[ 03 de setembro, quinta-feira ]
— Muito bem, pode abrir os olhos.
Uma casa. Uma casa grande, velha, com pintura desgastada, jardim mal cuidado e tábuas numa janela. Meu sorriso morre lentamente. Olho para o Castiel.
— Não entendi. Quer transar numa casa abandonada?
— Não, Greene — ele dá um peteleco na minha testa. — Vamos comprar essa casa! Quero que você avalie primeiro, é óbvio, mas tenho certeza de que vai gostar.
— Mas é velha. E se pessoas tiverem morrido aqui?
— Ninguém morreu, eu perguntei.
— Então, por que foi abandonada?
— É uma herança que ninguém quis. Vamos entrar, vou te mostrar tudo.
Apesar de estar relutante, o sigo para dentro da casa. O chão é de madeira, sem carpete. O térreo consiste em uma cozinha, sala, banheiro, lavanderia e um cômodo vazio. O andar superior consiste em dois quartos, um banheiro e um ambiente vazio não muito espaçoso. Também há um sótão, um porão e um jardim nos fundos. As portas são de madeira clara, o quarto principal possui uma sacada estreita e tem uma garagem com espaço o bastante para dois carros.
É um lugar muito bom no geral, mas precisa de muitas reformas. Castiel parece empolgado, disse que o preço é bem razoável — provavelmente por causa das reformas necessárias em questão. Tento vizualizar a casa depois de uma bela pintura, jardim renovado e com nossos móveis. Poderia ser um lar, mas...
— Não acha que ficaria caro para fazer todos os reparos necessários?
— Um pouco, acho, mas não precisa de tantos consertos. Eu mesmo posso arrumar tudo e pintar. Tenho certeza que os caras ajudariam.
— E vocês saberiam fazer todas essas coisas? Nunca vi você mexer com ferramentas, e as únicas coisas que te vi pintar foram o cabelo e as unhas.
— Por favor, Greene, assim você me ofende. É claro que dou conta de tapar uns buracos — ele segura minhas mãos. — Se você topar, vou contratar alguém para checar a parte elétrica e o encanamento, então essa casa será nossa.
— Tem certeza de que é uma boa ideia?
— Sem dúvidas! Poderemos construir nosso lar do zero, com a decoração e as cores que quisermos. Vai demorar um pouco pra ficar habitável, mas comprar já será um grande passo. Tem três quartos, um jardim espaçoso para as crianças, e podemos até usar aquele espaço vazio como área de lazer ou sei lá. Não é demais?
— É uma grande empreitada...
— Eu sei. Olha, confie em mim, não vou meter a gente numa furada — ele solta minhas mãos e segura meus ombros. — Só preciso que me diga se gostou da casa ou não, do resto eu cuido. Vou garantir que está tudo certo antes de comprarmos. Os reparos nós podemos pagar aos poucos.
Mordo o lábio, incerta. Comprar essa casa seria um grande investimento e, se desse errado, perderíamos todo o nosso dinheiro. Levaria um tempo para recuperarmos tudo e não podemos nos dar esse luxo — não com três filhos para cuidar. Mas, por outro lado, Castiel parece tão certo e empolgado, e seria incrível poder construir nosso lar do zero. Bom, não totalmente do zero, mas enfim.
Não podemos ficar com o Leigh para sempre.
— Tem certeza de que é um bom investimento?
— Ainda é preciso conferir a parte elétrica e o encanamento, como falei, mas tenho quase cem por cento de certeza. O que me diz?
— Eu não sei... Como encontrou esse lugar?
— Foi aquele corretor, o tal amigo do Leigh. O que conhecemos no chá de bebê.
— Não acha que devíamos pensar bem antes de tomar uma decisão? Quer dizer, eu gostei da casa, tem um espaço legal, mas não podemos nos dar ao luxo de fazer um investimento ruim. Não temos muito dinheiro.
— Eu sei, Greene, confie em mim — Castiel respira fundo e me guia até a escada da varanda, onde nos sentamos. — Quando aceitou se casar comigo, eu disse que não precisaria se preocupar com nada e que teríamos uma vida boa. Foi legal da parte do Leigh nos deixar viver com ele, mas morar de favor com um amigo não é o que quero pra nós. Quero que tenhamos nossa própria casa, quero que nossos filhos tenham os próprios quartos.
— Também quero isso.
— É nossa chance, Greene. A casa cabe no orçamento e posso vir todos os dias depois do trabalho pra fazer os reparos.
— E quando vai descansar?
— Quando estivermos no nosso novo quarto, na nossa casa nova e na nossa cama nova.
— Cama nova? — arqueio as sobrancelhas.
— É. Quero que você seja a única mulher que já deitou no meu colchão — ele pisca um olho.
Rio.
— Tudo bem — concordo. — Se estiver tudo certo, podemos comprar a casa. Vamos transformá-la em um verdadeiro lar. E posso te ajudar com os reparos, a pintura...
— Nada disso, garotinha, você já tem o trabalho e os bebês. Deixe que eu cuide de tudo.
— Mas é nossa casa, eu quero ajudar — faço um bico.
— Pode escolher as cores das paredes.
— Não, eu quero que tomemos decisões juntos — olho ao redor, então sorrio com euforia. — Nossa própria casa! Não é fantástico?
— É, sim — sorri, segurando minha mão. — Somos tão adultos, não somos?