Dagmar
Era coisa de tempo, eu falei pra gente ir com calma, mas o que esse sonso entendeu que era pra gente ir parando.
Ele que se foda também, o problema é dele se perdeu a carne mais suculenta do açougue.
Terminei de comer aquele paxtelzinho com Curió e meti o pé pra casa de volta, escovei meus dentes e fiquei enrolando até dar a hora.
Meu pai quis chegar cedo lá, e eu acompanhei eles.
Pensa em um baile lotadão.
Eu fui pro camarote e logo Cecília chegou, ela veio pro meu lado e me deu um beijo na bochecha.
A gente tava voltando como nossa amizade era, mas ainda Cecília sempre pedia desculpas, ela sabia da merda que tinha feito.
— Tu viu o Bazilho com uma morenona lá em baixo? - Cecília perguntou e eu assenti.
Eu tinha visto mas ele não me viu, ela tava bebendo e ele fumando.
— Eu? Eu não lembro nem quem é mais Bazilho! - Falei dando de ombro.
Fui direto pra barraca, peguei uma latinha de cerveja e voltei pra grade rebolando.
— O que rolou em? Tu tava animadona! - Cecília disse.
— Eles estavam abraçados na maior intimidade... Eu já devia esperar, dei muita bola pra ele! - Falei negando.
Mas agora quem vai aproveitar vai ser eu!
Virei a latinha e logo fui pegar outro copão.
Quando voltei, Bazilho já estava no meio da rodinha com os envolvidos.
A menina que tava com ele, dançava ali na grade, Cecilia tava meio perto dela, Cecília encarava a menina na maior cara dura.
Eu não podia negar, a menina arrasava no rebolado. Bazilho as vezes me dava umas olhadas, mas eu me fazia a que não tava vendo.
— Eu vou descer, aqui é morto! - Falei tomando um gole.
— Vamos! - Cecília disse.
Cecilia pegou meu copão e acabou derramando a bebida tudo em cima da menina.
— Ai amor, desculpa! - Cecília disse com a mão na boca.
A menina tava toda ensopada.
Eu neguei com a cabeça, Cecília não devia ter feito isso, o bagulho era eu e o Bazilho.
— Tu tá cega caralho? - A menina disse alto.
— Ou, ela te pediu desculpas mona, releva! - Falei.
— Desculpas o caralho! - Ela disse deixando o copo dela no chão.
Ah mas eu mereço essa.
— Tu abaixa tua crina aê bonitona, ela te pediu desculpas, se tu não aceitou, tu enfia no cu então! - Falei fechando a cara.
Ela fechou a cara e colou a cara na minha, logo eu senti aquele puxão, era Bazilho entrando no meio da gente.
— Que bagulho feião é esse Eduarda? Te trouxe aqui, mas é pra tu ficar na tua pose mano, qual foi porra? - Bazilho disse olhando pra menina.
Eduarda cara de capivara.
Ele me olhou e eu revirei os olhos.
— E tu? Qual foi? - Ele ia dizer e eu cortei.
— Vem com lição de moral não, tu se resolve ai com teu presente de Deus! - Falei saindo de perto.
Fui saindo ali do camarote e fui direto pro banheiro. Fiz meu xixi e quando sai eu sentei no chão.
— Mano ele é um ordinário, por que falou aquela merda aquele dia? Tava possuído pelo prazer era? Filho de uma puta ele! - Falei suspirando e pegando o copo da mão da Cecília.
Tomei aquele golão, e pra mim não fez efeito nenhum. Eu fechei os olhos lembrando de São Paulo, e logo ouvi alguns passos, eu abri os olhos e vi Bazilho com um cigarro na boca.
— Posso bater um papo contigo? - Bazilho disse.
— E tu tá aqui fazendo o que? Ela não quer falar contigo, olha a merda que tu fez! - Cecília disse.
Eu me levantei e encarei bem ele.
— Contigo eu não tenho nada pra falar! - Falei saindo mas ele segurou no meu braço.
— Tu tá em outra dimensão pô. Deixa eu te explicar! - Bazilho disse.
— Cecília pode ir! - Falei.
Cecília foi e eu encarei ele de braços cruzados.
— Tu não tem direito nenhum de abrir essa tua boca, tu é um sem vergonha, pediu pra gente ficar juntos e depois vem com essa daí, não to te cobrando não, só to te mandando a real. - Falei suspirando. - Mas eu torço muito, que você seja feliz, eu to é querendo distância de macho escroto igual a você! - Falei dando dois passos.
Ele me puxou de volta e jogou a bituca de cigarro no chão.
— Eu amo tu! - Bazilho disse.
— Ama o caralho! - Falei tentando empurrar ele.
Ele me segurou firme, a gente ficou colados.
— A Eduarda é minha irmã caralho, para de graça! - Bazilho disse.
— É? Eu duvido! - Falei.
Ele me puxou com tudo. Fomos indo até o camarote, meu pai ficou só fitando tudo. Chegamos perto da menina que já tava sentada de cara fechada.
— O que tu tá fazendo com essa puta? - A menina disse.
— Eduarda, o que a gente é? A gente namora? - Bazilho perguntou.
— Que namorar o que, tá doido porra! - Ela disse. - Irmãos por que? Tua namoradinha não acredita? - Ela riu e eu mostrei o dedo do meio.
Sai dali voada, comecei a descer as escadas e logo senti puxarem meu cabelo.
— Meu cabelo não! - Falei me virando metendo um soco no saco.
Quando vi era Bazilho.
— O porra! - Ele disse com a mão no pau dele.
Quem mandou relar nos meus cachinhos.
— Vem fazer uma massagem com a boca agora... - Bazilho disse e eu mostrei a língua negando.
Ele sorriu e eu fechei a cara. Ele desceu mais um degrau e me abraçou.
— Tu jura que é mesmo tua irmã? - Falei.
— Ela mesmo disse, te juro Dagmar, não trocaria esse mulherão ai não! - Ele disse e eu neguei rindo.
Ele colocou a mão no meio do meu cabelo e me puxou me beijando.
— Sabia! - Ouvimos uma voz.
A gente se afastou e era meu pai nos olhando.
• aperta na estrelinha •
Que você durma muito bem!!! ❤️
VOCÊ ESTÁ LENDO
Libertinagem
Teen FictionEm uma sociedade totalmente preconceituosa, existe Dagmar, uma trans que corre atrás pelos seus direitos. Mas morando na favela, o que não tem é respeito, mesmo ela sendo filha de um dos traficantes mais temido do Rio de Janeiro.