Dagmar
Eu tava com o fone nos ouvidos enquanto eu tomava açaí.
— Quem disse que a gente não ia dar certo que nois dois não combinava... Tá se mordendo de raiva! - Cantei.
Dei aquela última colherada no açaí e logo vi sentarem do meu lado. Eu olhei e era Cecília.
Eu continuei raspando o restinho do açaí, ela me cutucou e comecei a raspar mais forte até que acabou quebrando a colherzinha.
Eu tirei o fone e ela me olhava.
— Posso falar contigo? - Cecília perguntou.
— Já não tá falando? - Falei como se fosse óbvio.
Eu me levantei e ela se levantou também.
— Você acha certo a gente ficar assim? - Cecília perguntou.
— Acho! - Falei saindo indo pra casa.
Hoje era dia de folga, eu precisava desenhar alguns looks que ainda precisava ser entregues, e fazendo isso em casa, seria meio caminho andado.
Quando eu vi, já era onze da noite e tinha sido o último desenho. Eu fui direto pra cozinha.
Eu tava morta de fome.
Minha mãe falava na ligação, e logo percebi que era com Miriã.
Eu peguei um ovo e fui fritar.
Pão com ovo é vida.
— To dizendo Miriã, as vezes tem que quebrar a cara pra aprender! - Minha mãe dizia encostada na pia enquanto falava com Miriã no celular.
Eu neguei com a cabeça e continuei fazendo meu pão. Quando terminei e me sentei na mesa pra comer, minha mãe desligou a ligação e sentou comigo.
— Tsunami foi pedir desculpas pra Miriã! - Minha mãe disse. - Cecília disse que vai ir morar com ele! - Ela terminou de falar e negou com a cabeça.
— Burrice dela, dar as costas pros pais e ir correndo com o macho. - Falei de boca cheia.
— Foi o que eu disse, mas Miriã disse que ela tá cega demais. - Minha mãe disse.
Eu não disse nada, só fiquei refletindo.
A gente sempre falou que a gente poderia se afastar por qualquer coisa, menos por macho. Entre ela e o macho, eu preferia ela, ela foi a amiga, a irmã, a pessoa que sempre tava ali comigo, na pior e na melhor...
Ouvi o barulho da porta abrir e logo meu pai apareceu.
— Demorou em! - Minha mãe disse.
— Os bagulho do Bazilho tava complicado de sair. - Meu pai disse.
Eu olhei ele de canto e ele me olhou.
O homem é esperto...
— Ele já ta aqui no postão? - Minha mãe perguntou.
— Tá, mas é só por essa semana, depois ele mete o pé pra goma dele! - Meu pai disse.
— E quem vai ficar cuidando dele? Bazilho não tem ninguém! - Minha mãe perguntou.
Eu engoli seco o pão.
— Tem uma mina ai que vai fortalecer ele agora! - Meu pai disse e minha mãe concordou.
Meu pai saiu da cozinha e eu terminei de comer meu pão.
— Boa noite mami! - Falei beijando a bochecha dela e indo pro banheiro.
Escovei os dentes e quando cheguei no meu quarto, meu pai veio atrás.
— Ai que susto! - Falei colocando a mão no peito.
— Tu tem algum b.o pra me contar? - Meu pai perguntou.
Conhece a Katia?
— Tenho, olha eu terminei os desenhos que eu tinha que fazer, deu maior trampo pai! - Falei me sentando na cama.
Ele arqueou a sobrancelha e negou.
— Bazilho mandou o papo que queria bater um papo contigo! - Meu pai disse e eu engoli seco. - Que bagulho de segredinho é esse caralho? - Ele perguntou.
— Ih, eu em... Agora não posso ter amizade com homem não? Fiquei tempos indo lá no hospital, eu conversava com ele todo dia... - Falei.
Ele sussurrou um “ Rum” e saiu do quarto.
Ô macho burro viu, me mandasse mensagem, mas não prefere falar pelo meu pai!.
Amanhã depois do trabalho do um pulo lá rapidinho...
• aperta na estrelinha •
Eu acredito em você, continue a lutar! ❤️
VOCÊ ESTÁ LENDO
Libertinagem
Novela JuvenilEm uma sociedade totalmente preconceituosa, existe Dagmar, uma trans que corre atrás pelos seus direitos. Mas morando na favela, o que não tem é respeito, mesmo ela sendo filha de um dos traficantes mais temido do Rio de Janeiro.