• capitulo 71 •

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Bazilho

Ouvi aqueles disparos e me virei pra trás sentindo Dagmar cair nos meus pés. Eu virei a arma e comecei a atirar. Orelha e Marcola atirava sem parar também. Eu me abaixei encarando Dagmar e ela estava serena, eu comecei a balançar ela e ela continuava paradona.

Eu peguei ela no colo e sai daquela salinha. Fui andando rápido pro postão, todos encaravam, mas a adrenalina tava tanto que eu nem liguei, quando eu me toquei, eu tava na recepção fazendo o maior escândalo pra atenderem.

Não demorou muito.

Foi atendida rápida a base de ameaça.

Sempre aprendi com a minha coroa, fala um pouquinho mais alto pra tu ver se tu não arruma um doutor rapidinho.

Tu sabe, quem não nasceu privilegiado de ter acesso a convênio médico, toma na cara com o sus. Não é sendo ingrato não, sus é uma baita ajuda pra milhares de brasileiro, mas quando tu tá precisando, tu roda parceiro.

Veio aquela equipe de três enfermeiros, um médico veio dar o papo, mas o doutor era ginecologista, um bagulho nada haver do que a Dagmar tava precisando naquela hora.

Não deixaram eu entrar não, mandaram eu pra salinha.

Essa salinha de espera foi a maior tortura que fizeram.

Teu cú tranca, tu tem medo de qualquer resposta que der.

Eu sentei naquela cadeira mas meu pé estava impaciente, eu não parava de mexer. Quando eu vi Orelha entrar ali, junto de Ellen, eu abaixei a cabeça.

Eles ficaram na recepção falando com a mina e depois vieram.

— Eu não vou aguentar perder ela! - Ellen dizia chorando.

Eu levantei e abracei ela todo sem jeito. Ela me agarrou fortão e a gente ficou assim até Marcola entrar quase arrancando a porta.

— Acredita que o filho da puta não morreu! - Marcola falava alto no meio do hospital.

Ele tava com um cigarro na boca. Orelha fez um sinal mostrando o cigarro e ele tomou como surpresa.

— Toda vez esqueço que aqui não é lugar de pitar! - Marcola disse apagando o cigarro na camiseta que logo se fez um furinho com a brasa do cigarro.

— Ele tá lá acorrentado, tu passa lá, eu não relei nele, só cortei as mãos, mas nem foi fita tão séria! - Marcola terminou falando e abraçou Ellen.

Orelha assentiu e eu sentei.

*****

C

ecília

Cheguei tardão da noite na favela. Tava um calor insuportável, eu tava morta de cansada e ainda por cima tinha que fazer uns trabalhos do curso.

Eu fui subindo aquela subida e logo avistei Tsunami que sempre me esperava num certo lugar escuro.

Ele foi vindo todo sério. Eu fui abraçar e beijar ele e ele virou a cara. Na hora eu encarei ele séria, ele só soube ir me puxando.

— Por que tu tá assim? - Perguntei.

Ele foi caminhando comigo e eu puxei com tudo meu braço olhando feio pra ele.

Ele me encarou por inteira e levantou as sobrancelhas.

— Dagmar tá no postão! - Tsunami disse.

Eu arquei a sobrancelha e ele só foi me puxando. Eu fui andando mais rápido e quando cheguei lá, dei de cara com a minha mãe do lado da Ellen e Curió comendo salgadinho de um lado.

Eu fui correndo até Ellen e ela me encarou com os olhos cheios de lágrimas.

— Por que todas as coisas tem de acontecer com ela? O que ela fez pra merecer tanta coisa! - Ellen dizia em lágrimas.

Eu abracei ela e suspirei ainda sem entender nada.

Eu me afastei e puxei Curió pra um canto. Ele me explicou tudo, até coisas de outro assunto aleatório.

Eu fiquei pasma, eu tive que sentar e tentar raciocinar.

******

Era de madrugada, eu fazia os trabalhos do meu curso na sala de espera do postão. Tava vazia a sala, só estava a gente mesmo, deveria ser o quarto lanche do Curió, e ele continuava comendo.

Entrava alguns pacientes, mas não dava meia hora e eles já saiam.

Eu estava com os olhos pesados de sono, eu estava fazendo aquelas coisas na força do ódio.

— Familiares da Dagmar, por favor? - Ouvi uma voz grossa.

Eu levantei a cabeça olhando e vi um doutor que sempre fazia meu acompanhamento do papanicolau.

Gente boa ele, na hora da consulta ele fala da ex mulher que tá tentando roubar o dinheiro que ele nem tem.

— Eu, eu sou a mãe! - Ellen disse se levantando rápido e indo na frente do médico.

O médico encarou a prancheta e encarou novamente Ellen.

— Estamos fazendo a cirurgia com o maior cuidado. Tudo está indo ok com a remoção da bala, mas ela está perdendo muito sangue, estamos sem doares no posto, estamos precisando se alguém for do mesmo tipo sanguíneo. - O médico disse. - O mais rápido possível. - Ele terminou entrando de volta.

Eu encarei pra todos ali e abaixei a cabeça.

— Dagmar não é filha minha de sangue e nem de Orelha. Miriã, qual é o teu tipo? Você era irmã do Juninho! - Ellen perguntou desesperada.

— O meu é B-, provavelmente o sangue dela é o mesmo da Tati, por que o do Juninho era o mesmo que o meu. - Miriã disse.

Ai que começou o corre, corre, aquele desespero de encontrar alguém com o O-.

aperta na estrelinha •

Não importa que caminho você escolhe, o que importa é que faça você feliz. ❤

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