• capitulo 54 •

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Cecília

Fiquei a madrugada toda virada. Meu pai não deixou eu ir ver Tsunami. Fiquei andando de um lado pro outro, e quando e meteu o pé pra boca, eu meti o pé pro postão.

Guiei entre becos e vielas no pinote, parece que quanto mais eu andava rápido, mais ficava longe o postão.

Quando eu já tava pertinho de chegar, encarei saindo do beco quem eu não queria papo...

Dagmar!

Entrei e fui na recepção falar com a moça, ela disse que era pra esperar, pois não sabia se ele poderia ser visitado.

Dagmar entrou e foi falar com a mesma moça que falava comigo. Ela tava toda arrumadona.

— Eu vim saber do Bazilho! - Dagmar disse.

Eu olhei de canto e ri pelo nariz.

— O caso dele vai ser transferido pra um hospital particular, o caso dele é grave... - A enfermeira surgiu do nada falando. - Você pode me acompanhar pra eu te informar? Você é o que dele? - Ela perguntou.

Eu olhei Dagmar e ela foi caminhando.

— Conhecida! - Dagmar disse e foi caminhando saindo da minha vista.

Eu me virei e a moça da recepção me encarava.

— Bazilho tá pior que Tsunami. Eu preciso ver Tsunami! - Falei alto.

Ela ficou miudinha, ela saiu dali e logo voltou com uma enfermeira. Ela me guiou até uma sala aonde tinha um médico.

— A senhorita é? - O médico disse estendendo a mão com uma cara confusa.

— Sou namorada do Tsunami, vim ver ele e saber dele! - Falei firme.

— Tsunami? Ah! - O médico disse arqueando a sobrancelha. - Tsunami não está no momento de receber visitas, ele vai ficar por enquanto aqui, estamos fazendo o melhor que podemos, mas não temos nada pra remover as balas, então sugerimos que ele seja transferido! - O médico disse e na mesma hora eu neguei.

Eu comecei a andar de um lado pro outro.

— Daqui ele não sai. Você sabe o quanto é perigoso ele sair daqui da favela? É um risco enorme, na primeira vacila a cabeça dele roda! - Falei e o médico parecia estar assustado. - Fala com o meu pai, ele te arruma a grana que for, mas Tsunami tem que ficar aqui, fazer tudo aqui dentro da favela! - Falei.

Ele não disse mais nada, eu sai daquela sala e fui caminhando abrindo portas até encontrar Bazilho. Ele estava inchado e roxo, eu ia fechar a porta mas eu não consegui e entrei.

Eu não devia tá aqui!

Fui caminhando até ele e vi as faixas, os fios, alguns tubos...

— Me desculpa... - Sussurrei.

Eu me virei e fui saindo lentamente. Eu fui caminhando e acabei achando o quarto do Tsunami, quando eu abri a porta, eu me assustei...

— Tá fazendo o que aqui? - Meu pai disse se levantando.

Eu engoli sequissimo.

******

Dagmar

Sai do postão com o coração quase saindo pela boca. Fui saindo da favela e nem vi nada, quando percebi eu já tava dentro do busão indo pro meu trampo.

Ih, não é porque eu virei estilista que não vou andar de busão. A gente não pode esquecer das nossas origens não mona.

Trabalhei o dia todo com a cabeça lá no postão. O negócio do Bazilho era sério, ele tava com o pulmão afetado, a perna e ombro. Mas o que tava com a gravidade toda mesmo, era o pulmão, o esquerdo tinha sido atingido, e já estava afetando a parte do coração.

Nunca da pra me envolver com alguém.

O primeiro é um escroto casado.
O segundo é um escroto casado e com filha.
E ele, não vi defeitos ainda. Filho de uma puta.

Eu passei o dia todinho torcendo pra que eu fosse embora logo, e quando deu a hora, eu meti o pé, peguei um busão lotadão.

Os zés sobaquentos ardidos tudo lá quase esfregando o sobaco na nossa cara.

Quando eu tiver no meu sonata...

Meu celular tocou, eu atendi sem nem ver quem era...

— Oi? - Atendi.

— Aonde você tá? - Ouvi a voz ofegante do meu pai.

— To chegando quase, por que? - Perguntei.

— Pô, não vai da pra te esperar hoje, Curió te espera... Coração de Bazilho parou, tenho que meter o pé pro postão! - Meu pai disse do outro lado da linha.

Eu desliguei na hora.

Aquilo me deixou tonta, eu fiquei encarando o nada. Me levantei na hora e fui dando sinal pra descer. Eu desci uns cinco minutos do meu ponto. Eu não ia aguentar ficar naquele ônibus sentada imaginando.

Preferir ir andando.

O problema é que parecia que eu nunca chegava...

• aperta na estrelinha •

Tudo passa! 🦄

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