Dagmar
1 mês depois...
Eu tava voltando do barracão, levei vários alimentos arrecadados e produtos de higienes.
Tinha cerca de quase duzentas pessoas naquele barracão, recebendo todo amor e apoio do mundo.
Eu ia lá umas duas vezes por semana, tava combinando com a Amélia alguns projetos, ela estava louca pra vir ao Brasil e conhecer o meu espaço.
Uma das únicas de Nova York que eu quero levar pra vida.
Acabei saindo dos meus pensamentos com o meu celular vibrando. Eu peguei ele lendo a mensagem da Cecília.
Hoje era dia de pré natal, hoje ela iria saber qual sexo que era. Meio mundo achando que era menina, mas tava com cara mesmo era de menino.
Peguei um Uber e guiei pra favela. Subi direto pro postão. Cecília já estava lá na sala de espera.
— Último palpite? - Cecília perguntou.
— Ainda fico com o palpite que é menino! - Falei.
— Eu não sei se eu dou conta se for menina, caralho Dagmar, imagina minha filha fazendo todas as merdas que eu e tu fez? - Cecília disse se abanando.
— Ué, e se for menino? Tu não vai pensar não? Menino as vezes faz mais merda que menina. É só ter diálogo, isso basta! - Falei e ela concordou.
A porta abriu, veio aquele doutor que devia ter fundado a Rocinha de tão velho que era, ele era o único ginecologista e obstetra dali.
— Cecília Maria Monteiro Pinto? - Ele chamou e Cecília se levantou entrando.
Eu fui indo atrás.
Cecília foi se deitando na maca e ele foi já pegando aquela máquina de ultrassom.
— E ai dona Cecília, como anda as coisas? - Ele perguntou passando aquele gelzinho na barriga dela.
— Ai que gelado. - Cecília disse rindo. - Tá tudo bem, senti menos enjôos, to tomando as vitaminas que você disse! - Ela disse.
— E o que vocês estão achando que são? - Ele perguntou passando o ultrassom na barriga dela.
— Todo mundo acha que é menina, uns três, quatros que acham que é menino! - Cecília disse.
— Pra mim é menino! - Falei. - Tu tem cara de filho homem! - Falei puxando a cadeira e sentando.
Doutor deu um leve risinho e colocou de volta o ultrassom. Ele deu o papel para a Cecília e encarou ela.
— E ai doutor? - Cecília perguntou.
Ele congelou aquela imagem do bebê.
— Tá vendo essa parte aqui? - Ele perguntou e Cecília respondeu com “aham”. - Essa é a torneirinha do teu meninão! - Ele disse sorrindo.
Ah mas eu logo pulei da cadeira e abracei o médico.
Eu logo soltei ele e agarrei Cecília que já chorava sem parar.
*****
Fui pra casa da minha mãe e busquei Thales. Cheguei em casa vendo que tava ficando do jeito que eu gosto.
A gente mudou tudo ali da casa, eu sou uma pessoa que gosto de decoração, mas pelo Bazilho, ele não tá nem ai com nada.
— Tua vô tá te enchendo de comida, ô mania de vô, pelo amor de Deus! - Falei colocando ele sentado no sofá.
Eu troquei de roupa e fui pra sala pegando Thales e indo pra cozinha. Peguei uma banana, comi metade e dei metade pra Thales que comeu sem parar.
Meu Deus.
Ouvi a porta abrir e encarei Bazilho entrando todo emburrado.
— Papai! - Thales disse querendo descer.
Eu coloquei no chão e ele foi correndo até Bazilho.
Puxa saco.
— E ai filhote! - Bazilho disse pegando ele no colo e dando um beijo na testa dele.
— E essa cara emburrada em? Brigou com quem? - Perguntei cruzando os braços.
— Coisa da boca! - Ele disse e eu assenti indo tomar banho.
Difícil ter criança pequena. Na hora de tomar banho tem que sempre levar junto no banheiro.
Eu tomei um banho rápido e sai colocando um camisetão e uma calcinha por baixo.
— Sasi veio te procurar? - Bazilho perguntou.
Eu me virei encarando Bazilho com aquela cara de bravo.
— Sasi? - Perguntei e ele assentiu. - Não por que? Por isso dessa tua cara emburrada? O que aconteceu? - Perguntei.
— Ele tava falando com o Tsunami sobre tu, das antigas. - Ele disse. - Já dei o recado pra ele! - Bazilho disse.
Eu medi ele de cima a baixo e ri pelo nariz.
— E tá bravo por isso? Acha mesmo que se ele vir de papo eu dou mole? - Perguntei com um tom de deboche.
— Tu não, sei que tu não faria isso. Mas to ligado em como ele é sujo. - Bazilho disse vindo me abraçar.
— Para de se emburrar por pouca coisa cacete, tu fica ai perdendo teu tempo com galera que nem merece o cu que tu caga! - Falei me afastando dele.
Ele assentiu e foi saindo do quarto.
Nem lembrava que Sasi existia.
• aperta na estrelinha •
Uma semana cheia de novas oportunidades! ❤️
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Libertinagem
Teen FictionEm uma sociedade totalmente preconceituosa, existe Dagmar, uma trans que corre atrás pelos seus direitos. Mas morando na favela, o que não tem é respeito, mesmo ela sendo filha de um dos traficantes mais temido do Rio de Janeiro.