Cecília
Já tinha curtido muito.
Já tinha me acabado na bebida. Deu cinco e pouco da manhã, e eu já estava zonza demais, com a cabeça explodindo e querendo soltar tudo pra fora.
Eu comecei a procurar a Dag e nada.
Ela não foi embora. Por que a regra nossa é, veio comigo, vai embora comigo também.
Fui até a Thamara que tava em cima da caixa de som e cutuquei ela. Ela desceu e veio me agarrando toda louca.
— Cadê a Dag? - Perguntei.
— Não sei amor, ela tava de papo com um daqueles caras ali. - Ela gritou apontando.
Eu encarei e tinha um grupinho de caras ali. Eu fui pro banheiro que o som não era tão alto e tentei ligar, mas aquele lugar todo não tinha sinal.
Que inferno.
Fui caminhando pra fora com o celular pra cima. Thamara veio correndo junto. Eu comecei a torcer por um sinal ali, já estava bem claro, meus olhos estavam ardendo. Fomos andando pela estrada até dar um pontinho de sinal.
Eu comecei a digitar o número da Dag e logo sumiu o sinal de novo.
— Que caralho de sinal! - Falei brava. Fui caminhando até sem querer entrar no meio do mato.
Thamara começou a caminhar e eu fiquei lá tentando ver o sinal.
Ouvi um grito. Na mesma hora olhei pra ela que estava ajoelhada. Eu fui caminhando e paralisei quando vi que era Dag caída no chão cheia de sangue.
Eu corri até ela e ela estava com o vestido rasgado, a calcinha estava jogada e ela com hematomas.
— Chama alguém porra! - Gritei dando meu celular.
Thamara saiu correndo. Eu encarei novamente Dagmar e vi que ela ainda respirava.
— Dag, eu to aqui é a Cecília, por favor aguenta mais um pouquinho. Por favor não me deixa! - Falei segurando a mão dela firme.
Eu senti aquele nó na garganta, senti meu peito rasgar, minhas pernas tremerem e meu rosto ser molhado pelas lágrimas que logo caíram.
Eu não ouvia mais nenhum som de música. Meu coração batia forte, eu senti um medo enorme tomar meu ser. Eu respirei um pouco aliviada quando vi Thamara vindo correndo com...
João Berto...
— Caralho mano! - João Berto disse assustado.
Aquela imagem, ninguém merecia ver, Dagmar não merecia aquilo, a nossa sociedade é podre por pessoas que não sabem respeitar as diferenças.
Os meninos pegaram a Dag. Fomos saindo do meio do mato, eles colocaram ela no carro. Eu e Thamara foi atrás com ela. Em alguns minutos a gente já estava lá no hospital. Já veio os residentes com a maca e colocando ela. Eles levaram ela e eu fui até a recepção.
*****
Fiquei andando de um lado pro outro. O nervoso falava mais alto, eu queria naquele momento que minha tia Ellen tivesse ali. Minha mente pedia socorro, pedia ajuda.
A enfermeira me chamou, eu já tinha feito a ficha da Dagmar. Eu fui caminhando até um enorme corredor branco. Minhas mãos tremia, ela me levou até uma sala aonde tinha um médico e um outro enfermeiro.
— Tudo bem com você? - O médico perguntou estendendo a mão. Eu deixei ele no vácuo. - Você é o que do Dagmar? - Ele perguntou.
Eu suspirei fundo e mordi a boca pra não chorar.
— Irmã! - Falei firme.
Meu coração batia forte.
— O caso do Dagmar... - Ele ia dizendo e eu interrompi.
— Da, é Da Dagmar! - Dei ênfase no DA.
Ele assentiu.
— Ela sofreu uma grande lesão na cabeça, e um abuso sexual que foi muito bruto. Em casos assim, a gente aciona a polícia! - O médico disse.
Eu vi meu mundo se despedaçar.
Eu fiquei sem o que falar.
— Vamos fazer alguns exames com ela e ver se da pra fazer a cirurgia... Pra isso precisamos da autorização de alguém. Ela teria outro familiar? - O médico perguntou.
O que eu não queria, era levar problemas pros pais dela... Preocupações...
• aperta na estrelinha •
Respeitem os lgbtqia+, não aceitam? Mas o mínimo é saber respeitar. Somos todos iguais, independe de cor, religião, orientação sexual e entre outras coisas. Espero que um dia o respeito e o amor fale mais alto. Paz a todos!!! 🏳️🌈
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Libertinagem
Teen FictionEm uma sociedade totalmente preconceituosa, existe Dagmar, uma trans que corre atrás pelos seus direitos. Mas morando na favela, o que não tem é respeito, mesmo ela sendo filha de um dos traficantes mais temido do Rio de Janeiro.