• capitulo 77 •

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Dagmar

No outro dia Bazilho me levou pra conhecer a empresa. Eu fiquei de boca aberta era um espaço enorme, quando eu entrei, meu corpo todinho começou a se arrepiar.

Estava do jeitinho que eu sempre sonhei, até mais do que eu esperava.

Só faltava o projeto. Faltava os Lgbtqia+ aqui dentro, queria pessoas que nunca teve oportunidade pra crescer. Por que eu sei o quanto é foda tu querer um empreguinho e a mona não te aceitar por que tu é trans, gay, lésbica, seja o que for...

*****

1 mês depois...

Corri atrás de tudo, contratei 20 pessoas, nesse primeiro mês ensinei cada detalhe importante pras pessoas e muitas pegaram rápido.

— Dag, a moça que você mandou avisar está na ligação! - André disse me entregando o celular.

Eu sorri e peguei.

Eu comecei a caminhar até a minha sala e tranquei.

— Oi? Débora? - Falei na ligação.

— Achou que eu tinha esquecido de você foi? - Ela riu do outro lado da ligação.

— Tem como você vir? Eu quero mais do que já começar o projeto! - Falei.

— Mais tarde eu passo ai! - Débora disse e desligou.

Eu tinha já planejado tudo. Débora conhecia pessoas com cargos importantes no nosso país.

Aliás, ela saia com um deputado...

Ela era uma trans maravilhosa, eu me pergunto sempre o por que não conheci ela antes...

Eu voltei ao normal da minha rotina. Depois da saída da outra empresa, eu recebi muitos pedidos, muita gente conhecia meu trabalho lá. O pouco tempo que fiquei, já deixei a minha marca ali. Sempre fui dedicada e esforçada com o meu trabalho.

Fiquei o dia inteiro desenhando e ajudando na junção dos tecidos.

Quando deu umas quatro e meia da tarde eu soube que Débora tinha chegado. Eu busquei ela até a porta e fomos até a minha sala.

Ela tava animada com vários papéis nas mãos.

— Mas e ai? - Perguntei.

— César disse que vai fazer TUDO o que ele conseguir para o projeto acontecer, ele disse que vai investir nisso. Por mim ele faz tudo! - Débora disse rindo.

Débora saia com ele por interesse. César era um Deputado do Rio muito famoso e casado.

Graças a Deus! - Falei suspirando. - Eu quero mostrar pro mundo que uma trans no palco, é tão normal quanto uma outra mulher qualquer! - Falei.

— Mas isso você pode acreditar que vai acontecer. Vai ter muitas trans vestidas com o teu nome desfilando por ai! - Débora disse.

Eu queria um outro projeto também, tentar ajudar os lgbtqia+, queria tentar mostrar as pessoas que isso é uma coisa normal.

Mas isso, eu já não sabia como fazer...

— Eu já escolhi as meninas, só falta eu falar com os envolvidos dos desfiles. Eu estou mega ocupada, sem tempo! - Falei.

— Deixa que eu resolvo isso também. Confia em mim e só movimente as coisas aqui, eu consigo qualquer coisa que seja pra fora! - Débora disse e eu assenti.

E isso eu realmente sabia, ela conseguiria qualquer coisa que ela fosse atrás. Débora era uma pessoa que conhecia muita gente e isso facilitava muitas coisas.

— Preciso ir, mas amanhã já começo a ir atrás disso tudo. Confia em mim, todos vão ver o quão normal é isso, e além disso tudo, vai ter o teu nome! - Débora disse se levantando e mandando um beijo de longe. - Se cuida! - Ela disse saindo da minha sala.

Eu fiquei encarando a parede e comecei a pensar em cada momento difícil da minha vida.

Eu me levantei na mesma hora. Liguei o abajur e posicionei o meu celular deitado. Apertei pra gravar e comecei falando.

Me apresentei, e comecei a contar a minha história, comecei a falar absolutamente tudo, dos abusos, dos obstáculos que tive que passar em ser uma mulher trans.

Deu quinze minutos eu falando, eu chorei na metade do vídeo. Tinha muita coisa que era cicatrizado, mas que se eu tocasse feria novamente.

Não editei, apenas postei no facebook na maior inocência e voltei ao trabalho.

*****

Fui embora e quando cheguei na barragem da favela vi que já era nove horas. Eu tava morta de cansada, se eu fiquei por trinta minutos sentada, foi muito.

Graças a Deus que Bazilho sempre me esperava na barragem. Ele me levava de moto até em casa.

Eu fui até ele e ele me encarava na maior cara de cachorro pidão.

— Oi gatão! - Falei dando um selinho nele.

Ele me abraçou forte e depois me soltou me encarando.

— Eu precisava te contar um bagulho... - Bazilho disse encarando o chão.

Fez merda...

• aperta na estrelinha •

Se enche de amor próprio ❤️

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