Dagmar
O taxista deixou a gente lá com muita mala.
“ Ai eu não posso subir, imagina se começa um tiroteio, eu tenho família ”
— Alguém me ajuda! - Berrei.
Veio dois vapor. Eles pegaram as malas e eu medi os dois.
— Vapor novo? O que tá acontecendo com Marcola em, ele não gostava de colocar gente nova nesses negócios não! - Falei negando.
O menino mediu eu toda.
— Solteira? - Ele perguntou.
— To viu, o perrengue desgraçado! - Falei.
Fomos subindo aquele ladeirona que só a favela tinha. Quando estavamos chegando, avistamos de longe aquele churrascão que tava rolando.
— A gente se matando com esse peso e eles comendo carninha! - Falei negando.
— Seu Marcola!!! - Cecília gritou.
Ele começou a procurar e logo olhou em nossa direção.
Eu larguei a mala e fui pra perto do vapor.
— Pode ir, obrigado more! - Falei mandando um beijo e ele mordeu a boca saindo junto com o outro.
Quando me virei Marcola tava abraçado com Cecília.
— Eu quero pão de alho! - Falei caminhando até o churrasco.
Meu pai me mediu toda.
— Vai lavar tuas mãos antes, mão suja pô! - Meu pai disse.
Eu mostrei a língua e ele me agarrou abraçando.
— Por que não disse que ia vir porra? Eu ia te buscar! - Ele disse.
— Pai, você malemá pode ficar na barragem, imagina mudar de estado! - Falei e ele deu um tapa na minha cabeça.
Ele foi lá pegando as malas e eu pulei em cima do Curió.
— Fiquei com saudade de dançar com vocês nos bailes! - Falei.
— Agora a gente cola em todas que tiver pô. Ainda mais em perreco, tá pra estourar um perreco quente daqueles. - Curió disse rindo.
— De quem? - Perguntei.
— Sua mãe, Miriã com umas meninas ai. - Curió disse negando a cabeça. - Eu que não vou perder, até adiantei meu lado na boca pra ver a pancadaria! - Ele disse e eu neguei beijando a bochecha dele.
Eu procurei Cecília e ela tava lá falando com meu pai que tava cheio de malas junto com Marcola.
Ela viu que eu tava olhando e veio vindo. Peguei na mão dela e fomos subindo até em casa primeiro.
— Curió disse que vai ter perreco! - Falei batendo palmas. - Dona Ellen e Dona Miriã! - Terminei falando.
— Por que? - Cecília perguntou e eu dei de ombros.
Fomos guiando rápido pra casa e quando cheguei já fui abrindo dando de cara com Miriã e minha mãe com café na cara.
— Que papo é esse de barraco em? - Perguntei.
As duas se assustaram.
— Vai bater em quem dessa vez? - Cecília perguntou.
Minha mãe pulou em cima de mim.
— Não me avisou que vinha. Você tá bem? - Minha mãe perguntou.
— Surpresa mulher. - Falei apertando ela. - To bem, mas quero saber dessa história! - Falei me sentando.
Miriã sentou no colo de Miriã e minha mãe encarou Miriã.
— Foi o corno do Curió não foi? - Miriã perguntou e eu assenti.
— Faz uns três pagode já que fica trombando, jogando piada e dando em cima do marido dos outros! - Minha mãe disse.
— Eu já bati em uma, por que quando tá sozinha nem olha na cara, mais quando tá o galinheiro todo formado se acha na oportunidade de pagar de bandida! - Miriã disse.
O gentinha barraqueira em.
— E quando vai ser? - Cecília perguntou.
— Sexta no pagode ué, eu deixei avisado já, fica de indireta, mas quando a gente abaixa lá na porta da casa da mona ela nem atende! - Miriã disse negando.
Preparar meu look pra esse evento maravilhoso.
*****
Tava de noite, fomos pra pracinha que íamos sempre pra ver os meninos jogar, e eles continuavam jogando ainda. Ainda tinha aquelas meninadas berrando pros casados.
— O vergonha que eu ainda não passo! - Falei.
Chegamos na metade do jogo, e depois de muito bate papo, quando vimos tinha acabado. Encarei Tsunami e grudei na grade.
— Ô filho de cruz credo! - Berrei e Tsunami me encarou rindo negando.
Ele veio vindo na nossa direção e eu me sentei.
— Achei que tinha se esquecido dos pobre! - Tsunami disse.
— Como vou esquecer se eu sou pobre também?! - Falei.
Ele deu aquela olhadona na Cecília e ela estendeu a mão. Ele pegou e ficaram os dois se encaram.
— E ai? Como vai a vida? Casou? Teve filhos já? - Perguntei.
— Na correria de sempre né! - Ele respondeu. - To casado! - Ele disse e Cecília virou o rosto.
— Cecília tá quase casando também! - Falei.
Ele sorriu sem mostrar os dentes e logo ficou aquele silêncio.
— E a mulher de Tatão? O que deu em? Bazilho deu um jeito nela? - Perguntei.
— Bazilho ele é misterioso, o bagulho com ele é surpresa, faz mo cota que ele saiu da cadeia e nunca nem relou na mina, nos bailes ele passa do lado e finge que nem conhece. Mas papo entre a gente? O mano quando menos esperar ele vai cobrar! - Ele disse e foi se afastando.
Ele foi pra perto dos meninos e Cecília me olhou.
— Tu decidi em. Não adianta ficar com o boy que tu nem gosta. Mas também não estrague o relacionamento dos outros não em! - Falei.
— Não Dag, eu vou continuar com o João. Tsunami fez a vida dele já. O que resta é só torcer por ele! - Ela disse se levantando.
Ela foi guiando até a sorveteria enquanto recebia o olhar do Tsunami.
Ah esses dois viu!
• aperta na estrelinha •
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Libertinagem
Teen FictionEm uma sociedade totalmente preconceituosa, existe Dagmar, uma trans que corre atrás pelos seus direitos. Mas morando na favela, o que não tem é respeito, mesmo ela sendo filha de um dos traficantes mais temido do Rio de Janeiro.