38

278 46 15
                                    

[ 15 de novembro, quinta-feira ]



  Toco a última nota e olho para o Jake, aguardando uma opinião sincera. Ele está me ajudando com a música do Leigh; já escrevemos uma porção de músicas juntos, ele manda bem nessa coisa. Jake balança a cabeça para cima e para baixo com um bico e olhar pensativos, os cachos presos num rabo de cavalo que mais parece um rabo de coelho fofo.

  — Está ficando muito bom — ele diz, por fim. — Mais alguns ajustes e estará pronto, na boa. Isso vai fazer o Leigh, você sabe, tirar as calças.

  Rio.

  — É, eu espero que sim.

  — Então, já que acabamos por hoje, será que podemos levar um papo?

  — Claro — viro meu corpo completamente no banco redondo, para ficarmos frente a frente. — Em que posso lhe ser útil?

  — Não me leve a mal, Keith, você sabe que não sou de me meter onde não sou chamado e tal, mas não acha que está na hora de resolver as coisas com o Castiel? Essa sua raiva silenciosa já está durando tempo demais, todo mundo notou. Não é bom para a banda.

  — Humpf, não me importo. Se Castiel tem algum problema com minha raiva silenciosa, ele que venha se desculpar. Se esperam que eu resolva as coisas depois da forma que ele me tratou para defender aquela idiota, podem tirar o cavalinho da chuva.

  — Qual é, tenho certeza de que ele falou tudo da boca pra fora.

  — Não interessa, Jake. Castiel sempre invalida meus sentimentos. Ele me dá esporros e me trata com grosseria e eu sempre relevo, mas não dessa vez. Se ele quer ser meu amigo, terá que se desculpar. Ponto final.

  — Puxa, você tem estado mais sensível desde que começou a namorar o Leigh — ele brinca.

  Sorrio de canto.

  — Você bem sabe como posso ser rancoroso. Passei três dias sem falar com o Mark porque ele comeu o pedaço de bolo que eu tinha guardado.

  — Eu lembro — Jake ri. — O coitado teve que comprar outro bolo pra você. Bom, vou tomar um banho e comer alguma coisa. A gente se vê amanhã.

  Nós trocamos um soquinho amigável e ele vai embora, me deixando sozinho no quarto. Por incrível que pareça, não tivemos que dividir dormitórios dessa vez — o hotel deve ser barato. Fecho o caderninho onde a letra da música está escrita e me levanto. Acho que vou comer alguma coisa também; estou morrendo de fome depois do evento dessa tarde. Não posso acreditar no número de pessoas que apareceram! É fantástico.

  Guardo o caderno na mala, ajeito o cabelo na frente do espelho do banheiro e vou para a porta. Castiel está do outro lado quando abro, prestes a bater. Franzo as sobrancelhas no mesmo instante.

  — E aí — cumprimenta. — Posso falar com você?

  — Não, eu estava indo comer. Sozinho.

  Castiel desvia o olhar por um instante, exasperado, e passa a mão no cabelo. A hair stylist deu uma aparada e retocou o azul escuro que, na minha opinião, fica bem melhor que o vermelho.

  — Por favor, ok? Quero te mostrar uma coisa que acho que você vai adorar ver.

  — E acha que vou conseguir apreciar seja lá o que for sendo um idiota sem cérebro? — cruzo os braços.

  — Eu não falei sério.

  — Pareceu bem sério para mim.

  — Mas não foi, Keith.

  — Então, peça desculpas!

  — Você não se desculpou com a Megan!

  — Não se trata da Megan — grito. — Se trata de como você tratou a mim, seu melhor amigo, quer admita ou não, para defender uma garota que mal conhece e que está obviamente tramando alguma maracutaia! Vai se foder, Castiel. Vai se foder se acha que vou fingir que nada aconteceu depois das coisas que me disse. Você me magoou e nem se digna a pedir desculpas. Não estou interessado no que tem para me mostrar, não quero ver.

  Tento fechar a porta, mas Castiel me impede com o pé.

  — Por que tem que ser tão rancoroso? — ele esbraveja, empurrando a porta com o ombro.

  — Rancoroso?! Você não dá a mínima pros meus sentimentos, seu merda! — empurro a porta também, para impedi-lo de entrar.

  — Merda é você!
 
  Dá para acreditar nesse imundo? Dou um passo para trás e a porta se abre com tudo, fazendo com que Castiel quase caia dentro do quarto.

  — Merda é você, seu merda! — grito, empurrando seu peito.

  — Não me empurra! — ele me empurra de volta.

  — Não me empurra você — empurro-o outra vez. — Como se atreve a vir no meu quarto e me tratar assim? Você é um imbecil, Castiel, mama meu ovo!

  É então que nós caímos na porrada. Nos empurramos, nos socamos, nos estapeamos e, meia hora depois, acabamos sentados lado a lado na minha cama, levando um sermão daqueles.

  — E é melhor  não saírem daqui até que se resolvam, entenderam? — o senhor Yang grita por fim, batendo a porta ao sair.

  Nós ficamos em silêncio por vários minutos, escorados na parede, eu com um saco de gelo no olho e ele com um saco de gelo na boca. Vamos ficar com hematomas que nos farão sofrer muito quando tentarem esconder com maquiagem. Me ajeito na cama, gemendo de dor. Esse desgraçado me acertou na costela.

  — Me desculpa — Castiel diz baixinho, abaixando o saco de gelo. — Não queria que chegasse a isso.

  — Tudo bem — respondo com uma careta. — Me sinto melhor depois de te dar uma surra.

  Ele dá uma risadinha.

  — Você sabe que eu te bati mais. Sua bunda magrela não pode me vencer.

  Sorrio, porque rir dói.

  — Perdão por ter te chamado de idiota sem cérebro e por ter gritado contigo na frente de todo mundo — ele olha para mim. — Agi como um animal. Tem razão, você é meu melhor amigo e merece mais que isso. Pode me desculpar?

  Abro um sorriso maior.

  — Fala de novo.

  — Você é meu melhor amigo, Keith — ele repete. — E se eu gostasse de homem até consideraria te dar um beijinho.

  — Tá legal, tá legal. O que queria me mostrar?

  Castiel pega o celular, clica em algumas coisas e passa para mim. Demoro um pouco para reconhecer a imagem, depois me dou conta de que é um ultrassom. Ai, caramba, a ultrassonografia da Ari! Sou tomado por uma onda de emoção e empolgação, ainda que o pequeno feto se pareça mais com um amendoim do que com um neném.

  — Você está chorando — Castiel diz. Dou uma fungadela. — Tudo bem, eu também chorei. Ariane me enviou as fotos ontem.

  Olho para ele, sorrindo.

  — Cara, você vai ser pai — afirmo. — Você vai ser pai!

  — Eu vou ser pai!

  De repente, estamos ambos gargalhando. Ignoro a dor e avanço para um abraço feliz que, surpreendentemente, é retribuído com o mesmo entusiasmo.

  — Se contar isso para alguém, eu te mato — Castiel diz no meu ouvido enquanto nos separamos.

  — É bom te ter de volta, Chase — rio.






Um pouquinho de Kestiel hahaha

Qual música brasileira vocês acham que o Castiel dedicaria à Ari? E o Keith ao Leigh?
 

YOU 2Onde histórias criam vida. Descubra agora