Bazilho
Ela perguntou sobre minha infância, meus coroas, o por que eu quis adotar, e umas par de coisa.
Mas na hora que ela perguntou do meu trampo...
— Qual é a tua profissão? - Hilda perguntou.
Eu levantei a sobrancelha.
— Sou da área da contabilidade. - Falei encarando bem os olhos dela.
Ela não conseguia ficar me encarando.
Pra começo de papo ela nem acreditou. Pela cara que ela fez, puta cara de bandido eu tenho, não tem como se passar por padre.
— Qual empresa? - Ela perguntou.
— Empresa... - Falei pensando. - Empresa Marcolis! - Falei suspirando.
Ela me olhou desconfiada e anotou.
Menti em nenhum momento.
— Chama tua mulher, quero os dois agora! - Ela disse.
Eu tava quase jogando ela pra fora de goma.
Esse bagulho da a maior canseira.
Eu levantei indo até o quarto e vi Dag andando de um lado pro outro.
Eu chamei ela com a mão e ela pegou o Thales no colo.
Fomos pra sala e a assistente não tirou os olhos da gente.
— É a etapa final... - Ela disse procurando o papel. - Como se conheceram? - Ela perguntou levantando o olhar pra nós dois.
Eu olhei pra Dagmar e dei espaço pra ela falar.
— Ele é conhecido do meu pai, conhecemos aqui na Rocinha mesmo! - Dagmar disse.
— Demorou um tempão pra gente ficar juntos, ela foi estudar em São Paulo, ai quando voltou a gente começou... - Falei
Só de me lembrar, da vontade de cascar o bico.
— Estão juntos a quanto tempo? - Ela perguntou.
— 8 Meses! - Respondi rápido.
Ela anotou e encarou a gente.
— Não acha cedo demais tomar as decisões? Vocês tem apenas oito meses de relacionamento e já querem adotar uma criança. Uma criança muda a vida, criança é uma enorme responsabilidade, não é brincadeira não! - Ela disse séria.
— Sabemos e queremos adotar Thales, ele é uma das minhas maiores certezas na vida. Eu faço o que for pra conseguir a guarda dele! - Dagmar falou
Ela olhou pra mim esperando alguma resposta e...
— A gente já bateu um papo e não é decisão precipitada, logo menos eu e ela casa. - Bazilho disse. - Eu sei das minhas responsabilidades tendo o Thales de baixo do meu teto e eu vou correr atrás do melhor pra ele. Não só de bens materiais, mas de educação entendeu? - Eu disse.
Eu tentava não falar com gíria, mas era impossível.
Ela concordou e anotou tudo.
— Vocês sabem que a família materna legítima entrou na justiça pela guarda dele né? - Hilda disse.
Eu tomei um choque, só soube negar com a cabeça.
— Pois é, eles tem o direito de correr atrás também! - Ela disse. - Preciso ver os cômodos da casa, o local em que a criança vai viver! - Hilda disse levantando.
Eu foi guiando ela pela casa. Dag ficou na sala com Thales. Eu mostrei cada cômodo, ela só sabia escrever e fazer perguntas.
Se eu matar será que alguém fica sabendo?
Quando ela meteu o pé eu dei graças a Deus, eu não aguentava mais encara aquela cara dela. A voz dela tava me estressando.
******
Dagmar
Logo que ela saiu eu e Bazilho conversamos, e tudo o que ela perguntou pra mim, ela perguntou pra ele.
— Eles lá não consegue a guarda! - Bazilho disse dando salgadinho pra Thales.
— Como tu sabe? É mais fácil eles ficar do que a gente mesmo! - Falei brava.
Eu tava a flor da pele, a qualquer momento eu ia explodir e ia der feio pra caralho. Eu tava brava, mas ao mesmo tempo eu tentava pensar positivo.
— O advogado mandou o papo que vai fazer acontecer. Eu confio no cara, ele me ajudou a sair da cadeia, ele deu uma forçona boa! - Bazilho disse...
Me dava uma certa vontade de esmurrar a cara de Bazilho.
— Vou ter que cancelar, não vou poder viajar! - Falei encarando minha unha.
Aquilo tava doendo em mim, faltava pouco pro desfile. As passagens já estavam pagas, os looks estavam prontos praticamente, e xs modelos também.
Bazilho me encarou com tudo e puxou minha nuca me fazendo ficar com o rosto bem perto dele.
— Não, tu vai sim, eu fico aqui resolvendo os b.o! - Ele disse. - Tu tá entendendo? Tu não vai perder teu sonho por um bagulho que eu mesmo posso resolver. Confia Dag, tu vai, vai dar tudo certo! - Ele disse me dando um selinho demorado.
— Eu te amo! - Falei retribuindo o selinho.
Ele acariciou meu rosto e sorriu sem mostrar os dentes.
• aperta na estrelinha •
Insista, persista e nunca desista. ❤️
VOCÊ ESTÁ LENDO
Libertinagem
Teen FictionEm uma sociedade totalmente preconceituosa, existe Dagmar, uma trans que corre atrás pelos seus direitos. Mas morando na favela, o que não tem é respeito, mesmo ela sendo filha de um dos traficantes mais temido do Rio de Janeiro.