e se levanta. - E pra sua informação, não me interessa nada que tenha a ver com a Megan.
- Ah, tá, mas eu escuto suas historinhas com seus amigos - deixo a cerveja na mesa de centro e a sigo até o quarto.
- Perdão, mas quando foi que eu tive alguma historinha com amigo meu? Você sempre foi a única pessoa com quem eu brigo, Castiel. É o único que consegue me tirar do sério.
- Oh, e por que será?
- Porque eu te amo, seu porcaria.
Ok, eu tento manter a postura, mas é impossível não rir. Ariane está parada no meio do quarto, com uma regatinha preta e uma samba-canção minha, com o cabelo preso num coque doido, os pés descalços, as mãos na cintura e a cara emburrada. É adorável e me faz derreter, principalmente quando me lembro de que ela está carregando meu filho - nosso filho. Foda; mais uma criaturinha irritadiça para mandar em mim.
- Do que está rindo, posso saber? - ela cruza os braços. - Não, é melhor nem falar. Vou acabar ficando enjoada se ficar me estressando.
- Não, não, espera aí - seguro seu braço quando ela tenta passar por mim. - Foi mal, tá, eu não devia ter brigado contigo. É sábado à noite, vamos ficar numa boa. O que acha de nos sentarmos na varanda? Eu tomo minha cerveja, você toma um suquinho e nós comemos e conversamos.
- Tudo bem, mas só se me comprar um combo do McDonald's com tudo o que tenho direito.
- Já começaram os desejos? - arqueio as sobrancelhas.
- Não sei, não. Mas pretendo te explorar muito com essa gravidez - ela abre um sorriso malvado.
- Me pisa e me pisa - digo dramaticamente, fazendo-a rir. - Pede delivery, meu cartão está cadastrado no aplicativo.
Ariane sai do quarto em meio a uma risada maléfica bem mal executada, mas não deixo barato. Assim que ela se curva para pegar o celular no sofá, desfiro um tapa estalado em sua nádega direita. Ela grita um palavrão e tenta me chutar, porém a prendo em meus braços e a beijo.
Essa garota me deixa muito puto, mas também me faz mais feliz do que jamais imaginei que poderia ser, e eu mal posso esperar para ver como vai ser a pequena junção de nós dois.
