Miriã
Rio de Janeiro, antes delas chegarem em São Paulo!
Eu me troquei rapidamente e fui até a casa da Ellen.
Ela tava estendendo roupa. Eu entrei e fui me sentando no pequeno murinho que tinha ali.
- Eu ia só terminar de estender e ir pra tua casa. - Ellen disse. - Você nem imagina quem tá grávida... A mulher do Tatão, tá dizendo pra geral que ela tá prenha de gêmeos. E nem fez ainda nem um ultra-som! - Ellen disse gargalhando.
Ellen tava querendo pegar a mulher do Tatão. A menina era folgada. Mexia com todo mundo. Não sei como o Bazilho não tinha pregado ela ainda.
- Eu vou fazer o Marcola operar. Por ele, a gente já tinha tido mais uns quatro... - Falei mexendo a perna.
Ela terminou de estender e sentou do meu lado.
- Tava pensando em plantar uma babosa aqui, não tá dando mais mandar o Orelha roubar na casa dos outros! - Ela disse.
Eu ri e encarei o céu.
- Eu to pensando em ir ver as meninas... - Soltei.
Ellen me encarou na hora.
- Quando em? Já to com saudade da pirua da Dag. Aquela menina me faz uma falta do caralho! - Ellen disse.
- Hoje. Eu quero ir hoje... Talvez um bate e volta! - Falei.
- Do nada assim? - Ellen perguntou.
- E desde quando a gente manda na saudade? - Perguntei e ela assentiu.
- Que horas você tá pensando em ir? - Ellen perguntou.
O mais rápido!
- Talvez uma hora, quanto mais rápido, menos trânsito... - Falei me levantando. - Eu vou ir falar com o Marcola! - Falei.
- Ah mas então vou chamar o Orelha! - Ellen disse.
Eu neguei com a cabeça na hora.
- Ai vamos deixar os dois ai. Coisa de mãe e filha. Deixa! - Falei firme e ela concordou estranhando.
Eu sai da casa dela e fui subindo pra boca. Eu geralmente não ia pra lá não. Marcola até estranhava quando eu aparecia. Eu fui entrando trombando com Marcola falando no telefone.
Tava ocupado demais com os papos dos "irmãos " no México. Marcola tava pra viajar pra lá a qualquer momento.
Ele desligou e bateu na perna em sinal pra mim sentar. Eu fui até ele e sentei acariciando ele.
- Tá cheirosa em! - Marcola disse afundando a cara dele no meu pescoço.
- Vou ir ver a Cecília hoje! - Falei.
Marcola me encarou com tudo.
- Aconteceu algum bagulho? Qual é da caminhada? - Marcola perguntou.
Eu neguei acariciando a cabeça dele.
- Não aconteceu nada. Eu só senti falta da minha menina. Amanhã mesmo eu já volto! - Falei.
Ele me encarou e eu beijei ele.
Ele ficou desconfiado. Aquele olhar dele que só de você olhar, você se arrepende de ter escondido dele. Ele entra na mente só com o olhar, a gente fica com a consciência pesada demais...
- Não vai dar pra mim colar junto. Os bagulho do México tá frenético aqui, eu to vendo que cê pá semana que vem eu vou receber o muchachos. - Marcola disse e eu ri alto. - Manda o papo que eu amo ela! - Ele disse e eu assenti.
- Cuida do Christian, ele anda viciado demais naquele jogo de tiro! - Falei revirando os olhos.
- Tá no sangue mexer no tráfico nega! - Marcola disse e eu belisquei ele que logo gargalhou. - Amo tu! - Ele disse beijando minha bochecha.
Eu dei um selinho nele e me levantei.
- Quer que alguém leve tu? Qualquer b.o tu sabe já. Tu liga naquele número que a gente já vai tá ligado que o b.o é grande! - Marcola disse.
A gente tinha que ficar de olho aberto.
Óbvio. Mulher do Marcola. Maior traficante do estado.
- Não precisa amor, eu já sei. Relaxa, vai dar tudo certo! - Falei e ele arqueou a sobrancelha.
Eu sai rapidinho da sala dele e fui pra casa. Eu falei com Christian e coloquei um tênis. Peguei minha bolsa e coloquei meus documentos. Peguei a chave do carro e fui saindo de casa indo direto pra casa da Ellen. Ela estava deitada assistindo.
— Vamos? Não vai não? - Falei.
Ela deu um pulo.
— Óbvio que vou, to levando aqueles doces de pé de moça que a Dag ama. Aquela ali é uma formiga! - Ellen disse.
Eu suspirei fundo e fui saindo com ela. Fomos pegar meu carro. E fui saindo da favela.
Que Dag esteja bem.
E lá estava eu, ouvindo Raça negra, com Ellen falando sobre a “sebosa ” da mulher do Tatão, e eu só sabia era prestar atenção na minha reza, que deveria a décima vez que eu estava rezando.
• aperta na estrelinha •
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Libertinagem
Roman pour AdolescentsEm uma sociedade totalmente preconceituosa, existe Dagmar, uma trans que corre atrás pelos seus direitos. Mas morando na favela, o que não tem é respeito, mesmo ela sendo filha de um dos traficantes mais temido do Rio de Janeiro.