Dagmar
Eu fui direto pra casa, nem tomei banho e cai na cama. Eu tava tão cansada.
Quando acordei eu me levantei e fiz minha rotina como sempre, sai do banho e fui indo pra fora de casa. Tava um solzão do caralho. Eu me sentei na porta de casa, e logo avistei Curió de longe. Ele foi entrar em um beco e quando em viu, veio vindo sorrindo.
— E aê barraqueira, nem deu um toque! - Curió disse beijando minha cabeça.
— Eu nem ia tirar satisfação, mas ela tava tirando com a minha cara! - Falei encarando as crianças brincando de mãe da rua.
Ele negou com a cabeça.
— Quem tirou com a cara do teu macho é a Tati! - Curió disse e eu encarei ele. - Tá sendo cobrada depois de mo cota! - Curió disse acendendo um baseado.
Eu olhei pra ele lentamente e ele assoprou a fumaça.
— To metendo o pé, logo Marcola manda radinho! - Curió disse e vazou rapidinho.
Vem pra deixar recado e não termina!
Eu levantei e fui caminhando pra dentro de casa, eu precisava terminar de planejar o meu projeto.
Eu não queria depender de homem, ainda mais do Bazilho, mas eu precisava de um grande passo e ele estava me dando.
Eu fui pro meu quarto e comecei a escrever algumas coisas no caderno que eu usava pra anotação. Minha mente tava acelerada, eu só pensava no Bazilho, na Tati e na cobrança. Eu falei na hora da raiva, eu tava ligada que era um bagulho que ele tinha que cobrar ela, mas eu preferia não saber enquanto acontecia isso.
*******
Sai direto pra comprar açaí, eu tava morta de vontade.
Se eu tivesse um útero, eu logo falava que era gravidez.
Fui comprei e quando me sentei na pracinha veio o Tatão correndo na minha direção.
— Mano, da uma atenção na humildade! - Tatão disse abaixando na minha frente.
Eu continuei com a atenção no meu açaí.
— Tu nunca curtiu esses bagulho de morte, e tu sabe, o Bazilho tá lá com a minha mulher, ninguém tá entrando lá, ele tá a horas lá caralho! - Tatão disse com um semblante de "socorro".
Eu levantei totalmente meu olhar a ele, deixei meu açaí no banco e suspirei.
— Não curto não, mas sou a favor de cobrança. Se a pessoa errou, ela tem que pagar, seja lá quando for. E tu tá sabendo que faz tempo esse b.ozão todo, uma hora ou outra ia acontecer. - Falei piscando pra ele.
Ele negou a cabeça.
— E daí pô? Bazilho tinha que superar esse bagulho todo, ela tá comigo e ele tá contigo, faz mo cota esse bagulho e ele ainda tá cobrando por uma treta de quando eles estavam juntos! - Tatão disse pegando a pistola da cintura e segurando firme.
Eu encarei aquela pistola e ele ficou me encarando firme.
— Se eu perder ela, você perde ele! - Tatão disse se levantando e destravando a arma.
Ele começou a andar rápido e subiu.
Eu me levantei engolindo seco. Eu fiquei ali parada tentando raciocinar e comecei a correr atrás dele, mas nada de Tatão.
Eu comecei a tremer enquanto pegava meu celular e ligava pro meu pai. Ele não atendia, eu comecei a subir procurando ele na biqueira que ele ficava e nada de achar ele.
O jeito era ir atrás do Curió, ele saberia aonde meu pai ia estar.
E não demorou muito pra achar, ele tava cobrando de uns nóias.
— Curió, cadê meu pai? - Perguntei.
— Não sei! - Curió disse pegando dinheiro.
Eu encarei o radinho do Curió e peguei.
Ele me encarou negando e eu apertei.
— Paiiii! - Falei alto.
O Curió pegou o radinho da minha mãe e me encarou sem entender.
— Qual foi cara? - Curió perguntou arqueando a sobrancelha.
— O Tatão tá indo matar o Bazilho caralho! - Falei alto.
Todos que estavam passando me olhava.
Curió não pensou duas vezes, deixou os noias e foi caminhando rápido. Eu comecei a andar atrás dele, ele foi na boca aonde o Marcola gerenciava, e lá estava meu pai, ele ria com o Marcola.
— Tatão vai cobrar do Bazilho! - Curió disse.
Meu pai me encarou e depois olhou Curió.
— Que papo é esse Curió? - Marcola perguntou se levantando e sem entender.
— Tatão disse que se Bazilho matasse Tati, ele mataria Bazilho! - Falei.
Marcola foi o primeiro a sair voado, meu pai saiu destravando a arma e seguindo Marcola.
Eu comecei a ir atrás, parecia não ter fim, quando chegamos naquele quartinho a porta não abria, Marcola começou a bater e falar que era ele, demorou um pouco e logo Bazilho abriu.
Ele tava sem camiseta, a bermuda com algumas manchas de sangue. Meu pai, Marcola e eu entramos com tudo.
— Vaza daqui Dag, tu num tem que ver esse bagulho! - Marcola disse.
Eu fiquei ali parada encarando Tati.
Ela tava no chão, ela tinha tomado uma bela de uma surra, o cabelo raspado, cheia de sangue, os olhos nem abriam.
— Eu vou matar agora! - Bazilho disse.
Eu olhei mais pra ela e me perguntava...
Se aquilo não era estar morta, imagine viva.
— Tatão tá atrás de tu! - Marcola disse.
Bazilho deu de ombros.
Bazilho destravou a arma e apontou pra ela. Eu ouvi um leve gemido da Tati e fui saindo por que eu não queria ver.
Quando eu fechei a porta e me virei dei de cara com Tatão. O olho dele tava estraladão, tava drogado.
— Deixa eu passar caralho! - Tatão disse me empurrando com tudo.
Ele foi entrando e eu entrei atrás.
— Tu tá matando os meus sonhos, e eu vou matar o dela! - Tatão disse apontando pra mim e levantando a pistola.
Parecia câmera lenta, eu me joguei na frente enquanto meu pai e Marcola sacaram a arma pra Tatão.
Eu ouvi aquele disparo, vi em câmera lenta a bala vir em minha direção, quando senti arder meu peito, eu acabei caindo no chão.
Eu fechei meus olhos e ouvi últimos disparos...
• aperta na estrelinha •
Seja leve! ❤️
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Libertinagem
Ficção AdolescenteEm uma sociedade totalmente preconceituosa, existe Dagmar, uma trans que corre atrás pelos seus direitos. Mas morando na favela, o que não tem é respeito, mesmo ela sendo filha de um dos traficantes mais temido do Rio de Janeiro.