Dagmar
Demorou tanto, que eu comecei a ficar com medo. Eu só consegui tomar banho. Aquele barulho de bomba que estourava toda hora me deixava mais em choque.
Só tinha bomba quando o bagulho era sério.
Depois de umas cinco horas de confronto, aquele barulho todo parou, e os foguetes lançados.
Favela venceu.
Minha mãe na hora pegou o celular e discou pro meu pai.
Minha mãe costumava ficar tranquila, mas nesse caso, qualquer um pirava.
Tsunami vai tomar bem gostosinho no cu.
— Alô? - Ouvi a voz da minha mãe, eu me virei e ela tava com o celular na mão. - Aonde tu tá Orelha? O que aconteceu? - Minha mãe perguntou.
Alguns barulhos foram feitos e entendi que tava no viva voz.
— Fica tranquila aê amor, logo eu dou um pulo aê, eu to no postão! - Meu pai disse.
— Orelha... - Minha mãe ia dizer e ele desligou na cara dela. - Filho da puta! - Ela disse suspirando aliviada.
Ela saiu do quarto e foi direto pro quarto dela. Eu me joguei na cama e mandei mensagem pra Miriã pra ver se Cecília estava bem. Cecília logo me respondeu no próprio celular.
WhatsApp 📞
————————————————————Cecília : Oi, eu to de boa. E tu? - ( 23: 36)
Eu: Tava tudo tranquilo né, até esse b.ozão todo! Por que vocês não vieram na boa? Marcola não ia meter um tiro na cabeça do Tsunami sem bater um papo! - ( 23:38)
Cecília : Tsunami tava com medo, eu entendi ele! - ( 23:38)
Eu: Queria ter o medo que Tsunami teve de meter tiro em todo mundo da agência. A maioria morreu, até criança! Você tem noção? - ( 23:39)
Cecília: Pelo visto teu pai nunca matou ninguém não né? Teu pai não tem homicídio nas costas não né?! 🤮 - ( 23:41)
Eu: Meu pai tem homicídio, não passo pano pra ele não mona, mas tu devia ter dado aquele toque no Tsunami, ele matou geral sem motivo algum. E até crianças, isso meu pai sempre deixou claro, que matar criança é a mesma coisa de um tiro na própria cabeça. Fé nas crianças! - ( 23:44)
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Bloqueei a ta e fui pra cozinha. Fiquei o tempo todo no quarto, eu tava varada de fome e cansada. Fiz aquele misto quente e quando me sentei no sofá meu pai abriu a porta entrando.
Minha mãe pareceu flash, quando vi já tava do meu lado sentada perguntando mil e umas coisas pro meu pai.
— E ai? Fala logo caralho! - Minha mãe disse mordendo a unha.
Meu pai sentou no chão e tirou o boné.
— Foi daquele jeitão, se não fosse maré dando aquele fortalecida, puta que pariu, Rocinha tava fodida! - Meu pai disse.
— E Tsunami? Tá com Marcola? - Minha mãe perguntou.
— Tsunami foi baleado. - Meu pai disse. - Bazilho foi baleado também, pô não sei quem tá com o estado mais grave, os tiro no Bazilho, foi bagulho feio! - Meu pai disse.
Eu engoli aquilo seco, o pão nem descia e nem subia. Eu deixei o prato de lado e fui pra cozinha pegando uma água.
Tomei uns três copos cheios, quando voltei meu pai tava comendo meu pão.
Tinha até perdido a fome mesmo...
— Tsunami só sabia pedir perdão pro Marcola. Marcola quis ficar com ele sozinho na sala do postão, só sei que na hora que entrei, o mano tava todo em choque olhão arregalado. Diz Marcola que bateu um papo saudável! - Meu pai disse rindo mostrando todo pão na boca.
Minha mãe negou e eu fui direto escovar os dentes. Fui pro quarto e quando me deitei, eu fiquei agoniada.
E se ele morrer? Cacete...
Sabe aqueles pensamentos ruins?
Fiquei me virando de um lado pro outro e quando consegui dormi, já era hora de levantar.
Eu fiz aquela rotina toda de sempre, sai bem antes do que eu geralmente saio com um objetivo.
Vou pro postão!
• aperta na estrelinha •
Agradeça! ✨
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Libertinagem
Teen FictionEm uma sociedade totalmente preconceituosa, existe Dagmar, uma trans que corre atrás pelos seus direitos. Mas morando na favela, o que não tem é respeito, mesmo ela sendo filha de um dos traficantes mais temido do Rio de Janeiro.