Dagmar
Trabalhei o dia seguinte todinho e quando estava voltando pra casa, du mudei minha rota e guiei pra casa do Tsunami.
Eu sabia bem aonde ele morava.
Bati uma, duas, três, quatro, cinco...
E logo ele abre, ele tava com as olheiras fundas, eu medi ele e ele me mediu.
— Posso entrar colega? -Perguntei já entrando.
Eu me sentei no sofá e fiz um coque vendo uma fileira de pó em cima do celular dele. Ele foi indo na maior lentidão até o outro sofá e se jogou.
— E ai? Vai ficar se drogando até quando? Você tá vendo a merda que tu tá fazendo contigo mesmo? Tá acabando com a tua própria vida Tsunami. - Falei me levantando e andando de um lado pro outro. - Eu não sou ninguém pra te cobrar dessas coisas, mas eu sou amiga da Cecília, e ela precisa de você, vocês se precisam. Tá achando o que Tsunami, tomou um tapinha na orelha e agora já tá achando que acabou sua vida, até usando crack tá! - Falei cruzando os braços e encarando ele que olhava pro nada.
O olhar dele tava longe, eu parei de falar e ele levantou o olhar lento.
— Eu fiz merda! - Ele resmungou.
— E eu então, comecei a merda quando me envolvi com o Tatão, depois disso só foi ladeira abaixo. Se eu soubesse nem em envolveria! - Falei negando. - A mulher dele veio pra me bater, a gente já saiu no tapa, e nem por isso eu deixei de ser quem eu era, não usei droga nenhuma, só me fortaleci. E sabe por que? Por que a gente cai uma vez, mas a gente não pode desistir não, a gente de levanta e recomeça da onde a gente caiu! - Falei.
Ele me encarava sério.
— Perdi o cargo! - Tsunami disse baixo.
— E daí? Você deixou a Cecília, a menina preferiu não casar e ficar contigo, ai você foge com ela, mata meio mundo e depois termina com a bonita por uma metida de tapa na cara. Cria vergonha na cara e seja homem, que papo é esse de ficar se afundando. - Falei indo até ele. - Levanta daí agora e vai dar um rumo na tua vida palhaço, eu em! - Falei puxando ele com tudo.
Ele me mediu com o olhão arregalado.
— Vai logo tomar um banho que eu e você vai ir falar com o Marcola, tá achando o que? Eu em! - Falei soltando ele.
Ele ficou por um tempo me olhando e saiu indo pra algum cômodo. Não demorou muito e eu ouvi o barulho do chuveiro.
Se a Cecília não teve esse passo eu tive!
*****
A gente tava perto da boca aonde Marcola geralmente ficava.
— O cara vai meter bala em mim. Não to tendo postura de vir sozinho, tu que tem que vir de acompanhante... - Tsunami falou.
— Marcola não tá matando nem formiga! - Falei negando.
A gente chegou lá e demos de cara com Marcola falando na ligação com alguém, quando ele viu Tsunami ele logo desviou o olhar e começou a olhar pra frente.
Paramos na frente dele e ele logo desligou o celular.
— O que tu quer Dag? - Marcola perguntou.
— É papo sério... - Falei suspirando.
Marcola mediu o Tsunami e foi indo pra sala dele, eu segui ele e fui me sentando no sofá.
— Manda o papo logo que eu não tenho cota! - Marcola disse.
Eu olhei pra Tsunami e ele me olhava.
— Vai Tsunami, abre tua boca! - Falei e eu negou. - Olha Marcola, o menino tá na merda, a Cecília tá sofrendo pra um caralho, a boca dele ainda nem tem ninguém como gerente. - Falei.
Marcola arqueou a sobrancelha.
— Tu que tem que vir mandar o papo pra mim? O boneco aê não consegue abrir o bico? Mas matar meio Rio de Janeiro sabe! - Marcola disse.
Até parece minha mãe jogando na cara.
“ Limpar a casa não sabe, mais beijar na boca e fazer coisa errada sabe ”
— To indo pra casa então, só não mata ele em, pelo amor Marcolictha! - Falei me levantando.
— Boa muié do Bazilho! - Marcola disse e eu encarei ele.
Ele fez uma cara de deboche e eu fui saindo.
Fui descendo a rua e logo vi o bonitão.
— Que Deusa é essa que to fitando! - Bazilho disse soltando a fumaça e me encarando rindo.
Eu ri e fui abraçar ele.
— Tava batendo um papo com teu coroa! - Bazilho disse.
— E aí? - Perguntei.
— Fui ameaçado de morte, mas Tranquilão, sogro liberou! - Bazilho disse dando um beijo na minha testa.
Eu maior de idade pedindo permissão pro meu pai.
• aperta na estrelinha •
Liberte-se dessa âncora que te prende e vá explorar o mar que existe, dentro de você. ⚓
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Libertinagem
Teen FictionEm uma sociedade totalmente preconceituosa, existe Dagmar, uma trans que corre atrás pelos seus direitos. Mas morando na favela, o que não tem é respeito, mesmo ela sendo filha de um dos traficantes mais temido do Rio de Janeiro.