Dagmar
Sexta feira.
Já havia passado os dias e já tinha chego a sexta.
Infelizmente o último dia do desfile.
Tirando as coisas que haviam acontecido, tinha sido tudo como eu sempre sonhei. Olívia me indicou e passou meu contato a vários estilistas de alto padrão.
Amélia havia ficado encantada com a minha simplicidade e com a minha história. Eu contei tudo, em momento algum ela me olhou com olhos de julgamento e de desaprovação. Pelo contrário, me prometeu que iriamos nos ver em breve, pois ela não queria perder contato algum comigo.
Já Débora, não trombava comigo. Thomas evitava chegar perto.
*****
Encarei Thamara que escolhi a roupa dela e suspirei fechando os olhos.
— É o último desfile, você tem que tá arrumadona também sabia? Você vai entrar no palco logo depois que todas modelos sua voltar pros bastidores. - Thamara disse e eu arregalei os olhos.
— E quem te disse isso Thamara? - Perguntei me levantando.
— Débora, ela mesma disse pra você tudo como seria! - Thamara disse.
Puts, era mesmo...
Nem me lembrava mais.
— Que roupa tu acha que eu devo ir? - Perguntei me levantando e indo bagunçar a minha mala.
— Você tem algo vermelho? Brilhoso? Sei lá! - Thamara disse.
— Vermelho tenho, mas queria algo mais com cara de vadia, nada de coisa longa, não to em convento! - Falei.
— Então vai ter que sair pra comprar! - Thamara disse. - Chama o Bazilho, eu preciso tirar minha sobrancelha e me depilar! - Ela disse e eu assenti.
Eu me levantei colocando um casaco enorme e vestindo meu tênis, sai do quarto indo em direção ao quarto do Bazilho, eu bati umas duas vezes e quando ele abriu, ele só tava de cueca.
— E se é a camareira? O mordomo? - Perguntei entrando.
— Ih, o que tem? Todo mundo já viu uma rola na vida! - Ele disse e eu olhei feio. - O que foi gata? - Ele perguntou me abraçando.
— Passei aqui pra ir comprar uma roupa, é o último dia e eu vou ter que subir no palco! - Falei dando um selinho nele.
— Quer que eu vá contigo? - Ele perguntou e eu assenti.
Bazilho se afastou de mim vestindo a calça preta que vestia, o tênis preto, e um casacão.
— Quem olha até acha que é um bom moço, que tem a profissão de empresário! - Falei negando e ele riu mostrando o dedo do meio.
******
Pesquisei lojas de roupas que haviam ali, fomos caminhando mesmo, até por que aonde a gente tava era praticamente o centro da cidade. Entramos em uma loja fina, vi vestidos de todos os preços, mas o que eu me interessei mesmo era caríssimo. Convertendo o valor pro real, seria mil e duzentos.
— Que caro da porra, tem o que nesse caralho! - Sussurrei pro Bazilho.
A atendente olhava pra gente ainda sorrindo sem entender nada do que falávamos.
— Experimenta pô, dinheiro não é o problema mão de vaca! - Bazilho disse e eu peguei o vestido.
Pensa no vestido. Cheio de brilho, ele era prata, a costa toda aberta, um decote razoável, com uma manga de tule cheio de brilho.
Eu entrei no provador, retirei minha roupa, vesti o vestido, e me encarei naquele enorme espelho.
Não tem como não ser esse!
— Batou as botas ai dentro? - Ouvi a voz do Bazilho.
Eu sai do provador recebendo olhares de todos da loja.
— Uol, you are perfect! - A atendente disse sorrindo. ( Você está perfeita!)
— Thank you! - Falei sorrindo. ( Obrigada). - O que tu achou amor? - Perguntei a Bazilho que não tirava os olhos em mim.
Ele veio chegando perto e me deu aquela voltinha.
— É esse Dagmar, tu não tá tendo noção do quanto tu tá gostosa! - Ele disse e eu revirei os olhos. - Cara, tu sabe que tu tá linda. Mas ainda acho que esses vestido não chega aos pés do teu brilho natural boneca! - Ele disse beijando minha bochecha e eu ri.
Eu suspirei segurando a etiqueta e encarei a atendente e Bazilho.
— Tu faz um desconto aê moça? - Bazilho perguntou na maior naturalidade.
Ela ficou sem entender nada. Ele pegou o celular e começou a digitar tentando pronunciar pra ela, que logo disse que se pagassem a vista, teriamos desconto de 10%.
— Ainda vai ficar caro, eu vou ver um vestido mais barato! - Falei entrando no provador.
Dei a última olhada no vestido e retirei ele. Vesti novamente a minha roupa e ouvia a voz do Bazilho com a da atendente.
Bazilho falando inglês é piada.
Amarrei meu cabelo e peguei o vestido. Fui saindo do provador e fui caminhando até a atendente, dei o vestido e fui até Bazilho que tava sentado.
— Me ajuda a escolher! - Falei.
Logo senti me cutucarem, me virei e era a atendente com a sacola.
— Thank you very much for your purchase, check back often! - A atendente disse e eu segurei encarando Bazilho e ela. ( Muito obrigado por sua compra, volte sempre!)
— Valeu aê! - Bazilho disse fazendo jóia pra moça e foi entrelaçando nossas mãos.
— Ah Bazilho não to acreditando! - Falei negando.
— O que? - Ele disse me puxando pra fora da loja.
— É caro demais porra, olha o que tu me comprou! - Falei emburrada.
— Quero tu a mulher mais elegante dali, se tu tá feliz com esse vestido, eu to mais ainda pô. Para de querer dar piti, tu vai morrer e a grana vai ficar cara! - Ele disse.
Eu abracei ele.
— Obrigado... Obrigado mesmo! - Falei ainda abraçada.
— Sou capaz de tudo por tu minha nega! - Ele disse beijando minha testa. - Agora nois mete o pé pro hotel, tu da aquela arrumada em tu, fica mais gostosa do que já é, e bora! - Bazilho disse me abraçando forte.
Sorri vendo que ele era meu maior abrigo. Não pelo fato dele ter comprado o vestido, mas pelo fato dele estar do meu lado, de ter saído do Brasil e vindo, de ter acreditado em mim.
• aperta na estrelinha •
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Libertinagem
Teen FictionEm uma sociedade totalmente preconceituosa, existe Dagmar, uma trans que corre atrás pelos seus direitos. Mas morando na favela, o que não tem é respeito, mesmo ela sendo filha de um dos traficantes mais temido do Rio de Janeiro.