Cecília
Foi maluquice do Tsunami, eu discordei o tempo todo, mas ele quis ir na agência pra pegar dinheiro. Mas quando ele viu a burrice que ele havia feito, já era tarde demais. Meu pai só queria uma coisa.
Matar Tsunami.
Mas pra isso ele me queria do lado dele.
Quando a gente saiu daquela agência a mil. Ele deu a volta pelo Rio quase todo de moto, eu só pedia pra ele parar com tudo isso e voltar pra Rocinha. Até porque a bope e os federais estavam tudo atrás.
Minha crise de ansiedade tinha atacado, eu tremia e segurava o choro, e isso me doía mais ainda.
Foi até então quando a gente tava perto da Rocinha.
— Eu vou entrar porra! - Ele disse ofegante. - A gasosa tá no berro, os moleque tá no jeito já, tu mete o pé! - Tsunami falava alto.
Eu sentia meu coração querer sair da boca.
Foi ai que ele entrou com tudo. Ele começou a acelerar mais rápido do que ele já acelerava, eu agarrei ele de um jeito sem igual.
Logo ouvimos aquela chuva de tiros, eu fechei meus olhos sentindo que seria meu fim, não demorou muito e Tsunami parou. Eu sai de cima da moto e ele me olhou.
— Eu não vou te deixar nunca! - Falei engolindo seco.
Ele sorriu sem mostrar os dentes.
— Não se esquece de mim! - Ele sussurrou.
Logo senti aquele puxão. Era meu pai, ele me olhava bravo. Ele apontou a arma pro Tsunami e eu entrei na frente.
— Se você matar ele, saiba que vai estar matando tua própria filha! - Falei.
Meu pai me puxou e começou a meter o pé comigo até em casa, ele me jogou pra dentro e saiu correndo igual um louco. Eu me abaixei e comecei a chorar igual uma criança.
Se tudo isso tá acontecendo é por minha causa, que porra!
*****
Marcola
Minha mente tava a milhão, eu comecei a correr e acabei subindo na laje de umas goma, era mais fácil pra apagar o nego em cima, do que em baixo.
Parei encarando aqueles carros subindo.
Eu me agachei e mandei um radinho pro parceiro meu que era do comando da Maré.
Eu me levantei e comecei a atirar, era a maior barulheira, comecei a pular de laje em laje, e logo meu rádio começou a fazer barulho, alguém tava falando alguma coisa.
Dei de ombros e continuei atirando.
Não tava dando, eu tava vendo vários dos meus caídos, enquanto um ou dois deles estavam caídos e o resto tudo atirando que nem louco na gente. Eu me abaixei e...
— Metem o pé na meia nove! - Ouvi a voz do Orelha pelo rádio.
Eu levantei pegando uma bomba e acabei acertando dentro do carro da bope. Desci da laje pelo outro lado e fui correndo atirando.
Subi no pique, quando cheguei tava uma multidão dos federais, os vapor tudo atirava e jogava bomba.
Dei espaço pra esses menor entra e tá fazendo o nome deles no tráfico.
Eu corri encontrando Orelha e ele já tava com a camisa amarrada na cabeça.
— Não tá dando mais pô! - Orelha disse.
— Mandei o papo pra Maré! - Falei continuando atirando.
Meu desacerto foi não ter mandado o papo antes, mas a adrenalina que eu tava, nem tchum.
Orelha foi pra um lado e eu fui pra outro, comecei a correr entre os becos e do nada os tiros começaram a ficar mais fortes.
— Maré tá aqui! - Um vapor falou pelo radinho que falhava.
Eu confiava no meu pessoal, mas uma força nois não nega!
Comecei a ver os negos caindo, isso me dava um puta alívio.
Eu fui caminhando ainda atirando e...
— Bazilho Marcola, Bazilho foi abatido! - Curió dizia pelo rádio.
Eu parei e continuei atirando.
— Beco perto da goma da casa das prima! - Curió terminou dizendo.
Comecei a meter o pé e quando fui entrar num beco dei de cara com Tsunami. Ele tava perto de dois federais que estavam mortos, e ele caído com um tiro na barriga. Ele tampava o ferimento com a mão, enquanto a cara dele já tava longe.
Mandei rádio pra virem levar ele pro postão e logo chegou um que trampava de olheiro. Eu meti o pé até Bazilho, e quando cheguei, tomei um puta susto, tinha atirado na perna, no ombro e na barriga também.
— Fala pra ela, que eu sou amarradão nela! - Bazilho disse.
— Ela quem caralho? Agora é hora de pensar em buceta? - Falei pegando o radinho e mandando o papo pra alguém levar ele pro postão também.
Ele soltou a arma e por um momento achei que ele tinha parado de respirar. Até Curió conferir e eu ter certeza que ele tinha parado de respirar.
• aperta na estrelinha •
Não desanime, amanhã é um novo dia! 🎠
VOCÊ ESTÁ LENDO
Libertinagem
Teen FictionEm uma sociedade totalmente preconceituosa, existe Dagmar, uma trans que corre atrás pelos seus direitos. Mas morando na favela, o que não tem é respeito, mesmo ela sendo filha de um dos traficantes mais temido do Rio de Janeiro.