Dagmar
Voltei da escola com aquele sol dos infernos. Eu contando pra Cecília e ela xingando ele de salafrário, sem vergonha e blá blá blá...
— Ele e Tatão pode segurar a mão um do outro e ir pro inferno de tobogã! - Falei com os braços cruzados.
— Eu não aposto muito no Tsunami também não viu, eu não consigo confiar não! - Cecília disse.
Parece que Tsunami ouvia de longe o nome dele e aparecia.
— Ê boqueteiro! - Gritei acenando.
Ele mostrou o dedo do meio rindo e veio me cumprimentar com um beijo no rosto.
— Falaram que tu tem uma boca em Dag, falaram que batem punheta lembrando já que chance não tem mais! - Tsunami disse abraçando Cecília.
— Ih que maluquice em. Tu foi traíra comigo pilantrinha! - Falei negando.
— Pô, eles tinha dado um tempo. Eu não fico vinte quatro pra quarenta e oito cheirando o cu dele pra saber! - Tsunami disse e eu dei de ombros.
A gente foi subindo até a casa de Cecília, eles se atracaram lá e ela entrou. Ele subiu comigo enquanto enrolava pra falar...
— O que você tem pra me falar em? Tá se enrolando ainda! - Falei.
— Cês vão mermo? Tava querendo pedir a Cecília em namoro! - Tsunami disse.
Eu parei de andar e encarei ele todinho.
— Coragem em. Já viu a pexeira que Marcola tem na casa dele? Vai nessa bonitão! - Falei e ele arregalou os olhos.
Marcola, o bicho ruim.
— Cê acha que ela aceitaria? - Tsunami perguntou.
— A questão não é ela não. É ele mesmo! - Falei rindo e fui caminhando mais rápido.
Ele ficou pra trás. Eu fui subindo aquela ladeira do cão. Quando vi eu já tava perto.
O diabo, é sujo, ele gosta de ver o circo pegando fogo, ainda mais quando eu sou a dona dele.
— Preciso bater um papo reto contigo! - Sasi disse.
Eu me desviei e ele me puxou.
— Que merda de intimidade é essa caralho? - Falei puxando meu braço.
— A intimidade que comeu teu cu! - Sasi disse.
— Se eu soubesse eu teria cagado nele! - Falei andando e deixando ele pra trás.
Não bastar, ele veio do meu lado caminhando.
Nunca torci tanto pro meu pai aparecer enquanto eu estava com um menino.
— Tu entendeu foi errado! - Sasi disse.
Eu Bufei e parei encarando ele.
— Eu entendi foi é certo, você que não entendeu que você que tinha que ter tido respeito pela mona lá e tua filha, que mané é esse papo de eu ser amante? Tá louco é? Você acha que eu não tenho vergonha na cara não? Me poupe, o que eu não quero pra mim, eu não faço pros outros. Agora, nunca mais vem atrás, não sei por que tá vindo falar, emocionado demais com algumas sentadas! - Falei e deixei ele lá.
Guiei pra minha casa e fui direto pro banho. Precisava tomar aquele banho. E quando sai minha mãe me encarava como se ela soubesse de algo.
O vida cheia de b.o em!
— Fala dona do meu viver! - Falei abraçando ela forte.
Ela arqueou a sobrancelha e riu.
— Que papo é esse de você tá de rolo com aquele cara negão da biqueira? - Minha mãe perguntou.
— Quem disse? É ruim em. Eu não to de rolo com ninguém não! - Falei me fazendo a de maluca.
— Você acha que as coisas não correm pela Rocinha não? Ainda mais você. Povo fala muito dona Dag! - Minha mãe disse.
Fomos pra cozinha, peguei meu prato e suspirei.
— Ele é casado, fiquei sabendo, a mona lá é maior gata, ela veio falar comigo numa boa por que sabia da safadeza dele! - Falei colocando comida no prato.
— Que sem vergonha. Homem pilantra é o que não falta. - Minha mãe disse negando com a cabeça.
******
Encarei aquelas ruas da Rocinha. Cecília tava do meu lado. Eu segurei a mão dela e a gente suspirou juntas.
— Você tem certeza que quer ir pra São Paulo comigo? Eu só volto de lá formada! - Falei séria.
— Eu quero ir, eu quero seguir meu rumo, não quero seguir o tráfico não! - Cecília disse rindo e se benzendo.
— A gente vai, vai dar tudo certo, quando a gente voltar, vamos tá arrasando, e além disso formada e sem macho de trás! - Falei e Cecília gargalhou alto.
Eu vou mudar, Dagmar nunca mais vai ser a mesma depois que sair daqui!
• aperta na estrelinha •
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Libertinagem
Teen FictionEm uma sociedade totalmente preconceituosa, existe Dagmar, uma trans que corre atrás pelos seus direitos. Mas morando na favela, o que não tem é respeito, mesmo ela sendo filha de um dos traficantes mais temido do Rio de Janeiro.