[ 10 de dezembro, sexta-feira ]
Castiel está sentado na beira da banheira, acariciando minhas costas enquanto boto tudo para fora.
— Não precisa ficar aqui — digo, ofegante. — Está tarde e você tem que acordar cedo, vai pra cama.
— Não vou te deixar sozinha. Não devia ter comido tudo aquilo, Greene. Três cachorros-quentes, dois pedaços de bolo e ruffles com nutella? Isso é demais até para um adolescente em fase de crescimento.
— Diz isso pro seu filho — fecho os olhos, tentando conter o mal estar. — Não paro de sentir fome porque vomito tudo o que como! Essa criança vai acabar comigo.
— Talvez deva comer coisas mais leves e saudáveis, tipo legumes e verduras.
Lhe lanço um olhar irritado. Como se fosse fácil. Tenho vontade de comer porcarias o tempo todo; é como estar na tpm, só que pior. E mesmo que eu coma coisas leves e saudáveis, como ele disse, meu estômago se revolta. Não sei quanto tempo dura a fase dos enjôos, mas quero que acabe logo ou vou acabar expelindo meus órgãos pela boca.
Quando não resta mais nada para sair, me levanto e jogo água fria no rosto. Já passa da meia noite. Passo pasta de dente na escova e me olho no espelho; meu rosto está branco como papel. Castiel me abraça por trás e deita a cabeça no meu ombro enquanto escovo os dentes, depois apóia as mãos na pia para me prender entre ela e seu corpo.
— Me sinto mal toda vez que te vejo assim — diz.
— Assim como? Vomitando?
— É. Sinto que é culpa minha.
— Bom, eu deixei você me penetrar, então somos ambos culpados — Castiel ri. Coloco uma parte de seu cabelo para trás. — Não tem que se sentir mal pelos enjôos, guarde isso para quando as contrações começarem. Pode apostar que vou amaldiçoar todos os seus antepassados nos momentos de dor.
— Muito justo — ele assente uma vez com a cabeça. — Está se sentindo melhor? Quer que eu prepare um chá?
— Quero — respondo com uma voz manhosa que normalmente me constrangeria, mas que em atual estado parece bastante apropriada. — Chá e um antiácido. Não sei quanto tempo mais meu estômago vai aguentar.
Espero na cama enquanto Castiel prepara o chá, com as costas apoiadas na cabeceira e as pernas esticadas sobre o colchão. O celular marca meia noite e trinta. O garoto não demora muito para aparecer com uma caneca em mãos, que me oferece cuidadosamente antes de se acomodar do meu lado. Assopro algumas vezes antes de dar o primeiro gole; é de camomila.
— Obrigada pelo chá — agradeço. — Sinto muito por te manter acordado até tarde.
— Já disse que estamos juntos nessa — ele leva uma mão à minha barriga e a acaricia. — O que acha que vai ser? Há algumas noites sonhei que era uma menina.
— Não sei... Pode parecer loucura, mas sinto que é um menino.
— Não parece loucura. Você está gerando ele, tem instintos maternos.
Sorrio, colocando minha mão sobre a dele.
— Não importa qual seja o sexo, só me preocupo se serei uma boa mãe. Não sei nada sobre cuidar de bebês.
— Você será a melhor mãe do mundo, Greene, não tenho a menor dúvida — ele afirma, me olhando nos olhos com convicção. — Eu, por outro lado, não tenho certeza de que serei um bom pai. Com a banda e tudo mais, tenho medo de ser muito ausente, como os meus pais. A diferença é que eles se afastaram quando eu tinha uns quinze anos, e eu... Só quero que saiba que estou mais que disposto a levá-los comigo para todos os lugares, se quiserem ir. Eu juro.
— É mesmo? Não seria inconveniente pra você?
— Como a presença da minha mulher e do meu bebê poderia ser inconveniente?
