Dagmar
Algumas semanas depois...
Eu não tinha voltado pra lá ainda, Thamara estava no meu lugar. O que eu tinha feito tinha pesado a minha mente, eu estava me sentindo um monstro.
— Tu não pode ficar assim! - Ouvi a voz do Bazilho.
Eu tava na laje olhando o sol nascer, enquanto vários moradores saíam pra trabalhar.
Bazilho me abraçou por trás e eu suspirei fundo.
— Eu não devia ter feito aquilo, ter dado a surra já tava de bom tamanho! - Falei.
— Ela foi com a ameaça, e tu sabe que ela ia conseguir o que ela queria. - Bazilho disse. - Relaxa mulher, não quero te ver assim, tu não pode parar tua vida por causa disso! - Ele disse e eu me virei encarando ele.
— Não queria ter feito aquilo... - Eu falei e abracei Bazilho que acariciava minha cabeça.
— Eu sei minha gata. - Ele sussurrou. - Não quero te ver triste, quero que tu se arrume hoje que a gente vai dar uma volta, tá ouvindo? - Bazilho disse e eu assenti.
Ele depositou um beijo na minha testa e me puxou pra dentro de casa.
Ele saiu pra ir pra boca, eu voltei pra cama com Thales. Eu fechei os olhos e acabei apagando.
*****
Só acordei com a porta quase sendo arrombada, Thales ainda dormia, eu me levantei com tudo e fui abrindo a porta dando de cara com minha mãe.
— Nossa, achei que ia derrubar a casa! - Falei dando espaço pra ela passar.
— Tava quase viu. Se eu tivesse aquele mesmo pique que eu já tive, eu teria escalado, e entrado pela laje. - Minha mãe disse se sentando no sofá. - Mas e ai? Tá melhor? - Ela perguntou.
— Eu to tentando nem lembrar de nada sabe? Me abalou muito isso! - Falei passando a mão no rosto.
— É isso ai. - Ela disse. - Nossa você precisa de um trato, tu tá horrível de aparência, tá sem dormir a quanto tempo em? - Ela perguntou.
Mais sincera impossível.
— Uns dois dias, fui dormir agora só... - Falei. - É, eu vou me arrumar, o Bazilho falou pra gente sair. Certeza que é pra comer um dogão, e eu to louca pra comer viu! - Falei com água na boca.
— Vão, eu fico com o Thales, sem problema algum! - Ela disse e eu assenti. - Aliás, eu vim buscar ele, você sabe como é né, casa de vó é sempre melhor do que a da mãe, no caso eu to vendo que vocês nem comida tá dando pro Thales, tá muito magrinho coitado! - Minha mãe disse se levantando.
— Magrinho? Esse menino não para de comer, parece uma versão do Bazilho. - Falei negando.
— Pois bem, vim buscar! - Ela disse indo pro quarto, eu dei de ombros e fui pra cozinha pegar umas bolachas e logo ouvi a porta bater.
******
Era umas duas da tarde, Bazilho tinha avisado que era pra mim me arrumar.
Vai me levar pra onde nesse sol ardido?
Ele chegou pegou uma roupa dele e saiu sem nem falar mais nada. Eu sai do banho e logo ouvi a porta bater, eu fui lá e era Cecília arrumada.
— Tá calor demais esse sol! - Cecília disse entrando.
— Toda bonitona, vai aonde em? - Perguntei.
— Churrasco de não sei quem! - Cecília disse. - E tu? - Ela perguntou.
— Sei lá, Bazilho inventou de sair e falou pra mim me arrumar, eu só vou colocar um shorts e uma rasteirinha e tá de bom tamanho! - Falei indo pro quarto.
— Rasteirinha e shorts? Pelo amor em, vai arrumada Dagmar, o espírito de pobre mesmo em! - Cecília disse.
— Ah e você acha que eu tenho que ir de salto quinze ali no bar do seu Zé? - Perguntei como se fosse óbvio.
Eu comecei a pegar as maquiagem e me rebocar, enquanto Dagmar olhava meu guarda-roupa.
— Olha que vestido bonito! - Ela disse me mostrando.
Eu olhei e vi uma vestido meu da época que eu tava em São Paulo. Todo rendado branco, curto e colado no corpo.
— Nem usei ele, lembra quando comprei? Queria era usar na praia ele! - Falei.
— Usa hoje, ele é lindo mesmo! - Cecília disse.
— E qual rasteira? - Perguntei.
— Credo, vai com um salto! - Cecília disse.
Eu olhei com a maior cara de deboche.
— De salto? O Bazilho vai estar com a camiseta do flamengo e com a havaiana no pé! - Falei.
— E daí? Você acha que eu vou desarrumada pro churrasco, eu vou bem que assim arrumada! - Cecília disse e eu revirei os olhos.
*****
Enfiei aquele salto que já tava me apertando toda.
Sem sentido algum.
Cecília saiu e me deixou sozinha.
Eu terminei de me perfumar e logo ouvi a porta bater, eu fui caminhando e dei de cara com Bazilho.
Eu olhei ele todo e ele tava com uma calça jeans, um mocassim e um camisão social branco.
— Que porra é essa? - Falei rindo.
Se passar pela polícia, nem para, vão achar que é um pastor.
— Tu tá linda em! - Bazilho disse me abraçando e cheirando meu pescoço.
— A gente vai pra onde que tu tá tão arrumado? Nunca te vi assim! - Falei.
— Surpresa! - Bazilho disse e pegou na minha mão.
• aperta na estrelinha •
Se cuide! ❤️
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Libertinagem
Teen FictionEm uma sociedade totalmente preconceituosa, existe Dagmar, uma trans que corre atrás pelos seus direitos. Mas morando na favela, o que não tem é respeito, mesmo ela sendo filha de um dos traficantes mais temido do Rio de Janeiro.