Miriã
Deitei no sofá e ouvi a porta abrir com tudo.
- Tu olha um bagulho, Curió matou um cara! - Marcola disse rindo.
- Ah me poupe de detalhes. E quanto você fica vendo o que os outros tá fazendo, tua filha fica matando aula pra ir cheirar! - Falei me levantando.
Marcola parou, ele ficou me encarando tentando raciocinar.
- Que papo é esse Miriã? Cecília cheirando? - Marcola disse fechando a cara.
Odiava essa cara de tosco dele, pensa que me da medo.
- É Marco, e eu já disse pra ela que eu não quero ela com aquela tal de Paola, essa menina vai afundar a Cecília! - Falei indo pra cozinha.
Christian comia igual um morto de fome.
Não dava nem pra falar que não era do Marcola, rascunho dele.
- Cadê ela? - Marcola perguntou.
Eu fiz feia e sai da cozinha. Marcola veio atrás e eu entrei no quarto fechando a porta.
- Ela saiu com Dagmar. Dag que trouxe ela aqui. - Falei me sentando na cama.
Ele sentou e suspirou.
- Eu vou pegar ela de jeito, que papo é esse de cheirar. Esse caminho é sem volta, tu acha que pode parar quando quiser, mas não é assim não cara, é uma ciladona que quem entra fica perdido, além de perde tudo! - Marcola disse e eu assenti. - Eu vou falar com ela, relaxa aê minha boneca! - Ele disse beijando meu pescoço.
*****
Dagmar
Fui voltando com o açaí e quando vi um já tava em cima do outro.
Coragem dela de se atracar na frente desses boca aberta.
Eu passei do lado deles, e eles tavam em uma pegação do caralho. Mão no coiso, e coiso na mão.
Sentei um pouco afastada deles. Fiquei comendo meu açaí enquanto via alguns meninos já entrarem no campo. Logo vi a mulher de Tatão chegando sozinha com uma amiga que parecia uma lombriga.
Ela ficou me encarando com a cara fechada.
Quem vê eu quero aquele maridinho dela.
Ela sentou do outro lado, de frente pra mim.
E cê acha que to preocupada com a cara feia dela? To preocupada em quando acabar meu açaí.
Tatão veio vindo em minha direção. O sonso ainda não tinha visto a corna na mulher.
- Tatão! - Ouvi a voz estridente da corna.
Ele virou com tudo. Ele disfarçou arrumando o shorts e foi indo na direção dela. Logo Tsunami largou de Cecília.
- Glorificamos de pé né amados e amadas! - Falei vendo ele vir em minha direção com um sorrisão.
Ele tinha um dente de ouro.
Meu sonho de princesa.
- Valeu aê, te arranjo o nego hoje pirua! - Tsunami disse.
Eu dei um tapa nele.
- Que intimidade é essa viado, eu em, adorei, continua! - Falei batendo palmas.
Ele me abraçou e saiu.
Ih, o bandido mal não tem vergonha de abraçar na frente dos pé rapado?
Cecília veio pro meu lado, se sentou e arrumou o shorts.
- E ai amiga, é grande? Eu vi sua mão segurando na calabresa dele, eu até me emocionei na hora! - Falei.
Ela gargalhou alto.
- Pensa num calabresão. - Cecília disse e eu me abanei.
*****
Cecília
Dag me levou como sempre em casa. Eu sou filha do Marcola, mas ela sempre fica mais aliviada quando me leva até em casa, ela tem medo que mesmo assim aconteça alguma coisa.
Eu amo a Dag. Queria que todos tivessem uma Dag na vida de vocês.
Eu entrei em casa e assustei com meu pai com uma cinta na mão.
É agora que o couro come.
Eu parei na porta e ele continuou sentado.
- Que parada é essa de Cocaína? - Meu pai disse.
Não passou nem um ar no meu cu.
- Foi um vacilo. Não vai acontecer mais pai, me perdoa mesmo! - Falei.
Ele largou a cinta.
- Eu não vou te bater não ou, queria fazer medo, mas eu não consigo, contigo eu não consigo Cecília. Por mim tu não seria criada aqui, nem tu e nem teu irmão, é muita maldade cara, colocava vocês dois morando num sítio pra carpir mato, ai sim ia dar valor pras coisas. - Meu pai disse sério. - Eu sei como é o mundo das drogas, não me orgulho dos bangue que já usei. E eu não quero ver tu perder tudo por vacilo teu. Parece maravilha quando tu usa, mas tu destrói contigo mesmo, ninguém quer ficar perto desse tipo de gente não Cecília. A cocaína te corrói e quando tu vê, tu tá na merda! - Ele disse.
Eu já tava em lágrimas, eu de verdade tinha me arrependido. Eu abracei ele e ele se afastou me encarando.
- Eu espero que tu nunca mais decepcione eu e tua mãe, igual tu decepcionou hoje. Não quero tu andando com a mina lá, tu se toca com quem tu se envolve e as negada que te quer mal. - Ele disse.
Tem certas palavras que dói mais que um tapa.
• aperta na estrelinha •
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Libertinagem
Teen FictionEm uma sociedade totalmente preconceituosa, existe Dagmar, uma trans que corre atrás pelos seus direitos. Mas morando na favela, o que não tem é respeito, mesmo ela sendo filha de um dos traficantes mais temido do Rio de Janeiro.