Dagmar
Fui direto pro postão, Curió tava lá dando papo na moça da recepção.
— Teu pai é padeiro? - Curió perguntou com a maior cara de safado.
— Não, porque? - Ela disse rindo.
— Por que ele é um sonho. - Ele disse e ela gargalhou alto. - Ô caralho, to nervosão, tu que é um sonho! - Ele disse e eu tampei a boca pra não rir.
A moça saiu de perto dele ainda gargalhando e ele veio vindo na minha direção.
— Errou feio! - Falei suspirando.
— Só queria comer uns dogão de graça na goma dela. A coroa dela faz mo dogão bom em! - Curió disse e eu neguei com a cabeça.
— E Bazilho? - Perguntei.
— Foi levado pra pista... - Curió disse colocando as mãos no bolso e abaixando a cabeça. - Deu parada, ele sempre mandou o papo pro Marcola, que em último caso era pra mandar ele pro particular! - Ele disse.
— Ele tá vivo? - Perguntei ofegante.
— Tá com um pé aqui e com um pé no outro plano. Tem que tá na oração, energia, o que tu acreditar mano, o bagulho ali é serião! - Curió disse.
Eu me sentei na cadeira e ele sentou do meu lado.
— E Tsunami? - Perguntei.
— Esse ai tá Tranquilão, só tá com o psicológico mexido, Marcola bateu um papo com ele que até agora a bolota do olho do cara tá estaladão. - Curió disse negando.
Eu neguei também e me levantei. Fui caminhando pra fora e logo senti a presença do Curió do meu lado.
— Veio pra ver o Bazilhão? - Curió perguntou.
E pior que é Bazilhão mesmo em...
— É, meu pai me disse que tinha morrido... - Falei.
— Não sabia que tu tinha amizade com ele! - Curió disse e eu revirei os olhos.
Eu segui pra casa e quando cheguei minha mãe tava com Miriã e Cecília.
Eu dei oi pra Miriã e fui direto pro meu quarto, deixei minhas coisas e guiei pro banheiro tomar um banho geladinho.
Sai colocando meu pijama e fui pra cozinha direto, peguei meu prato e voltei pro meu quarto. Elas conversavam sobre Tsunami.
Eu que não queria saber...
Me sentei lá na cama e comecei a comer. Meu celular começou a vibrar, eu encarei o número e era um número de são Paulo.
Lá vem os cadeiros liga pra cá.
— Quem é caralho? - Perguntei com a boca cheia de comida.
Eu ouvi do outro lado da ligação uma risada.
— Você tá grossa em, você não era assim não! - Ouvi a voz e ri.
— Sua vagabunda, foi lembrar de mim agora é? - Falei na ligação.
— Lembro de você todo dia. Vim falar que to indo pro Rio, tenho projetos, fechei com uma empresa e to me mundando pra ai! - Thamara disse.
— Venha, me avisa quando chegar. - Falei.
A gente bateu mais um papo e ela desligou. Terminei de comer e fui lavar o prato. Quando eu tava voltando pro meu quarto.
— Vocês estão brigadas? - Miriã perguntou. - Nem se falaram! - Ela disse.
— Tem gente que não merece nosso tempo de papo não Miriã, tem gente que tem que aprender com o silêncio dos outros! - Falei.
Ela não disse nada. Eu guiei pro meu quarto e me joguei na cama.
*****
Elas tinham ido embora, meu pai chegou e tava falando pra minha mãe do estado de Bazilho.
— Não da pra ficar pulando da favela pra pista, os cambé pega uma hora cara. - Meu pai disse.
— E vão falar pra quem ir? - Minha mãe perguntou.
Eu fui caminhando pra perto.
— Quer que eu vá? Meu trabalho é perto dali! - Falei.
Meu pai mediu eu e arqueou a sobrancelha.
— Não, tu não! - Meu pai disse desviando o olhar. - Tu não daria pra ir Ellen? - Ele perguntou.
Ata que minha mãe ia sair daqui, malemá ia pra reunião de escola que era perto de casa, imagina ir pra pista.
— Deixa a Dag ir ué, ela tá ali perto, é negócio de meia hora ali de visita e depois ela mete o pé! - Minha mãe disse.
Meu pai me olhou como se não fosse uma boa idéia.
— Tá! - Ele disse seco.
Eu fui direto pro meu quarto, ajeitei minhas coisas pro outro dia de trabalho e ouvir alguém bater na porta, eu me virei e vi meu pai entrando.
— Eu tô de olho! - Ele disse.
Eu me fiz a de maluca.
Eu também to de olho no teu parceiro pai!
• aperta na estrelinha •
Te desejo um dia incrível! ❤️
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Libertinagem
Fiksi RemajaEm uma sociedade totalmente preconceituosa, existe Dagmar, uma trans que corre atrás pelos seus direitos. Mas morando na favela, o que não tem é respeito, mesmo ela sendo filha de um dos traficantes mais temido do Rio de Janeiro.