Dagmar
Semanas depois...
Eu tava correndo com as coisas, eu precisava terminar as últimas coisas para o desfile.
Andava tendo muito ensaio, e quem estava encarregada com os ensaios das modelos, era a Thamara, a coitada ficava dia e noite querendo que tudo ficasse perfeito...
Eu sou tão grata pela Débora e pela Thamara. Se não fosse elas, nada taria acontecendo.
Eu tava ficando maluca com tudo. Com o processo da doação mais ainda. O advogado sempre entrava em contato avisando como estava o processo, e sempre era aquela mesma história, demora e mais demora...
A única coisa que eu havia assustado, era que a família biológica do Thales tava atrás de querer a guarda dele.
A assistente tinha ido lá, eu torcia pra que ela não tivesse gostado de lá e nem das pessoas. Até por que, querendo ou não, eles tinham uma vantagem...
Eles era biologicamente parente do Thales, era a avó biológica dele.
*****
Encarei as meninas desfilando e viajei imaginando em como seria.
— O que você acha Dag? - Thamara perguntou.
Sai dos meus pensamentos e vi elas vindo em minha direção desfilando.
— É isso ai mesmo meninas. - Falei batendo palmas. - Vocês estão incríveis, vocês são incríveis! - Disse sorrindo vendo que tudo aquilo tava acontecendo.
— Já é semana que vem! - Débora disse me olhando enquanto mordia a caneta.
— To muito nervosa com isso, mas eu sei que vai dar tudo certo. Vocês vão arrasar, acredito em todas!!! - Falei sorrindo.
As modelos sorriram animadas e saíram daquela salinha.
— Achei que seria homens trans também! - Thamara disse.
— É, eu queria também, mas tinha um limite de pessoas, e elas já tinham preenchido os lugares! - Falei.
O que eu queria mesmo era mulheres e homens trans, mas dessa vez só seria mulheres trans.
Todas lindas.
— Preciso ir, mas eu sou muito grata por vocês duas. - Falei beijando o rosto das duas e saindo da sala.
Eu precisava ver como havia ficado o barracão que aliás, coloquei o nome de:
“ arco-íris ”
Simbolizando a bandeira.
A reforma tinha acabado, tudo tava pronto, eu fiquei umas duas semanas sem ir ver, eu tava ocupada demais com Thales e com o desfile.
Cheguei em Madureira e já via a parte de fora.
Meus olhos se encheram de lágrimas.
— Eu consegui! - Falei mordendo a boca segurando pra não chorar.
Peguei a chave e abri vendo o quão lindo estava.
Eu me abaixei me ajoelhando e fechei os olhos pensando no que eu já tinha passado com o preconceito.
As pessoas são tão podres por dentro, não generalizando, mas a maioria. As pessoas não sabem respeitar a orientação, o jeito que vive, o jeito que se veste, o jeito que fala, o jeito que o cabelo é, o jeito que o corpo é...
Eu queria entender o que a pessoa sente em humilhar a outra. Prazer? Satisfação em ver o outro mal? E cadê a porra do amor ao próximo? Gente hipócrita que prega uma coisa e faz totalmente outra.
******
Fui direto pra casa, Thales tava com a minha mãe, eu peguei ele e fui pra praça. Eu precisava daquilo. A quanto tempo eu não saia pra ficar sentada na praça? Tempos e mais tempos.
Sentei Thales no chão enquanto ele mexia com o carrinho dele.
Peguei meu celular e finalmente fui mexer no WhatsApp. Tinha várias mensagens da Cecília, avisei que eu tava na praça e que era pra ela vir.
Não demorou muito e já vi ela vindo.
— Cadê o gostoso da titia? - Cecília disse com uma voz de criança pro Thales.
Thales já começou a sorrir pra ela.
Ela pegou ele no colo e se sentou do meu lado.
— E ai? Vida corrida em, fui na sua casa ontem e tua mãe disse que tu tinha capotado já! - Cecília disse.
Eu suspirei assentindo com a cabeça.
— Essa correria toda tá me cansado real amiga, tu nem imagina. Esses negócios do Thales, o desfile... - Falei. - Mas acontece, e tu? - Perguntei.
Ela me olhou e olhou pro Thales.
— Eu to achando que to grávida! - Cecília disse e eu arqueei a sobrancelha.
— Como assim? - Perguntei.
— Tá atrasada minha menstruação, sei lá, as vezes é só a mente que faz esses negócios acontecer! - Cecília disse. - Queria fazer um teste, mas to em choque de fazer e estar! - Ela disse.
— Foi pra guerra sem colete e quer não ser bombardeada amor? - Falei rindo e ela riu negando com a cabeça. - Vamos lá na farmácia pra tirar a dúvida, que agora até eu to curiosa! - Falei me levantando.
Ela se levantou e guiamos até a farmácia. A moça deixou ela fazer o teste lá no banheiro mesmo. Eu fiquei olhando protetor solar enquanto esperava Cecília sair.
— Ai filho, calor em, preciso comprar um protetor bom, aquele que eu comprei era pura água! - Falei olhando os preços. - Meu Deus, que roubo é esse, um protetor de 100 ml oitenta reais, tem ouro é? - Falei negando com a cabeça.
Deixei de lado e fui pra perto da porta. Esperei mais uns minutos e nada de barulho.
— Desmaiou com o resultado? - Falei alto rindo.
Na mesma hora Cecilia abriu com tudo a porta.
• aperta na estrelinha •
Muita luz na tua vida. ✨
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Libertinagem
Teen FictionEm uma sociedade totalmente preconceituosa, existe Dagmar, uma trans que corre atrás pelos seus direitos. Mas morando na favela, o que não tem é respeito, mesmo ela sendo filha de um dos traficantes mais temido do Rio de Janeiro.