• capitulo 82 •

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Dagmar

Acordei no sábado com o choro do Thales, eu me levantei e peguei ele que na mesma hora parou de chorar.

Eu peguei meu celular e fui saindo do quarto.

— Bazilho deve ter uma madeira por aqui! - Falei indo pra cozinha.

Eu comecei a bagunçar a cozinha toda e quando achei, eu já tinha tirado tudo dos armários.

Fiz o leite do Thales e dei pra ele, coloquei ele sentado no sofá enquanto passava um desenho qualquer.

Eu me sentei do lado dele e comecei a checar as coisas do meu celular.

WhatsApp 📞
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Thamara: Cheguei Dag, quando você tiver indo lá, você me liga!!! - ( 02:31)

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Deixei meu celular de lado e peguei Thales no colo, ele tava com os olhinhos quase fechados.

Eu comecei a acariciar ele e não demorou muito e ele já capotou. Eu levei ele até a cama, coloquei o travesseiro do lado dele e fui arrumando o quarto que tava desajeitado todo.

— Que horas é? - Ouvi Bazilho resmungar.

Umas cinco e pouco! - Falei baixo.

Bazilho levantou e eu fui vestindo a calça que eu havia trazido, coloquei uma camiseta branca e amarrei meu cabelo em um coque.

Sinto muito mais hoje vou de chinelo trabalhar!

Calcei meu chinelo e dei um beijo no Thales.

Eu sai do quarto e encarei o Bazilho parado olhando a parede.

Todo dia a mesma monguice, ele fica uns cinco minutos tentando raciocinar.

— Tu vai ficar com o Thales né?! - Perguntei como se fosse óbvio.

Ele se virou e me encarou por inteira.

— Vou. - Bazilho resmungou. - Preciso resolver uns bagulhos com o doutô lá, eu levo ele! - Ele disse se referindo ao advogado.

— Vai levar pra pista? - Perguntei e ele negou com a cabeça. - Tá, eu vou indo! - Falei abraçando ele.

— Te cuida! - Bazilho sussurrou beijando minha cabeça.

Eu me afastei e dei um selinho nele.

Eu fui saindo e já encarei o sol estralando.

Nem é seis ainda...

Eu peguei meu celular e disquei umas cinco vezes pra Thamara.

Ô sono pesado.

Ela atendeu e disse que já ia.

Eu peguei o busão e guiei pra lá. Uns vinte minutos eu já tava lá. Eu fiquei parada esperando a bonita vir, e logo ela vem.

— Eu nem dormi nada! - Thamara resmungou beijando minha bochecha.

— Meu corpo dorme toda noite, mas minha mente nunca dorme amada! - Falei abrindo e entrando.

Ela veio atrás. Eu entrei na minha sala e fui sentando encarando Thamara de jogando na poltrona.

— E ai? Me conta sua idéia... - Thamara perguntou amarrando o cabelo.

Eu suspirei.

— Sou a primeira trans brasileira a ser estilista. Eu estou conseguindo desfiles no exterior, quero meninas e meninos trans desfilando, quero enaltecer a bandeira, quero mostrar que é normal! - Falei me levantando. - Eu aluguei um canto em Madureira, eu vou colocar todas as pessoas que precisarem lá dentro, eu sei que muitas pessoas sofrem pra cacete pela orientação. Tu já viu o quanto cresce a cada dia o homicídio em trans? - Falei andando de um lado pro outro.

Thamara sabia desde a faculdade o meu planejamento, eu sempre tive um foco sobre o que eu queria fazer depois de formada.

— Entendi. - Ela disse anotando não sei o que. - Olha, eu to aqui pra te ajudar de toda maneira possível. Mas sobre os desfiles... Como vai ser? - Thamara perguntou.

— A mulher que te ligou, a Débora. Ela me ajuda com essas coisas, ela conhece bastante pessoas do meio, foi fácil conseguir de primeira! - Falei. - Eu te chamei por uma questão. Duas cabeças pensando trabalha melhor. Preciso mostrar coisas mais chamativas. Aqui está o papel com os tópicos que eu e Débora conversamos sobre o que achamos... - Falei entregando um papel cheio de coisas.

Thamara ficou lendo, eu me sentei de volta e suspirei fechando os olhos e tentando pensar.

******

Thamara ficou lá.

Devia ser umas dez e meia da manhã, eu tava soando de tanto calor que tava fazendo. Eu tava na sala com Débora e Thamara.

As duas conversavam e nem tchum pra mim. Ela estão bolando e conversando sobre tudo.

A Thamara sobre as roupas e tecidos, e a Débora sobre o desfile.

Eu estava tentando pensar sobre tudo. Débora trouxe todos os papéis que o desfile exigia. E aliás, o desfile séria em Nova York.

Eu tava nervosa, ansiosa e feliz pra caralho. Olha o que eu tava conseguindo. Eu tava a passos do que eu sempre quis e sonhei pra minha vida.

— Você tá ouvindo? - Débora perguntou assoprando o café.

Como consegue beber tanto café?

— O que? - Perguntei encarando ela.

— Tu tá em que mundo? - Débora disse negando. - Seguinte, vão ser cinco modelos, vamos lançar a tua marca! - Ela disse apontando pra mim.

— Dag disse que queria corres neons! - Thamara disse.

Eu pensava em lavar peças chamativas, em tons neons.

— Tu não acha brega? - Débora perguntou com uma cara de desdém.

— Não! - Falei. - Que dia é o desfile? - Perguntei.

— Daqui um mês e meio. As passagens de todas já estão pagas, o deputado tá pagando tudo. Eu já até falei, o dinheiro que ele me dá é nosso mesmo, é furto atrás de furto! - Débora disse dando de ombros.

Eu fingi nem ouvir.

Daqui um mês tudo ia se realizar...

• aperta na estrelinha •

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