Dagmar
Fui trazendo as minhas duas malas até perto da sala. Bazilho olhava cada movimento meu.
Eu me virei pra ele e ele segurava Thales.
— Você tem certeza que eu posso ir tranquila? Você vai me ligar qualquer coisa que acontecer? - Perguntei.
Meu coração batia forte, eu estava nervosa.
— Relaxa mulher, qualquer papo tua mãe fica com ele. Tá comigo, tá com Deus! - Bazilho disse fazendo o sinal da cruz.
Eu assenti indo até ele e abraçando.
— Se eu pudesse eu levava ele! - Falei me referindo a Thales. - Eu te amo! - Beijei Bazilho e me afastei pegando Thales no colo. - Mamãe vai viajar, mas juro que volto, eu te amo tanto... - Falei beijando a testa dele e entregando a Bazilho.
Eu me afastei encarando os dois e fechei os olhos sentindo aquelas borboletas na barriga.
— Eu amo tu, relaxa que vai dar tudo certo pô. To torcendo aqui! - Bazilho disse e eu assenti.
Quem ia me levar era minha mãe. Eu sai de casa dando de cara com a minha mãe na frente de casa com o carro.
— Teu pai vai ficar louco quando souber que peguei esse carro, ele falou pra mim não relar a mão. - Minha disse vindo pegar minha mãe. - E desde quando homem manda em mim? - Minha mãe dizia rindo.
Eu coloquei a outra mala e olhei Bazilho que tava na porta.
Ele fez a metade de um coração e eu fiz a outra.
— To te esperando pra casar em, tu voltando a gente casa gata! - Bazilho disse alto sorrindo.
— Me espera em, é só uma semaninha! - Falei sorrindo.
Ele assentiu e eu entrei no carro junto da minha mãe.
Minha mãe deu partida e eu encarei pra trás vendo Bazilho acenando.
Eu fechei os olhos e virei pra frente.
Até parecia que eu estava fugindo.
— Tá tudo tranquilo filha? - Minha mãe perguntou.
Eu abri os olhos e suspirei.
— Tá, eu só to um pouco nervosa! - Falei suspirando.
— Calma, já deu tudo certo, você conseguiu, pense nisso. - Minha mãe disse colocando a mão na minha coxa e dando leves batidinhas. - Você é o meu maior orgulho. Veja o que tu conseguiu, tu tá indo pra fora do Brasil mostrar as tuas roupas, mostrar quem é a Dagmar, quem você sempre quis mostrar pra todos! - Ela dizia enquanto dirigia.
E ela tava certa, eu sempre quis, sempre foi um sonho e graças a Deus eu tava conseguindo. Era uma sensação estranha, uma mulher trans, da favela, formada e indo conquistar o teu maior sonho, mostrar pra todos uma estilista trans, mostrar meus looks que ralei.
****
Eu tinha embarcado, já fazia seis horas que eu estava no vôo. Era por volta das três da manhã.
Eu tinha pego o vôo umas nove e meia da noite. Eu tinha dormido, tinha comido, mas a minha mente tava no Rio.
Eu não parava de pensar em tudo.
— Tá pensativa demais em, tá querendo desisitir? - Débora perguntou me cutucando.
Eu encarei ela.
— Não, eu cheguei até aqui, agora eu vou continuar! - Falei firme.
Era o que eu queria.
— Pelo amor em, olha o que tu já conseguiu, fé e foco! - Débora disse beijando a minha cabeça.
Eu assenti e Fechei os olhos.
Acordei só com o choro de alguma criança, eu abri os olhos e me assustei.
Achei que era Thales.Encarei o relógio e já era sete da manhã.
Dormi em...
Me levantei querendo ir no banheiro e encarei Thamara no maior papo com um cara que parecia alemão.
Eu neguei rindo e fui direto pro banheiro. Molhei meu rosto e fiz xixi, eu estava cansada já, eu queria uma cama pra dormir.
Quando eu voltei pro meu lugar, Débora digitava no notebook dela.
Vai demorar muito pra meio dia?
Aliás, no Brasil seria meio dia, em Nova Iorque seria as dez da manhã.
Queria ver mesmo eu lembrar que são três horas de diferenças.
*****
Eu não acreditei quando chegamos. Eu fui andando bambeando no aeroporto, aqueles gringos me encarava.
Óbvio olha a cara de brasileira.
Fomos caminhando até ler uma placa com o meu nome.
Meu Deus é agora...
• aperta na estrelinha •
Boa semana! ❤️
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Libertinagem
Teen FictionEm uma sociedade totalmente preconceituosa, existe Dagmar, uma trans que corre atrás pelos seus direitos. Mas morando na favela, o que não tem é respeito, mesmo ela sendo filha de um dos traficantes mais temido do Rio de Janeiro.