Dagmar
Dias depois...
Coloquei meu vestido colado no corpo e uma rasteira qualquer.
Eu que não ia ficar de salto.
Passei de novo um spray no sobaco né amigas, pra não ficar com a cebolona de baixo do braço.
Peguei meu celular e fui guiando pra fora de casa. Meus pais já tinham metido o pé pro pagode, em minutos eu tava lá marcando presença.
Fui entrando indo direto pra barraca pegar um copão de whisky com energético.
- Rainha da Rocinha! - Ouvi uma voz no meu ouvido e encarei vendo Tsunami.
Eu fiz um toquinho com ele.
- E ai? Cadê a tua mulher, quero conhecer! - Falei.
Ele riu e apontou com o copo pra um canto do pagode.
- A de shorts branco! - Ele disse.
Eu encarei a menina e vi ela com uma outra menina.
Feia não era, eu já tinha visto ela pela favela. Se eu não me engano a menina era da igreja. Ela só usava saião.
- Bonita ela! - Falei dando um gole na bebida.
- Ela é firmezona tá ligada? Mas ela não é a Cecília! - Ele disse.
Eu estalei os olhos e coloquei a mão na boca.
Eita porra.
- Sempre a mesma parada né? E por que continua com a menina? A menina tem cara de firmeza mesmo, para de querer enganar teu coração pô, a Cecília tá na mesma, e eu nem devia tá falando disso! - Falei.
Ele levantou os ombros e fez uma cara.
Eu deixei ele lá e fui indo até Cecília.
- O que ele disse? - Cecília perguntou.
- Nada, e o João? - Perguntou cortando ela.
- Falei com ele agora de pouco, amanhã ele vem! - Cecília disse.
Eu tinha certeza que amanhã ele vinha pra falar com Marcola.
Marcola que lute.
- Você tem certeza? - Perguntei.
Ela mordeu a boca enchendo os olhos de lágrimas e negou saindo dali e indo pro banheiro.
Neguei dando um golão da bebida e logo vi entrar no pagode quem eu não via a anos.
Sasi e a mulher.
Ela tava diferente, tava mais magra, mas ainda continuava linda. Agora ele, tava mais tatuado, o cretino tava mais gostoso, mas nem atração existia mais da minha parte, ele foi ótimo em tudo, menos na parte de respeito.
Se fosse comigo eu não ia gostar de bofe meu de rosco com as outras negas não. O que eu não quero pra mim, eu não faço pras outras não.
Ele foi caminhando na frente e ela um pouco atrás. Ele rodou o olhar pelo lugar e logo me olhou, ele fixou os olhos em mim, ele tava surpreso em ver, eu logo me fingi a de sonsa e virei o rosto sambando.
- É uma doce loucura, saudade que dura uma eternidade, éviver na vontade de te ver novamente, reviver nosso amor enfim... - Cantei sambando.
Ô inferno de música.
Me virei e ele ainda me olhava. A mulher dele havia percebido, eu me fiz a Kátia. Fui saindo dali de perto e guiei pra fora trombando com alguém.
Derrubou o resto da minha bebida.
- O caralha, abre o olho pra andar! - Falei alto encarando.
Eu medi ele e ele fechou a cara na hora.
- Tu me molhou todo porra. Tu é maluca?! - Bazilho disse me olhando.
Eu revirei os olhos e mostrei o dedo. Fui me afastando e senti puxar meu braço.
- Cria do Orelha né? - Bazilho perguntou. - Usa óculos pra ver se enxerga pra andar! - Ele disse.
- Vou precisar pra ver esse teu pau pequenininho! - Falei com a minha cara de deboche.
O bofe ficou putasso.
• aperta na estrelinha •
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Libertinagem
Teen FictionEm uma sociedade totalmente preconceituosa, existe Dagmar, uma trans que corre atrás pelos seus direitos. Mas morando na favela, o que não tem é respeito, mesmo ela sendo filha de um dos traficantes mais temido do Rio de Janeiro.