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[ 10 de novembro, quinta-feira ]



Avisto o Nathaniel sentado sozinho em uma mesa de concreto sob uma árvore, lendo. Ele está usando o óculos de armação fina que precisa pôr para ler, mas que só lembra de usar de vez em quando. O céu está cinzento e um vento gelado sopra, então não há muita gente matando o tempo no jardim — devem estar enfiados na biblioteca ou na sala de jogos ou na cafeteria. Reúno coragem para me aproximar. Só noto que ele está usando air pods quando chego na mesa, e ele só percebe minha presença quando me sento.

— Oi, Nate — cumprimento timidamente quando ele tira os fones. Não nos vemos desde segunda. — Posso falar com você?

— Estou no meio de um capítulo emocionante, então...

— Vai ser rápido. Por favor.

Nathaniel fecha o livro, cujo título é " Assassinato no Expresso do Oriente ".

— Pode falar — diz.

— Eu quero me desculpar pela forma que o tratei na segunda-feira.

— Eu só estava tentando ajudar.

— Sei disso. Eu estava irritada com um lance envolvendo o Castiel e...

— Ari, você está sempre irritada com um lance envolvendo o Castiel. Não os conheço há muito tempo, mas não sei como podem prosseguir com o relacionamento desse jeito, na boa.

— Só estamos passando por uma fase ruim — digo secamente. — De qualquer forma, não vim falar sobre meu relacionamento. Peço perdão por ter sido grosseira contigo naquele dia, você não merecia. Pode me perdoar?

Ele tira os óculos e esfrega os olhos.

— Está desculpada — declara por fim. — Só que eu juro que não entendo, Ari. Como pode querer se casar dessa forma? Como pode querer ficar presa em um relacionamento tão estressante?

— Meu relacionamento não é estressante, é só uma fase ruim.

— Até quando vai dizer isso a si mesma? Uma fase ruim que já dura há meses?

— O que você sabe? — levanto a voz, irritada. — Você acabou de se mudar para a cidade, nem nos conhece direito!

— Eu tenho olhos, Ari, posso ver que você e o Castiel não têm quase nada em comum.

— Temos muita coisa em comum.

— Diz uma.

— Não tenho que te dar explicações — fico em pé, pronta para ir embora. — Não se meta no meu relacionamento, ok? Eu e Castiel vamos nos casar em breve, vamos construir uma vida juntos e seremos muito felizes, e foda-se o que você acha disso.

Me afasto com passos largos, mas não vou muito longe antes de o Nathaniel me fazer parar com uma mão no meu braço.

— Ok, ok, foi mal — ele diz, fazendo um gesto de " calma aí " com as mãos. — Eu não quis te chatear.

— Você disse que nos respeitaria.

— Estou respeitando, Ari. Não falei aquelas coisas por estar dando em cima de você, falei porque te desejo o melhor, só isso.

— Estou muito bem, Nate — afirmo confiantemente. — Agradeço a preocupação, mas sei o que estou fazendo.

— Sabe mesmo? Você me contou que Castiel é o único cara com quem você já esteve. Como pode ter certeza de que o ama mesmo, e de que não está nessa relação por apego emocional?

— Você é o que? Um terapeuta?

— Fiz algumas aulas de psicologia — ele dá de ombros.

— Algumas aulas e já quer bancar o Freud comigo?

— Só me pergunto se você não tem nem um pouquinho de vontade de ficar com outro homem antes de assumir um compromisso dessa magnitude, mesmo que seja só uma vez.

— Com quem, por exemplo? Você? — arqueio as sobrancelhas.

— Eu poderia me voluntariar.

Comprimo os lábios e seguro seu braço.

— Nate, eu gosto de você — declaro. —, mas nunca vai rolar nada entre nós. Se eu fosse solteira, talvez, porém não agora. Eu amo o Castiel e ele me ama também, então, será que não podemos ser bons amigos? Nos conhecemos há, o que, cinco ou seis meses? Você só acha que está interessado em mim.

Nathaniel ri.

— Você tem mesmo dificuldade em acreditar que é uma pessoa interessante, não é? Na boa, boneca, se eu só achasse que estou interessado já teria superado, não é?

— Bom, a questão é que não são sentimentos reais.

— Quem é a terapeuta agora? — ele provoca e eu rio. — Tudo bem, Ariane, vamos deixar isso para lá. Não fique chateada, um homem tem que tentar.

— E tem que saber quando é hora de desistir também — empurro seu ombro de leve. — Não tente me envenenar contra o Castiel, ok? Não vai funcionar e você só vai conseguir acabar com a nossa amizade. Estou falando sério.

— Não é o que estou tentando fazer. Eu gosto do Castiel, só tenho minhas dúvidas quanto a se ele é realmente o homem com quem você deveria passar o resto da vida.

— Tá, beleza. Deixa que eu me preocupo com isso, valeu?

— Sim, senhora, não está mais aqui quem falou. Bom, vou voltar pro meu livro. Rola uma carona pra casa?

— É claro.

— Legal, valeu. Até mais tarde, gata.

Ele bagunça meu cabelo e corre de volta para a mesa, enquanto eu me dirijo à direção contrária. Eu sei que o Nate não sente nada real por mim, tenho plena certeza disso. Talvez ele se sinta atraído, por alguma razão que não compreendo, mas não está apaixonado. Ainda que esteja, é bom que saiba que eu não deixaria o Castiel e que é melhor deixar esse sentimento de lado logo. Realmente espero que possamos ser bons amigos, sem segundas intenções por trás, ou não terei opção a não ser me afastar.







Achei essa fanart no Pinterest e queria compartilhar:

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