Cecília
Sai do banheiro e trombei com Tsunami. Ele me encarou dos pés a cabeça.
— Tu mudou! - Ele disse de cara fechada.
— Todo mundo né! - Falei.
Ele concordou.
— Vai casar? - Ele perguntou.
Cara por que eu ainda sinto alguma coisa por ele ainda? Eu nem dei pra ele.
Que inferno.
— Eu e meu namorado tá planejando... E você e sua mulher? Pensam em filhos? - Perguntei engolindo seco.
Já viu alguém que você era apaixonada tá com a vida feita, mas feita com outra pessoa? Eu fico feliz por ele, mas fico triste por não ser eu...
Ele coçou a cabeça e fez uma cara que eu já logo entendi.
— Não sei, minha mulher toma remédio, ela é doidona por um moleque, não to afim pô, to ligado do jeito que esse mundão tá cara, nega que se envolve comigo já tá nos corre, é só ladeira abaixo. Os da pista fica de olho, tu tá ligada né? - Tsunami disse.
E era verdade.
Logo ele foi puxando, ele olhou pra trás e era a mulher dele.
Ela me olhou e sorriu.
— Tudo beleza? - Ela disse.
— Tudo sim! - Falei sorrindo pra ela e saindo dali.
Eu guiei pra perto da minha mãe e abracei ela. Ela me abraçou de volta e eu fiquei ali ouvindo os pagodes.
Eu to fazendo errado alguma coisa?
Essa pergunta tava martelando a minha cabeça de um jeito.
Minha mãe me soltou e foi indo sentar com meu pai. Eu encarei aquele lugar procurando Dagmar.
Cadê essa vagabunda?
Fui pra perto de Curió e ele logo já me olhou desconfiado.
— Tá aprontando em! - Ele disse e eu neguei.
— Viu a Dag? - Perguntei e ele negou. - E Diana? - Perguntei.
— Não deu certo né, ela voltou pra sampa com a coroa dela! - Curió disse.
Curió não era de ninguém, Curió gostava de curtir...
— E agora quem é teu partidão? - Perguntei.
— Surpresa! - Ele disse piscando.
Certeza que era da pista.
*****
O pagode tava rolando solto ainda, eu tinha bebido mais uns quatro copos e ainda nem tava bêbada. Dagmar voltou se fazendo de maluca, bebeu horrores e logo foi embora com a desculpa que tava cansada.
Desde quando ela cansa? Essa menina é a última a sair dos lugares, e só sai por que os povo tira ela lá a força.
Eu tava cansadona. Fui pra barraca pegar uma água e quando voltei pra onde eu tava, a minha mãe já tava na frente de uma mulher.
Meu pai fitava de longe enquanto bebia a cerveja dele.
— Joga na roda aqui os negócios que tu anda falando com meu nome! - Minha mãe disse de braços cruzados.
Ellen foi lá perto. A música continuou na mesma altura, eu cheguei perto e Curió logo veio pro meu lado.
— Tu deve ser surda demais pra não ouvir né corna?! - A mulher disse.
Eu medi ela e logo vi o pé todo sujo de barro.
Osh
— Pelo visto quem tá surda e cega é tu vagabunda, fica de olho em marido meu pra tu ver. Eu vou estourar essa tua cara já que tu não tem a mesma disposição que tu jogava as piadas! - Minha mãe disse empurrando a mulher com tudo.
A mulher caiu na mesa que tinha gente bebendo. As amigas dela foi em cima da minha mãe, Ellen logo entrou no meio.
Eu dei meu celular e fui pra cima puxando o cabelo de uma com tudo. Ela caiu pra trás, eu comecei a chutar a costela da mulher, ela me puxou com tudo pro chão.
Senti o murro na minha cara e puxei com tudo o tomara que caia dela.
Ela começou a tentar esconder e eu comecei a tentar socar a cara dela. Senti alguém me puxar e era Tsunami.
Ela soltou de mim e eu chutei a cara dela. Eu me levantei fazendo um coque no cabelo e meu pai já tava lá tentando puxar minha mãe.
Ninguém conseguia com ela e com a Ellen, era coisa de outro mundo.
Eu via sangue pelo chão e eu não sabia de quem era, se era da minha mãe ou da mulher que ela batia.
Meu pai puxou minha mãe com tudo, a mulher tava no chão com a cara cheia de sangue.
— Vem jogar piada e trombar comigo, na próxima tu sai num caixão sua tiriça, vem na minha não, o que eu mando eu cobro, tu se manca! - Minha mãe gritou tentando se soltar do meu pai enquanto apontava o dedo.
Curió segurava a outra, enquanto as amigas dela tava tudo em um cantinho quietinha.
— Vou continuar amore, não tenho culpa se você não aguenta a verdade na sua cara, seu marido ai... - A mulher começou a falar com deboche.
Meu pai simplesmente soltou a minha mãe. Minha mãe pulou em cima dela, Curió caiu no chão junto e ficou encarando aquilo sem entender.
— Meu nome não caralho, nem fiz bagulho nenhum! - Meu pai disse negando com a cabeça.
Minha mãe terminou de arrastar a cara dela. As amigas dela tudo vazaram embora, meu pai puxou minha mãe de volta enquanto minha mãe xingava ela de todos os nomes existentes.
— Cuidado em, tu se cuida pra não acordar morta, ou com a boca cheia de formiga lazarenta! - Minha mãe disse.
Meu pai puxou ela pra fora e Curió ria.
Os povo tudo voltou a sambar. A mulher saiu dali rapidinho. Tsunami veio pra perto e eu tentei me afastar vendo que a mulher dele nos encarava.
— Tua mulher tá ali olhando! - Falei ofegante.
— Vai amanhã ver eu joga, vou tá esperando! - Tsunami disse e eu neguei.
— Meu namorado vai vir! - Falei e ele abaixou a cabeça e saiu dali.
• aperta na estrelinha •
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Libertinagem
Teen FictionEm uma sociedade totalmente preconceituosa, existe Dagmar, uma trans que corre atrás pelos seus direitos. Mas morando na favela, o que não tem é respeito, mesmo ela sendo filha de um dos traficantes mais temido do Rio de Janeiro.