Bazilho
Acordei com Thales berrando do meu lado.
Eu abri os olhos e fui levantando cambaleando. Thales parou na mesma hora de berrar.
Ele veio vindo pra perto e eu peguei ele no colo.
— Precisava berrar? - Perguntei embolado.
Fui guiando com ele até a cozinha, deixei ele sentado na cadeira e fui preparar o leite dele.
— Papai... - Thales disse baixinho.
Eu fiquei parado, virei devagar pra ele e ele veio andando.
Primeira vez caralho...
Eu abracei ele fortão.
Esse moleque é o que eu sempre quis, minha maior alegria.
— Amo tu cara, amo demais filho! - Falei beijando a cabeça dele.
Ele deu um jóia e se sentou no chão.
Eu fiquei encarando ele que brincava com os próprios pés.
Terminei de fazer o leite dele e fui fazer aquele cafézinho. Dei pra ele a mamadeira e guiamos pra sala assistindo o desenho dele.
Thales assistia bebendo leite e deitado a cabecinha no meu braço.
Eu tava viajando. Minha mente não tava aqui no Brasil não, tava lá com a Dag. Pô, por mim eu ia junto, não consigo ficar longe daquela lá.
Sentimento é forte demais!
******
Era umas duas da tarde, eu tinha colocado o Thales pro cochilo da tarde. O advogado tava chegando aqui, dizia ele que precisava falar sobre o processo, como tava rolando.
Quando ele chegou, ele tava lá com uma cara nada tranquila.
— E ai? Qual é do papo? - Perguntei sentando no sofá.
Ele se sentou e começou a procurar uns papéis na bolsa dele.
— Seguinte Bartolomeu... Entraram em contato comigo ontem, era a advogada da família da mãe biológica do Thales. Querendo ou não eles tem direito de guarda do Thales também. A assistente social está indo pra Pavuna, é lá aonde eles moram. A Hilda vai fazer as mesmas perguntas a eles. Mas eu farei de tudo pra rebater e deixar o garoto com vocês! - O advogado disse.
Eu passei a mão no rosto sentindo vontade de socar tudo.
— Tá e ai? Pô, eu tenho uma condição melhor pra criar. - Falei me levantando. - Eles tá tão preocupados que quando a coroa dele tava nas drogas e ela levava ele na boca de fumo, ninguém veio atrás! - Falei socando a parede.
— Eu sei Bartolomeu, mas querendo ou não eles tem direito de entrar na justiça e brigar pela guarda também! - O advogado disse.
— Tem o direito enfiado no cu só se for. Bagulho péssimo, ninguém veio atrás até agora, por que querem a porra da guarda? - Perguntei.
O advogado leu um papel e se levantou.
— O menino tem direito a uma herança do pai. - Ele disse me entregando um papel.
Eu peguei e comecei a ler um bagulho que eu nem tava entendendo.
— Me explica, esse bagulho tá em árabe é? - Perguntei bufando.
— É o seguinte, o pai biológico é um empresário da zona sul, casado e com filhos. Ele saia com algumas garotas de programas, a falecida mãe de Thales era uma garota de programa que saiu com ele uma vez e acabou engravidando... Ele registrou normalmente e pagava uma pensão pra que não caísse no ouvido da esposa dele. - O advogado disse sentando no sofá novamente. - E o que se pode saber é que a pensão é por volta de dez mil reais por mês... - Ele disse.
Eu fiquei encarando aquele papel e fechei os olhos sentindo mo angustia.
— Aonde tu descolou esses bagulho todo? - Perguntei.
— No instante que eu soube ontem, eu entrei em contato com ele, e acabei conversando com ele e com o advogado dele! - O advogado disse.
*****
E
u fiquei malucão depois dessas idéias.
Negada é sem vergonha, quando envolve dinheiro, nego tem coragem até de matar. Esse que é o problema, aqui na favela já teve caso assim, uma senhora ficou com o neto pela pensão, tu tinha que ver como a criança cresceu, na maior revolta, a avó tratava o moleque como um lixo.
— Tu tá pensando no que ai? - Ouvi a voz do Curió.
Olhei pro Curió e ele tava segurando um salgadinho enquanto Thales tava no colo dele comendo salgadinho.
— Nos bangue do Thales, pô, tá dando a maior canseira em mim. Negada é foda, interesseira por causa de dinheiro! - Falei negando.
Curió bateu na minha costa.
— Relaxa ai irmão, vai dar tudo certo, confia naquele lá de cima que tudo da certo. - Curió disse e eu assenti.
Eu era capaz até de matar por aquele moleque. Esse barulho de querer ficar com ele por causa da grana, era maluquice.
Ia ficar aqui caralho.
• aperta na estrelinha •
Muita luz nesse novo ano, toda esperança do mundo pra esse ano! ✨
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Libertinagem
Teen FictionEm uma sociedade totalmente preconceituosa, existe Dagmar, uma trans que corre atrás pelos seus direitos. Mas morando na favela, o que não tem é respeito, mesmo ela sendo filha de um dos traficantes mais temido do Rio de Janeiro.