Dagmar
Sexta-feira, 22:06 da noite.
Dia de pagodinho. Passei meio litro de garota carioca por que salon line faz meu muco cair.
Passei aquele glossinho de menta e me encarei.
— Lá vem a morena do tcham! - Cantei sambando.
Eu peguei meu celular e fui saindo do meu quarto. Eu já ouvia o barulho do pagode.
Eu sai de casa e vi Cecília descendo com Rânia e um cara do lado.
— Invejosa tu em, a mesma rasteira que eu. - Cecília disse olhando o pé dela e depois o meu.
Eu encarei o pé dela e neguei.
Se tá em liquidação se acha que vou perder oportunidade de desfilar com rasteira de 15?
— Rânia, a Dag, ela é a carne e eu sou a unha. - Cecília disse.
Rânia me mediu, e eu arquei a sobrancelha.
Sou tranquilona, até demais. Não curto esses babados de não gostar de fulano e Ciclano não, mas sempre tem umas que o nosso santo não bate.
E Rânia foi uma delas.
Eu sorri sem mostrar os dentes e dei a mão pra ela e pro cara que tava com ela. Cecília nem tchum, ela foi indo falando com Rânia e eu fui caminhando prestando atenção no pagode que tocava.
Logo a gente chegou lá, eu fui direto me sentar, Cecília deixou Rânia com Miriã e veio na maior animação.
— Vamos, veio pra ficar sentada é?! - Cecília disse.
— Vim pra sentar sim, e nem é no banco! - Falei tampando a boca e me levantei.
Fui pegar uma cerveja e logo vi Rânia sambando perto dos meninos da boca. Eu nem tchum.
— É o marido dela? - Perguntei me referindo ao homem que só bebia água e estava sentado em um canto mexendo no celular.
— Sim, ele é um sonso, tu tem que ver! - Cecília disse.
Eu murmurei um “ hum ” e fui pro meio sambar.
Eu rodei o olhar e vi que Bazilho não tinha chegado ainda, ele avisou mesmo, disse que tinha que entregar pra outro morro uns “ bagulhos ” e que logo guiava pra cá.
Eu fiquei sambando com Cecília e logo ela me cutucou apontando pra um canto, eu olhei e era Bazilho chegando.
Ele com aquele andar de bandido, cara toda fechada veio na minha direção quando me viu.
— Insveste em mimmmmm! - Gritei e ele riu desmanchando aquela cara fechada dele.
Ele me abraçou e eu suspirei sentindo aquele cheiro de cafajeste que ele tinha.
O porra viu.
— Vou bater um papo com teu pai e o Marcola, depois colo pra cá minha gata! - Bazilho disse me dando um selinho e saiu.
Ele foi caminhando até Marcola e meu pai, olhei pra Rânia e ela olhava pro Bazilho.
Eu fiquei olhando ela e logo ela me olhou, quando ela viu que eu estava encarando, ela virou a cara.
Abusada em...
Eu peguei mais uma bebida e me sentei me abanando.
— Encontrei o grande amor da minha vida. Hoje sei que pra você eu posso me entregar. - Bazilho começou a cantar vindo pra minha direção, eu neguei rindo.
Ele sentou do meu lado e me abraçou.
— Tá tudo bem? - Perguntei.
— Tá tranquilão, e tu boneca? - Ele perguntou e eu assenti.
Eu deitei minha cabeça no ombro dele e rodei meus olhos olhando todos, mas logo meus olhos pararam pra Rânia.
Cada vez ela chegava mais perto da gente, ela ficava de pé, ficava olhando e quando eu olhava ela virava a cara disfarçando.
Eu não curto surtar não, acho esse negócio feião, mas eu me estresso rápido.
— Já teve algum lance com ela? - Perguntei tomando um gole e encarando ela.
Bazilho me olhou e olhou pra direção que eu olhava.
— Cria do Marcola, to ligado. - Ele disse pegando a minha bebida. - Nunca rolou, relaxa ai, por que a pergunta? - Bazilho perguntou.
— Nada! - Falei pegando de volta minha bebida.
— Vou pitar lá fora, já volto! - Bazilho disse e eu assenti.
Ele levantou pegando o cigarro do bolso e saindo.
Eu olhei pra ela e ela olhava na maior cara dura.
Cecília veio sambando na minha frente e eu puxei ela com tudo.
Ela sentou no meu colo.
— Qual é da tua irmã? Não tira os olhos do Bazilho! - Falei negando.
— Eu já vi essa parada ai, vou dar um toque nela, relaxa! - Cecília disse.
Eu assenti e ela se levantou indo.
Eu me levantei e fiquei sambando enquanto encarava ela.
E pra ajudar aquela marido songo dela nem tchum, ficava no celular e nem olhava nada!
Dai-me paciência senhor, por que afundar a cara no asfalto é rapidinho.
• aperta na estrelinha •
Você é a sua própria luz!!! 🌠
Me perdoem pela demora, eu chego cansada em casa e capoto legal... Mas já to preparando capítulos novos! 🥰
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Libertinagem
Teen FictionEm uma sociedade totalmente preconceituosa, existe Dagmar, uma trans que corre atrás pelos seus direitos. Mas morando na favela, o que não tem é respeito, mesmo ela sendo filha de um dos traficantes mais temido do Rio de Janeiro.