Dagmar
Tatão falava algo no ouvido dela. E pelo jeito tava dando uma bronca.
— Só te falo a última coisa, na próxima eu te pego no beco, ninguém vai ver, vão começar a sentir cheiro ruim, e vai ser tu. Na próxima você se fode vagabunda. - Falei apontando o dedo e indo em direção a ela.
Bazilho me puxou com tudo.
— Relaxa o cu porra! - Bazilho sussurrou no meu ouvido.
Aleluia arrepiei.
Queria relaxar ele em outro lugar.
— Você não é maluca, não vem achar por que tu é filha do Orelha que tu pode tudo mona. Tatão também é meu marido, e tu me deve respeito! - Tati disse.
Eu gargalhei alto enquanto batia palmas.
Alguém fala pra ela?!
— E quem disse que eu não posso? Quem não pode alguma coisa é você amada. Tatão é só gerente da boca, meu pai é o braço direito da Rocinha. Antes de respeito, você deve criar é vergonha na cara! - Falei.
— Já chega caralho, bora mina! - Bazilho disse me puxando.
Eu puxei meu braço de volta e fui caminhando ouvindo a Tati falar algumas coisas. Mostrei meu dedo do meio e fui andando.
— Qual é? Talaricando é? - Ouvi a voz do Bazilho.
Eu me virei e revirei os olhos.
— Talaricar Tati pelo podre do Tatão? Me poupe né. - Falei voltando a andar.
Senti aquele puxão, ele encarava minha boca.
— E aquele trampo que a gente nem terminou? - Bazilho perguntou.
Eu medi ele e mordi a boca segurando o riso.
— Marca um dia ai, e depois me avisa. Tchau boy! - Falei dando uns três passos.
Ele me puxou com tudo dessa vez, as mãos dele segurava forte minha cintura.
Ai menina, minha pressão quase que cai.
— Jaé... - Ele disse dando uma fungada no meu pescoço e logo depois um beijo no pescoço.
Arrepiei legal.
Ele me soltou e eu fui andando, logo de longe avistei meu pai, ele tava parado dando cocaína pra uns nóia.
Eu guiei pra casa rápido. Tava um sol do caralho. Quase que derreto.
*****
Cecília
Me deitei na cama e João sentou do meu lado.
Eu tava estranha, eu não posso negar isso, mas tratando mal eu não estava.
O mínimo né.
— O que tá acontecendo amor? Você queria que eu viesse, tava empolgadona e agora tá assim... Te fiz algo? - João perguntou.
Eu tava tentando me enganar própria, eu precisava ter aquele sentimento que su tinha pelo João no começo.
Por que eu fui voltar pra cá?
— Ai, você tá viajando no mundo da lua pô! - João disse me cutucando.
— Tava pensando no nosso casamento! - Falei me sentando na cama.
Ele segurou na minha mão e beijou.
— Eu quero casar logo, minha família vai vir! - João disse.
Meu coração disparou, eu logo comecei a tremer.
— Logo quando? - Perguntei.
— Daqui uns dois meses, no máximo. O mais rápido possível. Você é a minha certeza, não quero ficar longe de você... - Ele disse. - Eu já to vendo alguns lugares pra gente casar! - João terminou de dizer e eu neguei.
Tá fácil então.
— Não dá. Parte das pessoas que vão não pode sair daqui da favela não. Em especial meu pai! - Falei negando.
— E meus pais? Como faz? Já tá sendo complicado mentir falando que seu pai trabalha com contabilidade! - João disse ficando de pé e passando a mão no rosto.
— E você não tá mentindo, ele trabalha com contabilidade mesmo! - Falei e me levantei também. - Eu vou casar aqui no morro. Não quero nada chique, quero num barracão! - Falei.
Ele não gostou nada disso. Saiu batendo o pé.
2 meses... Meu Deus, alguém me ajuda!
• aperta na estrelinha •
Que sua semana seja cheia de luz! ❤️
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Libertinagem
Ficção AdolescenteEm uma sociedade totalmente preconceituosa, existe Dagmar, uma trans que corre atrás pelos seus direitos. Mas morando na favela, o que não tem é respeito, mesmo ela sendo filha de um dos traficantes mais temido do Rio de Janeiro.