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Alê✨

Meu Deus, olhar pra Cacau e ver a dor no rosto dela...ver o vazio nos seus olhos...me corta o coração, sabe? Me lembra do primeiro dia que eu conheci ela, ela tinha esse mesmo semblante, e também me cortou o coração com isso.

Me pergunto oq deve tá passando na cabeça dela agora...

Com certeza muito medo, tristeza, raiva...

Meu Deus, tomára que o tempo cure tudo isso e que ela volte a ser a menina que ela era...tão doce, calma, e que não tinha medo do Gab, porque ela tá com muito medo dele agora. Ela ainda não se tocou muito disso, talvez nem ele, mas eu vi nos olhos dela. Quando ele chega perto, ela treme, fica nervosa, estrala os dedos sem parar, e nem quer que ele encoste nela.

Não sei bem oq aconteceu pra ela pegar esse pânico justo dele, mas isso ainda vai machucar muito os dois, com certeza.

Bom, mas agora eu vou ver minha bb, minha Ana que também tá muito abalada com tudo isso e que agora precisa de mim mais doq nunca também.

Bato na porta do quarto e não tem resposta, mas eu abro mesmo assim, e vejo ela em pé se olhando séria no espelho.

Alê: Filha?! - chamo e ela nem me olha.- Quê que cê tá fazendo aí parada? - pergunto preocupada e entro no quarto fechando a porta.

Pelo espelho eu vejo ela se olhando com um olhar de raiva, e os olhos marejados de lágrimas.

Ô meu pai...

Alê: Ana...- suspiro e tento encostar nela, mas ela desvia do meu toque se virando pra mim com os olhos cheios de lágrimas.

Ana: Por que comigo, mãe? Por que eles sempre fazem isso? Eles não tinham esse direito...não tinham! - fala com ódio chorando e eu fecho os olhos com dor no peito.

E agora? Oq eu posso falar pra ela? Oq eu posso falar sem chorar mais que ela?

Alê: Filha, eu sei que é difícil...mas você é forte, você e elas. Vocês vão superar tudo isso...- nego pegando na mão dela e ela nega enxugando as lágrimas com força.

Ana: Não! Eu tô cansada de ser forte, cansada de precisar andar com segurança 24 horas pra impedir que monstros como esses caras, estuprem e matem a gente! - grita.- Eu não escolhi ser dessa familia, não escolhi ser sua filha e do meu pai! Eu não queria ser traficante, não queria ser bandida e muito menos ter matado um décimo das pessoas que eu matei, mas eu tive que fazer muita merda dessas por causa dos inimigos que VOCÊS arrumaram, que queriam atingir VOCÊS, mas que ME fizeram mal porque ia doer mais em Vocês se fosse assim...mas eu tô cansada! - grita com raiva olhando nos meus olhos e eu só consigo chorar.

Quanto ódio, meu Deus...nunca vi ela assim!

Alê: Filha...- sussurro chorando enquanto ela nega e pega um casaco no guarda-roupa.- Onde você vai, garota?? - pergunto sentando na cama sem forças nas pernas.

Ana: Eu vou pra qualquer lugar onde não tenha um bando de hipócritas que sabem que tem culpa nessa merda toda, mas que só sabem dizer pra gente ser forte, COMO SE A GENTE NÃO TIVESSE SOFRIDO NADA! - grita denovo com raiva enquanto bota o casaco.- E para de agir como se um sorrisinho meigo diminuísse toda a dor que a gente tá sentindo, PORQUE NÃO DIMINUI! - grita mais alto e põe o capuz do casaco na cabeça, saindo rápido do quarto.

Meu Deus...eu nunca vi ela gritar tanto, ficar tão agressiva...

Pra onde ela foi?

Alê: ANAA, ANA VOLTA AQUI! - chamo ela chorando, mas só escuto ela descer as escadas correndo.

Aconteceu na Rocinha...Onde histórias criam vida. Descubra agora