Cecília
Eu acordei zonza. Minha cabeça latejava, eu tentei abrir meus olhos e não conseguia.
Eu ouvia algumas vozes e quando realmente consegui abrir os olhos, eu vi Paola cheirando aquela carreira de cocaína. Eu me levantei cambaleando. Eu encarei aqueles meninos da boca e esfreguei meus olhos.
- Amiga, cheira ai! - Ouvi a voz de Paola.
Eu neguei com a cabeça e peguei meu celular olhando a hora.
TRÊS HORAS DA TARDE. Geralmente eu saia da escola meio dia e vinte.
Eu peguei minha bolsa e fui saindo daquele lugar ouvindo me chamarem. Eu fui caminhando, caminhando até eu trombar com alguém, eu tava mole demais, eu cai no chão e logo me puxaram pra ficar de pé.
- Qual é teu problema caralha? Todo mundo atrás de você sua puta. - A voz da Dag rodeava minha cabeça.
Eu abracei ela enquanto ela me xingava e eu fiquei ali abraçada com ela.
Ela foi me puxando andando, eu tava com a dor de cabeça horrível.
Eu coçava meu nariz toda hora.
- Tu cheirou né quenga? Vagabunda, tu é uma imbecil mesmo em, nem em cigarro tu tem que chegar perto. - Dag disse.
Eu não via a hora de chegar em casa, e quando cheguei, eu ouvi as vozes da minha mãe. Dagmar me jogou no chuveiro de roupa e tudo. Eu me sentei no chão e logo Dagmar entrou de baixo da água comigo.
- Que água gelada do cão, quase me da um choque térmico! - Dag disse.
Eu esfreguei meu rosto com a água. Minha mãe foi entrando no banheiro e abaixando até a gente.
- O que tu tem em Cecília? Chegou tarde da escola e tá ligadona desse jeito! - Minha mãe disse.
Eu Fechei os olhos e senti meu nariz arder.
*****
Dagmar
Cecília deitou na cama dela e eu vesti uma roupa dela. Eu me sentei no sofá e tia Miriã andava de um lado pro outro.
- Para de andar pra lá e pra cá pelo amor de Deus, já já ataca a minha labirintite! - Falei me abanando.
- O que a Cecília tem? Ela tava com quem? - Miriã perguntou.
- Eu vou ser sincera contigo. Sinto muito se a gatona vai ficar brava. Ela usou cocaína. Tava com a lazarenta da Paola! - Falei negando.
- Cocaína? - Ela disse pasma.
Paolinha que se prepara bebê.
- Pois é tia. Olha, eu vou indo, depois eu dois um pulo aqui ver como ela tá! - Falei e ela assentiu.
Eu sai da casa dela e fui caminhando pra casa. E pela minha "sorte" eu tinha que passar pela boca de fumo aonde ficava Tatão. Eu passei normalmente, dei graças a Deus quando ninguém mexeu comigo.
Mas aquele agradecimento foi por poucos segundos.
Quando olhei do meu lado esquerdo tava o tosco. Medi ele de cima em baixo e continuei caminhando com a cabeça levantada.
- Tu tá um filé em! - Tatão disse me puxando com tudo pro beco.
- Ih Maricona se manca! - Falei saindo daquele beco.
Fui caminhando mais rápido e ele continuou andando do meu lado.
- Passa a noite comigo pô, eu to de separação com a minha mulher! - Tatão disse.
Eu parei e ele parou na minha frente me encarando.
- Nossa sério? - Falei animada sorrindo. - Foda se caralho, eu não perguntei nada pra você o bicho! - Falei fechando a cara e guiando pra casa.
*****
Eu me arrumei e guiei pra casa da Cecília. Ela tava lá sentada no sofá tomando sopa.
- Oi amore mio. - Falei sentando no sofá e beijando a bochecha dela. - Como tá a quenga? - Perguntei.
- Eu to bem melhor. Eu conversei com minha mãe. - Cecília disse passando a mão no rosto.
- Isso é pra tu aprender a não mexer com essas paradas o vagabunda, tá maluca Cecília? Deixa de amizade com essa pilantra ai, se eu ver aqui, eu meto o coco dessa mapoa na parede! - Falei negando com a cabeça.
- É... Mas e ai? Qual é do babado nega? - Cecília perguntou.
- Vamo pra praça, o Tsunami quer bater um papo contigo. Faz esse esforço por mim, ele fechou comigo que se eu te levasse, ele ajeitava o boy que eu quisesse.
E eu quero uma rolona.
- Que horas? - Cecília perguntou.
- O de sempre, ele joga bola. - Falei.
Ela assentiu e foi levar o prato pra cozinha.
Ela guiou pro quarto e logo veio mais arrumada e toda perfumada.
- E olha que nem conhece, imagina se conhecesse! - Falei rindo.
A gente saiu e guiou pro campinho. Ele tava lá no mesmo banco que eu e Cecília tinha sentado. Eu cheguei empurrando Cecília em cima dele e ele segurou ela no impulso.
Eu me sentei do lado e ele me encarou.
- Eu trouxe a bonitona, agora me ajeita aquele morenão que trabalha na tua biqueira, aquele que tem um bocão! - Falei mordendo a boca.
- O saci? - Ele perguntou rindo. - Deixa comigo mona, te dei minha palavra! - Tsunami disse.
- Eu vou comprar um açaí e já volto. - Falei me levantando. - Cuidado com a boneca ai, e tu Cecília, garganta profunda em! - Falei rindo.
• aperta na estrelinha •
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Libertinagem
Teen FictionEm uma sociedade totalmente preconceituosa, existe Dagmar, uma trans que corre atrás pelos seus direitos. Mas morando na favela, o que não tem é respeito, mesmo ela sendo filha de um dos traficantes mais temido do Rio de Janeiro.