Bazilho
Ficamos cerca de quatro horas esperando, uma hora com a Rânia indo doar, e as outras três esperando Dag receber o sangue.
Marcola levou de volta a Rânia pra goma, ela precisava de descanço.
A mina querendo ou não, tinha dado uma puta ajuda. Ela tinha vacilado, mas pô, deu maior forçona, se não fosse ela, a gente tava fodido.
— Tu pode ir pra boca, aqui tem nego demais, qualquer papo te mando radinho! - Orelha disse me tirando dos pensamentos.
— Não sei se consigo trampar com a cabeça aqui! - Falei.
— É melhor Bazilho, qualquer b.o te mando o papo! - Orelha disse e eu assenti.
Meti o pé pra boca. Minha mente tava lá, eu não tava conseguindo ficar tranquilo, tava impaciente.
Eu cheguei na sala e comecei a ver a lista que entrava e saia.
Ouvi a porta bater e encarei Curió.
— Qual foi? É a Dagmar? - Perguntei.
— Não. Não tinha o que fazer, eu vim! - Curió disse sentando na cadeira.
Eu murmurei um “hum” e continuei vendo os bagulhos.
— Tu já pensou em pedir ela em casório depois que ela vazar do postão? - Curió perguntou.
Eu encarei ele e neguei com a cabeça.
Não era meus planos antes, mas agora eu vi que ela é a mulher da minha vida. É ela que eu quero ficar pro resto da vida, sem caô.
— Nem tinha pensado, mas se fosse pra fazer, eu queria fazer um bangue da hora... - Falei e já comecei a pensar. - E já to até ligado no que! - Falei.
— Fala aê Baba! - Curió disse rindo e eu mostrei o dedo do meio.
— Cês vão ver! - Falei e ele começou a bolar um baseado.
******
Cecília
Eu tive que trabalhar, eu não podia ficar faltando, eu ficava preocupada pra caralho na Dag, mas eu não podia parar meu trampo e nem meu curso né?!
Eu voltava do curso correndo, ia direto pro postão e ficava lá um pouco.
E hoje não foi diferente, cheguei lá e a Ellen não estava, nem Orelha, só tava minha mãe lendo uma revista que fazia vinte anos que tava lá já.
— Cadê os povos? - Perguntei chegando perto dela.
Ela me olhou e voltou o olhar pra revista.
— Ellen entrou pra falar com o médico, a Dag acordou! - Minha mãe disse e eu me sentei sentindo um alívio.
— E Bazilho tá lá dentro junto? - Perguntei.
— O dia inteiro ninguém viu Bazilho, Orelha ligou pra ele, mas nada dele aparecer! - Minha mãe disse.
Eu deixei de lado e fiquei ali esperando até Ellen sair, demorou bastante pra ela e o Orelha sair.
— E ai? - Minha mãe perguntou deixando a revista de lado.
Minha mãe é aquele tipo de amiga que todo mundo devia ter, ela se preocupa, fica do lado da pessoa por horas, fica sem dormir se for o caso.
— Ela precisa ficar em observação, ela tá com febre... É efeito da transfusão... - Ellen disse aliviada.
— Melhor a gente meter o pé pra goma, não vale a pena ficar aqui, qualquer bagulho que acontecer eles vão ligar! - Orelha disse.
Minha mãe concordou e Ellen ficou meio assim.
— Ela não pode receber visitas? - Perguntei.
— Só amanhã, hoje ela precisa descansar... - Ellen disse e eu assenti.
Eu me levantei e fomos indo embora, eu estava podre de cansada. Cheguei em casa e fui direto tomar banho e comer.
Quando eu fui dar a última colherada me entra Bazilho na cozinha.
— Quem é vivo sempre aparece né! - Falei e ele riu sentando na minha frente. - Quer comer? - Perguntei e ele negou com a cabeça.
— Preciso de tu, tu tem que me ajudar nuns bagulhos que to pensando. E como tu é parceirona da Dag, tu conhece até a cor da boneca dela... - Bazilho disse e eu ri negando.
— Eu juro que eu não queria ver, mas fiquei curiosa demais, ficou até mais bonita do que a minha. - Falei e ele negou rindo.
Ele começou a falar o que ele queria... Eu ouvia aquilo na maior empolgação, até parecia que era eu...
A Dag vai amar...
• aperta na estrelinha •
Sigam pra ficar por dentro de tudo!!!
Não pare de sonhar! ❤️
VOCÊ ESTÁ LENDO
Libertinagem
Teen FictionEm uma sociedade totalmente preconceituosa, existe Dagmar, uma trans que corre atrás pelos seus direitos. Mas morando na favela, o que não tem é respeito, mesmo ela sendo filha de um dos traficantes mais temido do Rio de Janeiro.