Meu coração fica tão quente que se derrete. Minha mulher e meu bebê. Somos uma família. Há pouco mais de um ano estávamos implicando um com o outro e nos ofendendo a cada oportunidade e, agora, estamos aqui; sentados lado a lado na nossa cama, no nosso apartamento, noivos e com um filho a caminho. O mundo deu tantas voltas e tão rápido, que mal consigo acompanhar. De repente, meus olhos se enchem de lágrimas e cubro o rosto com a mão livre.
— Greene, o que foi? Por que está chorando?
— Porque você é lindo!
— Eu sei, mas você já deveria estar acostumada.
— Não — abaixo a mão. — Quero dizer que é muito fofo.
Ele faz uma careta confusa.
— Está chorando porque sou fofo?
— Porra, Castiel, eu estou grávida e sensível! Que droga, será que não entende? — esfrego o rosto para secar as lágrimas. — É que fiquei hiper consciente do fato de que estamos formando uma família.
Assopro o chá novamente e dou uma golada que quase acaba com tudo.— Tudo bem, ok, me desculpa. Então, já pensou em nomes? Eu pensei em alguns. Se for menina: Avril, Hayley ou Whitney. Se for menino: Michael, Chester ou John.
— Todas as suas sugestões estão relacionadas a música?
— Quais são as suas sugestões, então, espertinha?
— Para menina: Annabeth, Arya, Anne ou Katherine. Para menino: Charlie, Dante, Nico, Gilbert ou Edmond.
— Edmond? Pff. É brincadeira, né?
— Edmond é o nome do protagonista de O Conde de Monte Cristo, um clássico da literatura mundial — explico.
— Todos esses nomes são baseados em livros.
— Bem, e daí? — o desafio.
— Sei lá, talvez possamos combinar dois nomes. Você é Ariane Elizabeth, nosso filho pode ser John Gilbert ou Hayley Anne.
Faço uma careta.
— Acho melhor pensarmos mais nesse assunto. Ainda temos muito tempo, afinal — digo. — Mas quero lembrar de que sou eu quem vai ficar com tornozelos inchados, dor nas costas, e quem vai precisar ir ao médico todo mês e sentir uma dor absurda na hora do parto. Tenho prioridade na decisão do nome.
— Isso não é nada justo, Greene, meu DNA está aí dentro também. Eu participei da criação dessa criança.
— Sua participação durou cinco segundos, a minha durará nove meses. Bota na balança.
— Cinco segundos?! Cinco segundos?! — Castiel leva a mão ao peito com indignação. — Eu duro muito mais que isso e você sabe. E, se bem me lembro, você curtiu bastante esses supostos cinco segundos, Greene. Lembro até de umas palavras de baixo calão, se quer saber. Ai, isso, mais forte, vai.
Deixo a caneca na mesa de cabeceira e o ataco com meu travesseiro.
— Cala a boca! — ordeno. — Você é muito maníaco se se lembra das coisas que falo durante o sexo.
— As coisas que diz durante os cinco segundos?
— Ai, na boa, deita aí e dorme logo — reviro os olhos, ajeitando o travesseiro no devido lugar.
— Cinco segundos — Castiel resmunga, se aconchegando na cama. — Você feriu meu ego, Greene. Eu te daria um trato bem dado se não tivesse que levantar super cedo.
— Trato bem dado?! Era só o que me faltava mesmo — solto um riso incrédulo. — Está usando a desculpa de acordar cedo porque sabe que tenho razão, essa é a verdade.
— Tá legal, garotinha, agora você me provocou — ele segura meus pulsos e me prende contra o colchão. — Cutucou a onça com vara curta, acordou o tigre. Prepare-se para gritar.
Castiel ataca meu pescoço com beijos brincalhões que me fazem gargalhar por conta das cócegas, depois volta a se deitar e eu me ajeito em seus braços. Queria que a noite não acabasse para que ele não tenha que partir por um mês.