Bazilho
Dei aquela volta na favela. Thales tava no meu colo. Eu via aquelas crianças correndo atrás da bola e me imaginei daqui uns anos correndo junto com Thales.
Minha maior realização.
Guiei pra goma da Ellen, quando cheguei ela já veio cheio de graça com Thales.
Ele no maior sorrisão pra ela.
Puxa saco.
Fui pra cozinha enchendo um copão de água e tomei.
Rio de janeiro não é brincadeira não, aqui é o próprio inferno.
Voltei pra sala vendo Ellen tirar a camiseta do Thales.
— Não precisa colocar blusa quando tiver calor, deixa de fralda só. - Ellen disse. - Vocês já começaram o processo da remoção da fralda? - Ela perguntou.
— Dag tava começando, mas eu não consigo, eu dei banho nele e coloquei cueca, ele cagou na cueca toda, escorreu pela perna e sujou todo lençol! - Falei.
— É aos poucos, não é fácil não. Deixa só na hora de dormir ele com fralda. - Ellen disse e eu assenti.
Eu sentei perto dela e fiquei encarando.
— O que é em? Tá querendo me dizer o que cacete? - Ela perguntou arqueando a sobrancelha.
— Ela voltando eu já quero casar. - Falei.
— Ela quer também. - Ellen disse. - Ela não quer nada glamuroso, eu acho que por ela, ela só casava no civil e fazia um churrasquinho. - Ela disse.
Eu tava ligado que era o que Dag queria mesmo, coisa simples, sem nada daquelas coisas que teve no casório da Cecília com o almofadinha.
Ela falava que o dinheiro que ela podia fazer o festão, ela ajudava algum ong e esses bagulhos.
— Queria fazer algum bagulho desse tipo, um churrasquinho, sambinha, aquele climinha bom! - Falei encarando ela.
— Se quiser a gente bola alguma coisa sim, vocês vão pro cartório e logo vem pra cá! - Ellen disse.
— Fechô sogra, é isso mesmo! - Falei beijando a cabeça dela.
******
Já era de noite, devia ser umas onze, fiquei encarando as mensagens da Dagmar e nem tchum dela me mandar uma mensagem. Desde a última vez que a gente tinha conversado por vídeo, ela aparecia, ela tava fora do WhatsApp desde aquela hora. Fiquei meio assim, mas é aquilo né, deve tá mo corridão, entendo.
Deixei meu celular de lado e encarei Thales comendo o salgadinho.
Se Curió vê, vai querer roubar do moleque.
— Queria bolar um, mas contigo aqui eu não tenho moral! - Falei passando a mão no rosto.
Ele ficou me encarando prestando atenção.
— Aqui fica mo silêncio sem ela... Bagulho estranhão! - Falei suspirando.
Até parecia que ele tava entendendo algo. Ele deixou de lado o salgadinho e veio se aconchegando no meu colo, ele me abraçou e ficou me encarando.
— Eu amo tanto tu moleque, sou capaz de te dar um mundo. Vou correr até o fim pra te ter como filho legítimo. - Falei encarando ele.
Ele fechou os olhinhos e eu encarei a tv que passava reportagens sobre o rio. Eu tava cansadão.
Bato palma pras mães que criam vários filhos sem aquela força de marido e de ninguém. Cês são guerreiras.
*****
Acordei ouvindo Péricles, a vizinha tava cantando mais alto que Periclão.
Levantei vendo Thales dormindo atravessado. Fui caminhando até o banheiro e entrei direto pro banho. Aquele banho gato entrei e saia rapidão indo dar aquela olhada no Thales.
Peguei meu celular vendo que tinha algumas chamadas perdidas da Dagmar. Eu liguei de volta por video chamada e encarei ela com as olheiras fundas e escuras.
•Video chamada•
Eu: E ai boneca, tá tudo bem? Fiquei preocupadão contigo cara, tu sumiu ontem...
Dag ficou calada, parecia que estava engolindo o choro.
Dag: Oi...
Ela saiu dali da frente da câmera e sumiu. Fiquei parado e logo mr apareceu outra mina.
Thamara: Oi Bazilho, eu sou a Thamara. Eu queria te pedir que fique calmo antes...
Eu: Ih, qual foi pô? O que tá rolando ai?
Foi do nada que desligou, a internet delas tinha caído. A ligação caiu e quando tentei ligar de volta só dava caixa postal.
Eu comecei mandar mensagens pra Dag, mas só dava um risquinho e nada mais.
Sou capaz de ir lá agora se algum b.o tiver rolando.
Eu me sentei no sofá e logo vi o número desconhecido me ligando.
Ligação 📞
Desconhecido: Tu deu a empresa pra tua mulher, fez ela conseguir tudo isso e no fim ela só te usou pra conseguir isso e ficar se envolvendo com o cara de Nova York!
Ouvi aquela voz feminina. Eu parei arqueando a sobrancelha.
Eu: Te fode porra!
Desliguei na cara e bloqueei a tela deixando o celular de lado. Logo o celular começou a vibrar. Eu encarei e o número desconhecido tinha mandado mensagem pelo WhatsApp. Entrei na conversa e encarei duas fotos.
Uma os dois se beijando e a outra o cara na cama.
Eu engoli seco aquilo, minhas pernas ficaram fracas eu soltei aquele celular e suspirei fundo metendo murro na parede.
Vagabunda.
• aperta na estrelinha •
Boa terça-feira! ✨
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Libertinagem
Teen FictionEm uma sociedade totalmente preconceituosa, existe Dagmar, uma trans que corre atrás pelos seus direitos. Mas morando na favela, o que não tem é respeito, mesmo ela sendo filha de um dos traficantes mais temido do Rio de Janeiro.